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A quem interessa borrar a memória da pandemia da Covid

Como projetar o futuro se o passado continua apagado? Para Bolsonaro, pouco importa

atualizado

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André Borges/Especial para o Metrópoles
O presidente Jair Bolsonaro
1 de 1 O presidente Jair Bolsonaro - Foto: André Borges/Especial para o Metrópoles

É sobre a quem interessa o apagão de dados do Ministério da Saúde, provocado supostamente por um grupo até aqui desconhecido de hackers. Não é sobre o apagão propriamente dito.

Aconteceu em 10 de dezembro último. E de lá para cá, os arquivos do ministério com números e informações sobre a pandemia só foram restabelecidos em parte. A instabilidade continua.

Como projetar o futuro se o passado foi apagado? Como saber de que maneira evolui a pandemia depois do surgimento de novas variantes da Covid-19 se não há dados completos?

O governo tentou negar o apagão. Depois disse que fora parcial e que em poucos dias tudo ficaria bem. Agora, ou repete a ladainha ou simplesmente não diz nada.

A mistura do ômicron com a influenza era para ter desatado um volume gigantesco de testes sem os quais o combate ao mal não seria bem-sucedido, mas como fazê-lo sem memória?

A levarem-se em conta suas dimensões e o tamanho de sua população, o Brasil não testou o suficiente desde que a Covid colheu sua primeira vítima fatal em março de 2020.

Em maio, o país tinha uma média de 2,1 dispositivos digitais por habitante. Na categoria de dispositivos móveis, que contempla smartphones, tablets e notebooks, 346 milhões de aparelhos.

Jamais o governo usou ou quis usar tão formidável malha de comunicação para constantes e eficientes campanhas de esclarecimento e de orientação sobre a pandemia.

Pelo contrário. Tentou sabotar a divulgação de informações. Daí nasceu o consórcio de empresas jornalísticas que se encarrega diariamente de apurar o que o governo amaria esconder.

A desinformação oficial serve à estratégia criminosa do governo de deixar que o vírus circule livremente, infectando e matando os que tiverem de morrer como sempre quis Bolsonaro.

Não foi por outra razão que o Ministério da Saúde empurrou com a barriga a compra de vacinas no ano passado, e agora atrasou a compra de vacinas infantis.

Não pergunte à Polícia Federal o que ela já descobriu sobre os autores do tal ataque de hackers. Ela não responde. O silêncio só facilita a execução dos objetivos espúrios do governo.

Enquanto isso, quando ouve falar na retomada de medidas restritivas diante da nova onda da pandemia, o presidente da República toca horror, porque isso ele sabe fazer:

“O Brasil não resiste a um novo lockdown, será o caos, será aqui uma rebelião, o direito à sobrevivência deles. Não teremos Forças Armadas suficientes para Garantia da Lei e da Ordem”.

O país nunca teve lockdown. Se tivesse dependido unicamente de Bolsonaro, nunca teria tido sequer medidas parciais de isolamento social. Era preciso, acima de tudo, salvar a Economia, vidas, não.

Esperar o quê de quem um dia foi capaz de imitar em tom de deboche uma pessoa a morrer por falta de oxigênio? Esperar somente isso que estamos vendo e provando na pele.

Mais quatro anos para um serial killer travestido de presidente não tem cabimento.

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