A hepatite é uma inflamação no fígado causada por vírus ou pelo consumo excessivo de álcool e remédios. O que nem todo mundo sabe é que a doença, que pode levar à morte se não tratada, é ainda mais grave se combinada com o HIV, vírus causador da aids.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as hepatites virais atingem cerca de 300 milhões de pessoas no planeta por ano. O mês de maio é dedicado à conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce dessa enfermidade.
Vale destacar que, recentemente, foram relatados no mundo e no Brasil, casos de hepatite aguda em crianças, cuja origem ainda é desconhecida. Entre os agentes infecciosos que causam a hepatite, destacam-se os vírus A, B, C, D (mais conhecido como Delta) e E.
Principais causas
O médico David Urbaez, infectologista do Exame Medicina Diagnóstica/Dasa, aponta que praticamente todos os tipos provocam uma inflamação reacional no fígado, no entanto, há diferenças entre eles. “No caso dos vírus que causam as hepatites virais, eles têm o fígado como o principal alvo de sua ação e são muito diversos, tendo características e mecanismos de transmissão muito diferentes uns dos outros”.
Segundo a hepatologista Natália Trevizoli, do Hospital Brasília/Dasa, reações autoimunes também podem causar inflamação no fígado. “Existem casos em que a hepatite é resultado de uma reação autoimune dirigida contra as células do fígado e, de forma mais rara, também pode ocorrer devido a desordens genéticas”, explica a especialista.

A hepatite é a inflamação do fígado. Ela pode ser causada por vírus, bactérias, uso excessivo de medicamentos ou consumo de bebida alcoólica. Existem cinco tipos de hepatite: A, B, C, D e E. No entanto, no Brasil, os tipos A, B e C são os mais comuns Getty Images

A hepatite A é causada por um vírus que pode ser transmitido pelo ato sexual ou pelo consumo de água e alimentos contaminados. O diagnóstico é feito por meio de exames clínicos e laboratoriais TEK IMAGE/SCIENCE PHOTO LIBRARY/ Getty Images

Não há tratamento específico para a hepatite A, por isso, deve-se evitar a automedicação. Apesar disso, existe vacina eficaz contra a doença. Entre os principais sintomas dessa tipagem estão: náusea sem motivo aparente, febre baixa, perda de apetite, dor abdominal e fadigaGlasshouse Images/ Getty Images

A hepatite B também é causada por um vírus e pode ser transmitida por compartilhamento de objetos pessoais, ao realizar tatuagens e procedimentos cirúrgicos sem a devida higiene, durante relação sexual, entre outros. Entre os principais sintomas estão: amarelamento dos olhos, dor abdominal e urina escuraJeffrey Coolidge/ Getty Images

Já na hepatite B, o fígado pode apresentar um quadro de inflamação persistente e há risco de a doença evoluir para cirrose hepática. Ela pode ser identificada através de exames laboratoriais. Na maioria dos casos, pode ser tratada com medicamentos antivirais que impedem a multiplicação do vírus e retardam ou melhoram a evolução da doençaKATERYNA KON/SCIENCE PHOTO LIBRARY/ Getty Images

A hepatite C, também causada por vírus, tem meio de transmissão semelhante a hepatite B. Contudo, a hepatite C tem cura em mais de 95% dos casos e há tratamento disponível com medicamentos por via oral. Entre os sintomas estão fadiga, perda do apetite, náuseas, amarelamento dos olhos ou pele MediaProduction/ Getty Images

A hepatite D, também conhecida como hepatite Delta, é causada pelo vírus HDV (Vírus RNA, que precisa do vírus causador da hepatite B para que a infecção ocorra). Está presente no sangue e secreções e pode ser transmitido assim como no caso das hepatites B e C Luis Alvarez/ Getty Images

A hepatite D pode causar dores abdominais, cansaço e náuseas. O diagnóstico da doença deve ser feito através de exames clínicos e epidemiológicosboonchai wedmakawand/ Getty Images

A hepatite E, causada pela vírus VHE, é transmitida por via fecal-oral, ou seja, pelo consumo de água ou alimentos contaminados. Na maioria dos casos, essa versão da doença tem cura. Os sintomas incluem falta de apetite, náuseas e amarelamento da pele. Em casos raros, a doença pode progredir para insuficiência hepática aguda Ekaterina Smirnova/ Getty Images

Independentemente da vacina, indicada para todos os casos, algumas recomendações são fundamentais para a prevenção das hepatites virais. São elas: lavar as mãos após a utilização de sanitários, lavar alimentos com água tratada, clorada ou fervida, cozinhar bem os alimentos e não tomar banho em água não tratada ou próxima a esgotosSolskin/ Getty Images

Além disso, utilizar preservativos, não compartilhar seringas ou materiais de uso pessoal e certificar-se de que protocolos de biossegurança são cumpridos antes de submeter-se a tatuagens, piercings, tratamentos odontológicos e procedimentos cirúrgicos pode ajudar a evitar a doençaAja Koska/ Getty Images

