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Carta a Bolsonaro representa coletividade da Anvisa, diz Barra Torres

Presidente da agência sai em defesa de seu corpo técnico, cuja lisura foi posta sob dúvida por Bolsonaro no caso da vacinação infantil

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
CPI covid senado Oitiva do Antonio Barra Torres diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária 1
1 de 1 CPI covid senado Oitiva do Antonio Barra Torres diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária 1 - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O contra-almirante Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), teceu comentários a respeito da dura carta que endereçou ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), que insinuou haver práticas escusas dentro da agência. Segundo Barra Torres, a correspondência, embora assinada por ele, contém a “coletividade da Anvisa”. Ou seja: fala por todo o seu corpo técnico.

Em entrevista gravada para o programa Foco, da jornalista Andréia Sadi, que vai ao ar nesta quarta-feira (12/1), às 23h30, pela GloboNews, o presidente da Anvisa explica o que o levou a elaborar a carta, que, entre outros pontos, pede que Bolsonaro, caso saiba de qualquer tipo de corrupção dentro da agência, como insinuado, não prevarique e denuncie. Ou se retrate.

“Quem fala por uma força armada é o comandante dessa força armada”, diz Barra Torres. “Na nota, eu cito, logo no primeiro parágrafo, de onde eu venho, o tempo que eu passei lá, cito a minha família, a minha origem, a minha atividade técnica dentro da medicina, cito a minha fé cristã. E embaixo eu coloco ali qual é o motivo daquela correspondência, o que nos impactou e que gerou aquela correspondência”, completa.

O diretor-presidente, então, ressalta: “E eu tenho certeza de que ali está presente a coletividade da Anvisa, que, do mesmo jeito que eu, tem uma formação profissional da qual se orgulha, tem uma capacitação técnica de altíssimo nível. (…) Uma coletividade muito jovem e muito bem preparada Todos com apreço fundamental as suas famílias, as suas diversas crenças religiosas”.

Barra Torres destaca que, em que pese ser uma carta, numa primeira análise, pessoal, “tem na sua raiz um espelho na coletividade que trabalha aqui”.

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Questionado sobre qual seria o “mesmo inimigo” que ele e Bolsonaro estão combatendo, Barra Torres foi taxativo: “O coronavírus”.

Assinatura metódica

O contra-almirante ainda disse o porquê de ter assinado a carta, além do cargo de diretor-presidente da Anvisa, com sua profissão de médico e sua origem militar.

“Poderia ser eu de outra área qualquer. Poderia ser eu até não ser médico e não ter o passado militar, mas o objetivo da assinatura foi metódico. E como ouvi alguns ruídos, eu faço questão de deixar bem claro.  Se alguém ficou com dúvida, então eu esclareço a dúvida: a colocação de ‘Marinha do Brasil’ foi pura e tão somente pelo método da assinatura”, assegurou.

Nota agressiva

Nessa segunda-feira (10/1), em entrevista à Jovem Pan, o presidente Bolsonaro comentou a carta de Barra Torres. Em um primeiro momento, ele recuou e disse: “Não acusei a Anvisa de corrupção. Eu quis saber e repito: o que está por trás dessa sanha vacinatória?”.

“Eu escolhi o Barra Torres, que ganhou luz própria. Espero que ele acerte na Anvisa. Não precisava agir daquela maneira. Ele fez uma nota agressiva”, lamentou o presidente, durante a entrevista.

Porém, logo depois, ao dizer que, se tivesse tido convivência com Barra Torres, talvez não o tivesse indicado para a Anvisa, Bolsonaro voltou a atacar a agência, a qual considera “aparelhada”.

“É comum a gente ver agências criando dificuldades para vender facilidades (…) Não quero acusar a Anvisa de absolutamente nada, agora que tem alguma coisa acontecendo, disso não há a menor dúvida”, insistiu.

Leia a carta de Barra Torres a Bolsonaro:

“Em relação ao recente questionamento do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 05 a 11 anos, no qual pergunta “Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?”, o Diretor Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:

Senhor Presidente, como Oficial General da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.

Como médico, Senhor Presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente.

Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho.

Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.

Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.

Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate.

Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente.
Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário.

Antonio Barra Torres
Diretor Presidente – Anvisa
Contra-Almirante RM1 Médico
Marinha do Brasil”.

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