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Em meio a pandemia, chefs de Brasília compartilham cases de sucesso

A aposta em novos produtos pensados para o delivery aliada a ações solidárias fizeram alguns empresários perceberem altas nas vendas

atualizado

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Norma Mortenson/Pexels
Entregador de pizza, usando máscara, entrega pizza a cliente
1 de 1 Entregador de pizza, usando máscara, entrega pizza a cliente - Foto: Norma Mortenson/Pexels

Com cerca de 14 mil demissões e mil bares e restaurantes fechados definitivamente em todo Distrito Federal, a crise no setor de alimentação está longe de acabar. Por outro lado, algumas casas conseguiram manter boa parte do quadro de funcionários e reinventar o serviço de restaurante para manter as contas equilibradas. Fiando-se a novos produtos, pensados especialmente para o formato delivery, alguns chefs da cidade sobreviveram aos primeiros meses da pandemia do novo coronavírus e registraram sucesso de vendas.

O chef Gil Guimarães lançou um novo negócio em meio à pandemia: o delivery de cachorro-quente Franks. “Eu já tinha o hot dog no menu do Parrilla: tinha o pão, tinha a salsicha. Expandi e deu certo. Se não tivesse acontecido a pandemia, acho que não teria executado esse plano em 2020. A gente abriu as portas da Casa Baco em 17 de fevereiro, fechamos um mês depois. Não tinha feito nem inauguração. Com certeza, se nada disso tivesse acontecido, eu não teria nem cabeça para pensar em outra coisa. O plano estaria guardado para outro momento: o Franks nasceu prematuro, mas acabou sendo a escolha certa para esse momento”, comenta o cozinheiro.

Outro lançamento da quarentena foi o Strogonoff do Paulo Tarso: o chef por trás dos restaurantes Rubrio e Mosaico planejava o serviço há meses e viu, em meio ao fechamento do comércio, que a ideia poderia dar certo. O delivery funciona das 11h às 15h, diariamente, com porções de estrogonofe, arroz e batata palha artesanal que podem servir de 1 a 4 pessoas. “Existem modelos de prato único que bombam, tipo a pizza Dom Bosco e o L’Entrecôte de Paris. Eu via potencial e resolvi tirar a ideia do papel”, argumenta Tarso.

Para ele, outro elemento foi importante para o equilíbrio das finanças: as cestas de Dia das Mães e Dia dos Namorados. “Quando estamos abertos, esses são os dois dias com maior movimento. Sabemos que o público está em casa, não pode sair, mas quer consumir. As pessoas sentem falta dessas ocasiões especiais e está cada dia mais evidente, basta observar os novos negócios pela cidade”, opina o chef, que vendeu todas as cestas, nas duas ocasiões, semanas antes das datas.

O chef Marcelo Petrarca também colocou em execução um plano que considerava há algum tempo: refeições congeladas. O projeto estava começando a tomar forma quando veio o fechamento do comércio. “Era para lançar nos 6 anos do Bloco C, em 2021. Quando veio o decreto, tomamos duas decisões: montamos o delivery das casas em 48 horas e aceleramos o projeto dos congelados. Em pouco mais de 10 dias, conseguimos lançar 7 pratos”, lembra o cozinheiro.

“Foi um esforço de equipe, é claro, por causa do momento, mas também porque eles acreditam nos nossos projetos. Minha meta é não mandar ninguém embora e se Deus quiser, vou cumprir. Conversei com os líderes de salão e de cozinha, e cada um foi trabalhando a própria equipe. É difícil motivar o outro sem estar motivado, é difícil entrar no restaurante fechado, com as cadeiras em cima das mesas. É um momento delicado, de trabalho no dia-a-dia. Acho que nessa pandemia, o trabalho de equipe diz muito mais sobre ânimo, sobre um motivar o outro, que qualquer outra coisa”

Marcelo Petrarca
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Solidariedade

Nos primeiros dias com o comércio fechado, fazendo delivery pelas ruas de Brasília, Gil Guimarães viu que a alimentação seria um problema grave durante a crise. O chef tratou logo de entregar pizzas para pessoas em situação de rua e trabalhadores que passavam pela Rodoviária do Plano Piloto. “Era uma angústia: eu ia comprar ingredientes para a Baco, ficava olhando para o cara que fica ali vendendo suco de laranja, vendendo frutas na calçada. Como esses caras iam fazer? Ainda não tinha nada definido, se ia ter lockdown, quanto tempo ia durar… Isso me chocou, pensei no que poderia fazer, em como ajudar e tentar sobreviver nessa loucura toda”, lembra o cozinheiro.

Esta foi a primeira ação solidária de Gil: depois disso, se uniu a cozinheiros do DF, de São Paulo e do Rio Grande do Sul para uma ação beneficente voltada para moradores de rua. “Era o arroz solidário: a cada prato de arroz com linguiça caipira que vendemos, doamos outro”, lembra. Em seguida, o cozinheiro se uniu ao Governo do Distrito Federal (GDF) para distribuir porções do prato a entregadores, que também ganharam álcool em gel e máscaras. Na sequência, participou da venda do voucher solidário do Cerrado no Prato e do Instituto Proeza, que destinou doações a agricultores familiares e a mães em situação de vulnerabilidade.

 

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“Incentivando, cada um fazendo um pouco, dá para fazer muita coisa. Eu acho importante divulgar esse tipo de ação, nunca pensei em não contar por medo de alguém pensar que eu poderia me aproveitar disso para ganho pessoal. Tem que divulgar, incentivar, não podemos ter vergonha de ajudar”, defende o chef.

Marcelo Petrarca também lançou uma campanha solidária: a cada prato vendido, ele doa uma marmita a pessoas em situação de rua. “A resposta do delivery foi sensacional por causa disso: já batemos 8 mil marmitas desde o início da ação”, comemora.

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