Além dessas, existe ainda a hepatite alcoólica, causada pelo consumo abusivo e prolongado de álcool. A hepatite medicamentosa, que causa inflamação no fígado após uso indiscriminado de medicamentos, e a Esteato-hepatite, por exemplo, que surge devido ao acúmulo de gordura no fígadoSEBASTIAN KAULITZKI/SCIENCE PHOTO LIBRARY/ Getty Images

Em casos mais leves, a doença pode desaparecer sozinha. Mas em certas tipagens é necessário o uso de medicamentos antivirais ou outros cuidados específicosOsakaWayne Studios/ Getty Images

Recentemente, diversas crianças com idades entre um mês e 16 anos foram diagnosticadas com hepatite aguda em países da Europa e nos EUA. A gravidade da doença levou 17 crianças a passarem por transplantes de fígado e uma delas morreuPixabay

Os misteriosos casos de inflamação grave do fígado ainda não têm causa definida, mas evidências apontam para a infecção pelo adenovírus 41Ffotograzia/ Getty Images
Hepatites virais
As hepatites A e E estão diretamente ligadas a questões precárias de saneamento básico. Os vírus podem ser transmitidos, por exemplo, pelo consumo de água ou comida contaminados com as fezes da pessoa doente. Geralmente, quem contrai a hepatite A ou E pode se curar pelo próprio sistema imunológico.
Porém, há casos mais raros em que a hepatite A pode resultar em insuficiência hepática fulminante, causando a morte e, a hepatite E pode se tornar crônica em pacientes imunocomprometidos.
O vírus da hepatite B é muito infeccioso e pode ser transmitido por sangue ou secreções contaminadas. Já o tipo C evolui para doença crônica em 85% dos infectados e é transmitido, principalmente, por trocas sanguíneas, como ocorre em hemotransfusões, entre usuários de drogas injetáveis e inaláveis.
A variante Delta é muito particular e só infecta quem já possui o vírus do tipo B. Esse tipo está restrito geograficamente à bacia do Amazonas e a países do Mediterrâneo.
“As hepatites B e C também possuem uma fase aguda, mas podem se instalar no fígado e levar a casos crônicos com lesão moderada e progressiva ao longo dos anos. O tecido saudável é substituído por um tecido de fibrose, o que pode levar a uma alteração muito grande na funcionalidade do órgão”, explica o infectologista David Urbaez.
O médico acrescenta que, no final dessa evolução, o indivíduo passa a ser portador de uma cirrose hepática, o que pode levar à morte ou à necessidade de transplante.
Coinfecções com HIV
É comum aparecerem nos consultórios pacientes coinfectados com hepatite C e HIV, e também, com hepatite B e HIV. Isso faz com que o método de diagnóstico para ambas as viroses seja prioritário nas pessoas infectadas pelo vírus causador da aids.
Segundo o infectologista David Urbaez, o diagnóstico de coinfecção é importante, pois as alterações hepáticas geradas nessas situações, seja por hepatite B ou C, são aceleradas. “Cirrose hepática e carcinoma hepatocelular (câncer) aparecem muito precocemente nessas pessoas, quando comparadas as que não têm o HIV concomitante com esses vírus da hepatite”, destaca David.
O vírus causador da hepatite A também merece atenção, pois pacientes com HIV são vulneráveis a esse tipo de infecção. “Esses pacientes devem ser encaminhados também para a vacinação contra a hepatite A que, assim como a vacina contra a hepatite B, também é eficiente e está disponível pelo governo de forma gratuita, bem como pelo serviço privado”, afirma.
Para o vírus da hepatite C, não existe vacina. No entanto, os medicamentos disponíveis para o tratamento são eficazes e garantem quase 100% da cura em indivíduos submetidos ao uso desses remédios.
Hepatite misteriosa
Em 5 de abril, o Reino Unido relatou um aumento inesperado e significativo de casos de hepatite aguda de origem desconhecida em crianças pequenas e previamente saudáveis. Desde então, um aumento de casos foi relatado à Organização Mundial da Saúde (OMS) por outras regiões. A doença já está em cerca de 20 países e existem casos suspeitos em investigação no Brasil.
De acordo com Natália Trevzoli, os casos são predominantes em crianças com menos de 5 anos que apresentaram sintomas iniciais de gastroenterite (diarreia e náuseas), seguidos pelo aparecimento de icterícia. Algumas apresentaram formas mais graves da doença e necessitaram de transplante de fígado.
“Os vírus habituais que causam hepatite infecciosa (hepatite A a E) não foram detectados nestes pacientes. A principal hipótese no momento é que essa hepatite está ligada a um outro tipo de vírus (adenovírus)”, diz a hepatologista.
Segundo David Urbaez, ao que tudo indica, a doença é resultado de uma super ativação imune induzida pelo Sars-CoV2 (vírus causador da Covid-19). “Quando a criança adquire o segundo vírus, isto é, o adenovírus 41, ocorre uma reação exacerbada do sistema imune, que se volta contra o fígado”, conclui o infectologista.
Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.