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No WhatsApp, CPI da Pandemia manifestava temor com golpe militar

Mensagens de WhatsApp obtidas pela coluna mostram que os senadores que integravam a CPI da Pandemia temiam um golpe militar

atualizado

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Pedro França/Agência Senado
CPI da Covid
1 de 1 CPI da Covid - Foto: Pedro França/Agência Senado

A possibilidade de as Forças Armadas darem um golpe de Estado foi uma preocupação central dos senadores que encabeçavam as investigações contra o governo Bolsonaro na CPI da Pandemia, cujo início dos trabalhos completou um ano na semana passada. Conversas de WhatsApp do G7, como ficou conhecido o grupo majoritário da comissão, revelam as inquietações e ponderações dos senadores em assuntos relacionados à caserna. Os diálogos foram obtidos pela coluna e tiveram sua autenticidade confirmada.

Os militares foram assunto pela primeira vez em junho, após o Exército não aplicar uma punição a Eduardo Pazuello por ter participado de um ato político com Bolsonaro no período em que ainda era general da ativa.

Otto Alencar reagiu de maneira irônica à notícia, compartilhada por Alessandro Vieira, dizendo que Bolsonaro “tem razão quando chama de meu Exército”. O presidente da CPI, Omar Aziz, alertou os colegas de que era “preciso não cair na pilha do Bolsonaro”.

O tucano Tasso Jereissati, no entanto, ficou alarmado com o episódio e fez uma comparação com o período pré-1964. “É preciso prestar muita atenção ao desdobramento dessa situação. Jango não caiu por causas ideológicas, mas quando houve quebra de hierarquia militar”. A conversa se encerrou com uma provocação de Alencar. “Estou com minha 12 pronta para o ataque”, disse.

No mês seguinte, Aziz foi alvo de uma agressiva carta de repúdio assinada pelos comandantes das três Forças e pelo então ministro da Defesa, Walter Braga Netto, por, em meio ao depoimento do ex-diretor de Logística Roberto Ferreira Dias, ter dito que “fazia muitos anos que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo”. A nota de repúdio foi compartilhada por Bolsonaro.

Os senadores prestavam solidariedade a Aziz quando, no dia 9 de julho, Eliziane Gama compartilhou uma notícia em que o comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, em tom ameaçador, declarava que as Forças não enviariam 50 notas a Aziz. “É apenas essa”, disse o tenente-brigadeiro do ar.

Em resposta, Alessandro Vieira alertou que a CPI não poderia perder o foco. “Nossa briga é com o cagão, não com os milicos”, afirmou, em possível referência a Bolsonaro. “Agora vamos enfrentar diariamente pegadinhas dessa turma. Omar se saiu muito bem da primeira batalha, mas não dá para contar com a sorte.”

Nova preocupação foi externada em agosto, após Bolsonaro manifestar que pediria o impeachment dos ministros do STF Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. A fala era uma reação do presidente à prisão de Roberto Jefferson.

“Caminhamos para a tentativa de autogolpe”, reagiu Vieira. “A passos largos”, completou Randolfe Rodrigues, que era vice-presidente da CPI. Na ocasião, o G7 discutia se deveria formalizar a convocação de Braga Netto para depor na CPI, como era o desejo do relator, Renan Calheiros.

“A prisão de Roberto Jefferson incomoda Bolsonaro e filhos. Indiferente para as Forças Armadas. Não por medo ou receio, convocar Braga Netto incomoda e nos coloca no contraponto com as Forças Armadas. Esse é um adversário que não devemos chamar para briga”, disse Otto Alencar, citando na sequência a frase do capeirista mestre Bimba: “Recuar também é golpe”.

Braga Netto não chegou a ser convocado e, embora tenha sido chefe da Casa Civil no comando do desastroso enfrentamento à pandemia, teve seu indiciamento pedido apenas pelo crime de epidemia com resultado morte.

O grupo de WhatsApp em questão foi criado em maio, com o nome “Filhos do Otto e do Tasso”, em homenagem aos senadores mais velhos que compunham a CPI. Inicialmente, faziam parte do grupo os senadores Alessandro Vieira (à época no Cidadania, hoje no PSDB), Eduardo Braga (MDB), Humberto Costa (PT), Randolfe Rodrigues (Rede), Renan Calheiros (MDB), Rogério Carvalho (PT), Omar Aziz (PSD), Otto Alencar (PSD) e Tasso Jereissati (PSDB).

Ao longo da CPI, foram incluídos os senadores Eliziane Gama (Cidadania), Fabiano Contarato (à época na Rede, hoje no PT), Simone Tebet (MDB) e Zenaide Maia (Pros).

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