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Velório de Roriz dura 17 horas e reúne família, populares e políticos

Teve gente que não arredou o pé do Memorial JK desde a tarde dessa quinta (27), como a moradora do Riacho Fundo Eliane Pereira da Silva

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Eliane
1 de 1 Eliane - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

O velório do ex-governador Joaquim Roriz já dura 17 horas. Além de familiares, como a filha Jaqueline, teve gente que não arredou o pé do Memorial JK desde o começo da despedida. É o caso de Eliane Pereira da Silva, 55 anos. Moradora do Riacho Fundo I desde 1953, ela chegou ao monumento às 14h30 dessa quinta-feira (27/9) e disse que só vai embora quando enterrarem o corpo. O sepultamento está previsto para as 11h desta sexta (28) no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul.

“Ele era padrinho do meu filho. Foi tudo na minha vida. Morava na rua com um bebê nos braços. Me deu um lugar para morar, um trabalho e dignidade. Foi ele quem pediu para batizar meu filho. Tão carinhoso”, disse Eliane.

Por volta das 8h, o memorial estava sendo preparado para uma missa que está sendo celebrada pelo arcebispo emérito de Brasília, Dom José Freire Falcão, desde as 9h. Só poderão ficar no espaço a imprensa e 60 pessoas. Às 10h, será realizado um culto ecumênico, antes de o carro dos Bombeiros seguir com o corpo para o cemitério em carro aberto. Dona Weslian está presente, muito emocionada.

Moradora de Samambaia há 30 anos, uma das cidades criadas por Roriz, Maria Rocha da Silva, 62, também foi ao Memorial se despedir do ex-governador, que morreu nessa quinta (27) por choque séptico. “Meu pai trabalhou na roça com o pai do Roriz, lá no Goiás. Sempre acompanhei a carreira dele de perto. Até hoje me lembro de como era ser abraçada por ele”, contou.

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Josimar Galdin da Silva, 63, também reside na mesma cidade há três décadas. “Ele que me deu um lugar para morar e essa é uma lembrança que a gente não esquece jamais. Trabalhei a noite toda e vim direto. Mas só vou embora depois do enterro. Por ele, a gente faz qualquer coisa”, decretou.

Jaqueline, uma das três filhas de Roriz, passou a noite no velório. Muito emocionada, disse ter recebido muito amor e conforto da população. “A noite toda essas pessoas ofertando esse carinho para mim. Foi acalentador. Até deu para diminuir um pouquinho a dor”, ressaltou.

Muitas coroas de flores chegaram ao memorial desde o começo do velório, às 15h30. Entre elas, as de muitos políticos, como José Sarney, Fernando Collor e Marcone Perillo, ex-governador de Goiás e candidato ao Senado pelo estado.

Sebastiana dos Santos Ferreira, a Tiana, foi babá de Joaquim Roriz Neto e também está no memorial na manhã desta sexta (28). Ela conta que trabalhou a vida inteira com o ex-governador e que, quando ainda era funcionária dele, recebeu uma casa construída do próprio Roriz.

“O governador foi meu pai. O Roriz me deu a chave. A casa pronta em Samambaia. Nunca se comportou como uma autoridade. Ele era uma pessoa maravilhosa. Quando perdi meus sobrinhos, ele era governador e foi na minha casa com toda a família. Ele era o pai dos pobres, disse Tiana.

Segundo a PM, por volta das 9h, havia 300 pessoas no velório. Após o culto, o cortejo fúnebre sairá do Memorial JK e seguirá pela Via S1. De lá, passará pelo Palácio do Planalto e, depois, vai para a L4 Sul. Na altura da Embaixada do Iraque, o comboio acessará o Setor Policial Militar. O fim do trajeto é o Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul.

O sepultamento está marcado para as 11h. O corpo de Roriz terá um lugar especial: será enterrado em um jazigo próximo à lápide de Juscelino Kubitschek.

Todo o trajeto será acompanhado pela Polícia Militar, que atuará com viaturas e motocicletas. Segundo a corporação, a ideia é interferir o mínimo possível no trânsito, que será bloqueado apenas quando estritamente necessário.

Segundo a PM, mais de duas mil pessoas passaram pelo monumento para se despedir do ex-governador desde as 15h30 dessa quinta (27). E o público pôde tocar, beijar e chorar sobre o caixão de Roriz. Por determinação de dona Weslian, esposa do patriarca do clã, as cordas que separavam o corpo dos simpatizantes foram retiradas. Assim, vários cidadãos puderam estar mais perto de Roriz.

A matriarca revelou a pessoas do círculo familiar que “Roriz sempre foi um homem do povo e que não poderia ter atitude diferente neste momento”. Weslian, aliás, precisou ser amparada pelo menos duas vezes no fim da tarde dessa quinta (27). Ao lado das filhas e dos netos, chorou o tempo todo. Cansada, ela deixou o Memorial JK por volta das 20h45, acompanhada de Marilda, a enfermeira que cuidou de Joaquim Roriz nos últimos anos.

Quatro bandeiras foram colocadas sobre o caixão, cada uma delas ligada à história de Joaquim Roriz. Entre elas: a do Brasil; a do estado de Goiás, onde Roriz nasceu e iniciou a carreira na política; a do Distrito Federal; e, por fim, do Divino Espírito Santo. Esta última tem relação com a devoção católica da família e a tradicional festa do Divino Espírito Santo, na qual o ex-governador costumava marcar presença.

Ao longo do dia, sete dos 11 candidatos ao Governo do Distrito Federal (GDF) compareceram ao Memorial JK. Apenas Renan Rosa (PCO), Guillen(PSTU), Júlio Miragaya (PT) e Fátima Sousa (PSol) não apareceram na cerimônia.

Ex-funcionários de Roriz dos mais variados escalões também prestaram a última deferência ao ex-chefe. Lá, estavam ex-motoristas, ex-secretários de Estado e outras pessoas que um dia trabalharam para a família.

O calor e a comoção fizeram duas mulheres desmaiar. Entre os presentes, muitos carregavam objetos em homenagem ao líder político. Durante o velório, que começou às 15h de quinta (27) e está previsto para terminar às 9h desta sexta-feira (28), muitos simpatizantes empunhavam orgulhosamente quadros, bandeiras e santinhos com o rosto de Roriz.

Um deles, inclusive, improvisou, em folhas de caderno, um abaixo-assinado a fim de recolher assinaturas e pedir ao GDF a construção de um memorial de Roriz em Samambaia, a primeira das 11 cidades fundadas pelo ex-governador do Distrito Federal.

As últimas semanas
Joaquim Roriz estava internado no Hospital Brasília, no Lago Sul, desde 24 de agosto, quando deu entrada com febre alta. Os médicos confirmaram a morte na manhã de quinta (27), por choque séptico decorrente das complicações da infecção pulmonar, que resultou em falência múltipla dos órgãos.

Nas últimas semanas, o patriarca do clã Roriz estava na unidade de terapia intensiva (UTI) e chegou a apresentar melhora, quando foi transferido para um quarto no último dia 10.

Contudo, voltou a ser internado na UTI dois dias depois, onde permaneceu até o momento de sua morte. Algumas horas antes do óbito, Roriz sofreu uma parada cardíaca e foi submetido a traqueostomia. A cirurgia abriu um pequeno orifício na traqueia, onde uma cânula foi instalada para a passagem de ar. Depois, sofreu mais duas paradas cardiorrespiratórias e não resistiu.

 

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