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Veto a filmes e séries LGBT também quer atingir a arte da periferia

Restrições ao financiamento público de produções culturais pretendem criar barreiras à diversidade. É preciso resistir e apoiar quem faz

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Matheus Alves/Divulgação
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1 de 1 Afronte_Marcus Azevedo e Bruno Victor_Mostra-BSB_Crédito-Matheus-Alves-1-1024×683 - Foto: Matheus Alves/Divulgação

Numa transmissão ao vivo, o governante Abelardo II anunciou que projetos da Ancine relacionados à temática LGBT não serão aprovados e citou expressamente, como exemplo a ser vetado, a série brasiliense Afronte que trata sobre negros LGBTs no Distrito Federal. Traduzindo em bom português, deem as boas-vindas à censura.

Afronte já foi tema aqui na coluna. Na época, conversei com os criadores Marcus Mesquita e Bruno Victor. Este curta documentário (foto no alto) foi premiado no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e já foi exibido em várias partes do mundo, sempre com excelente repercussão. Agora os meninos estavam em vias de captar recursos para a série, o que, pela declaração, não se concretizará.

Em meio ao crescimento da pobreza do nosso país, Abelardo gasta seu tempo em procurar quais projetos artísticos são de tema de gênero e sexualidade. Entretanto, como disse um amigo, Abelardo II nunca mentiu. Seus apoiadores é que sempre afirmaram que estavam levando suas palavras ao pé da letra, ou que ele falava no sentido figurado, ou que era apenas uma piada. Abelardo “jamais poria em prática o que dizia em seus discursos”.

Ao mesmo tempo, só quem está surpreso com a guerra no campo cultural que se escancara é a elite e a classe média. Os meninos do Afronte estão na trincheira desde o tempo do filme. Para fazer o curta, usaram crowdfunding e suaram até conseguir quem acreditasse no projeto o suficiente para doar. Agora, o que deveria ser analisado por critérios técnicos e artísticos será julgado pelo conservadorismo e pela bíblia de Abelardo.

O que Abelardo quer cortar é justamente o que está levando este país a altos níveis culturais atraentes aos olhos do mundo. O que verdadeiramente renova a cultura não é, nem nunca foi, a produção dos grandes centros econômicos e de poder. É o bairro mais pobre, a região mais “atrasada”, é o povo mais sofrido quem renova a cultura. O que a antiga atuação da Ancine fazia, ainda que com críticas, era corrigir as injustiças de investimento em diversos tipos de produções. Criar diversidade, justamente o oposto do que quer o Rinoceronte, de Ionesco.

Para aqueles que no colégio estudavam as músicas de protesto de Chico e Caetano e pensavam “nossa geração não tem mais sobre o que protestar, que pena”, podem começar, queridos. Censura é isso. Ou como falaram em uma série de sucesso: bem-vindo à guerra, ela é um saco. Entretanto, mesmo em tempos tranquilos, liberdade e democracia só existem com a batalha diária. “A cadela do fascismo está sempre no cio”.

Vetos aos artistas de temas periféricos já eram praticados antes, como o veto econômico. Portanto, esta ação sobre a Ancine é um forte baque, mas nada muito diferente do que artistas da periferia enfrentam todos os dias. Ao mesmo tempo, quem tem maior chance de sobreviver isso são eles. Afinal, sempre fizeram arte e cinema sem apoio.

Por fim, não dá para esperar que a censura de Abelardo II ficará restrita apenas à Ancine. Não ficará. Portanto, seja marginal! Seja herói! Consuma arte!

Agenda

São Paulo sedia no final deste mês um dos maiores e mais expressivos encontros econômicos com foco em negócios, turismo e cultura direcionados a LGBTs. Trata-se da terceira edição da Conferência Internacional da Diversidade e do Turismo LGBT, que acontece de 25 de agosto a 1 de setembro, na Praça das Artes, centro histórico da cidade.

O evento, que coloca o Brasil no centro das atenções globais deste público, tem entre suas atividades oficiais debates, palestras, mesas redondas, exposições fotográficas e o show Conexão Mulheres do Brasil, comemorativo ao Dia Nacional da Visibilidade Lésbica (29/08).

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