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Podcasts mentem sobre vacinas sem fiscalização do Spotify Brasil

Programas com personalidades ligadas à direita atacam a vacinação contra Covid-19 sem que haja um mecanismo do Spotify para conter fake news

atualizado

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Arthur Menescal/Especial Metrópoles
Spotify vacina
1 de 1 Spotify vacina - Foto: Arthur Menescal/Especial Metrópoles

O Spotify abriga no Brasil diversos programas com personalidades ligadas à direita que reproduzem mentiras sobre as vacinas contra a Covid-19. Os podcasts com desinformação propagada por lideranças do bolsonarismo estão disponíveis sem que a plataforma forneça um alerta de fake news ou um botão para denunciar o conteúdo.

A leniência do Spotify com a propagação de mentiras sobre a pandemia se tornou assunto nesta semana. O cantor Neil Young exigiu a retirada do seu catálogo de álbuns da plataforma em protesto contra a decisão do aplicativo de manter no ar um programa do apresentador Joe Rogan que continha desinformações sobre vacinas.

Rogan, dono do podcast mais ouvido do Spotify, afirmou em um episódio que as vacinas contra a Covid-19 não são necessárias.

Em 28 de outubro de 2020, o site bolsonarista Senso Incomum publicou um episódio no podcast Guten Morgen com o título “A vachina não é uma vacina”. No programa, o escritor Flavio Morgenstern diz ser “uma pessoa vacinada”, mas que não irá “tomar essa porcaria dessa vacina” contra a Covid-19. Morgenstern afirma que a “vacina chinesa” da Sinovac é um “veneno”.

“Eu sou contra a vacina chinesa, a vacina de Oxford, sobretudo porque elas não são vacinas”, disse o escritor, que em certo momento chamou as pessoas que aceitariam o imunizante de “cobaias”. O programa dura mais de duas horas.

No dia 21 de abril de 2021, o apresentador Gilberto Barros, do podcast Rugido do Leão, fez uma defesa de tratamentos que são comprovadamente ineficazes contra a Covid-19. No programa, intitulado “Vacina só não basta!”, ele diz que “inalação de bicarbonato [serve] para tornar a região do pulmão salinizada”.

“Ela fica mais alcalina, insuportável para que sobreviva o Sars Cov 2, a praga da China, se é que ela existe”, declarou. Em edição mais recente do podcast, Barros criticou a exigência do passaporte vacinal, mas indicou que tomou duas doses da vacina da Pfizer.

O podcast 4talkcast levou em 28 de outubro de 2021 a deputada federal Bia Kicis para ser entrevistada. Kicis mentiu que imunizantes são responsáveis pelo surgimento de variantes da Covid-19. “[O vírus] vai para uma mutação porque está tendo muitas pessoas vacinadas”, disse. Ela admitiu não estar vacinada.

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Em outro podcast, intitulado Fábio Sousa Com Você, o pastor e ex-deputado Fábio Sousa publica entrevistas com pessoas que ganharam fama na direita. Em 7 de dezembro de 2021, a médica Raíssa Soares contou que costuma dizer aos pais de crianças que vacinas podem causar efeitos colaterais, como miocardite.

Ela também faz campanha contra o passaporte vacinal. “Por que eu vou obrigar as pessoas a tomarem uma vacina que não impede a doença?”, afirmou. “Quem não quer vacinar, não vacine. Não precisa se vacinar.”

O jornalista Alexandre Garcia, em 16 de dezembro de 2021, deu a entender no programa que o cantor Maurílio havia sofrido um tromboembolismo pulmonar por ter se vacinado. O sertanejo morreu no dia 29 de dezembro. “Não estou atribuindo à vacina, mas estou falando que temos casos de meninos recebendo massagem cardíaca nas escolas. Nunca tantos jovens tiveram AVC e problemas de trombose pulmonar e ataque cardíaco. Tenho muito medo e acho que isso é uma responsabilidade gigantesca da Anvisa”, afirmou Garcia, sem apresentar provas sobre o que estava falando.

Garcia declarou que não se vacinará e criou teorias conspiratórias sobre a campanha de imunização infantil. “Mexeram na genética dessas crianças, já que essa vacina tem essa influência. Você não sabe o que vai acontecer quando chegar a idade de procriação”, declarou.

Em 27 de dezembro de 2021, Fábio Sousa recebeu no programa o infectologista Francisco Cardoso. O médico disse que o governo de Israel vacinou a população à força e fez uma comparação relativizando o Holocausto. “Imagina que incoerência? Israel propondo isolar em guetos [os não vacinados], ou sei lá, eles vão trocar o nome para não ter lembranças históricas, mas na prática é isso”, declarou.

Cardoso também mentiu ao ser questionado por Fábio Sousa sobre a necessidade de vacinar pessoas que contraíram a Covid-19. “Não precisa. Isso é mentira, é uma narrativa política que está sendo imposta para forçar todo mundo a tomar a vacina”, disse. Por fim, o médico afirmou falsamente que as vacinas para crianças estão “sob suspeita”.

Em todos os casos, Fábio Sousa não desmentiu os entrevistados e se limitou, ao final das conversas, a orientar os ouvintes a procurarem um médico caso apresentem sintomas.

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Ao responder a Neil Young, o Spotify disse ter uma “grande responsabilidade em balancear a segurança dos ouvintes com a liberdade dos criadores”. A empresa afirmou que tem “políticas de conteúdo detalhadas” e que excluiu 20 mil episódios de podcasts relacionados à Covid-19 desde o início da pandemia.

Procurado, o Spotify Brasil não respondeu à coluna. O espaço está aberto para manifestações.

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