O tratamento da depressão é um caminho longo, que requer paciência e constância dos pacientes. Para algumas pessoas, apenas a terapia e mudanças no estilo de vida não são suficientes para vencer os sintomas do transtorno mental que afeta cerca de 5% da população adulta de todo o mundo, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Para outras, é necessário fazer intervenções com medicamentos.
Existem cerca de 40 tipos de antidepressivos disponíveis no mercado, fabricados com moléculas diferentes, para ações distintas. De maneira geral, eles atuam na atividade de neurotransmissores chamados monoaminas – serotonina, noradrenalina e dopamina –, que estão relacionados às emoções.
“O aumento de atividade das monoaminas desencadeia uma cascata de reações nas células do cérebro que resultam na melhora da depressão”, explica o psiquiatra Elson Azevedo, pesquisador do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Não existe uma “bala de prata”, um antidepressivo ideal para todas as pessoas. A escolha do remédio deve levar em consideração o perfil de cada paciente e os sintomas apresentados.
“Temos que prestar atenção em centenas de fatores. Alguns antidepressivos engordam e não podem ser indicados para pacientes obesos. Se o indivíduo tem insônia, você escolhe um medicamento que dê sono, porque ele cumpre duas funções simultaneamente: tratar a depressão e a insônia”, explica o psiquiatra Raphael Boechat, professor de medicina da Universidade de Brasília (UnB).
Tempo de resposta
Já nos primeiros dias de uso, os antidepressivos provocam um aumento das monoaminas, mas eles demoram, em média, de duas a quatro semanas para começar a ter uma ação regular. O tempo varia para cada paciente.
“Depois desse período, se concretiza a liberação de substâncias que vão aumentar o número de comunicações entre os neurônios e a saúde deles, além de melhorar a funcionalidade da rede neuronal relacionada às emoções”, explica o pesquisador da Unifesp.

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Efeitos colaterais
Assim como qualquer medicamento, os antidepressivos podem causar efeitos colaterais, especialmente nas duas primeiras semanas de uso, quando é observado o aumento de neurotransmissores, causando reações em áreas fora do cérebro que também contêm as moléculas, como no intestino.
Os efeitos adversos variam de acordo com a classe de antidepressivo escolhido. Os inibidores de serotonina, por exemplo, costumam dar náusea e dor de cabeça nos primeiros dias e causar diminuição da libido. Já a mirtazapina aumenta o apetite e costuma ser indicada para pacientes muito magros. Algumas pessoas também podem se queixar de azia, sudorese e tremores na fase de adaptação.
“Normalmente, os sintomas desaparecem depois de uma semana porque o corpo se adapta rapidamente. Outros podem ser persistentes, como aumento de peso, sonolência excessiva e redução da libido. Quando isso ocorre, é preciso discutir individualmente com o médico”, afirma Azevedo.
No início, é usual que o paciente pense em abandonar o tratamento sem orientação médica na tentativa de cessar os desconfortos. Os especialistas alertam que esse comportamento pode prejudicar o processo e retardar ainda mais a melhora.
Segundo Boechat, largar o remédio aumenta o risco de recaídas com sintomas ainda mais fortes do que os anteriores. “O paciente que abandona o tratamento antes do prazo corre o risco de ter uma recaída próximo a 90%. Já é demonstrado que quanto mais recaídas se têm, mais graves elas são, com mais sintomas, e mais difíceis de tratar”, afirma o professor da UnB.
Ajuste da medicação
Boa parte dos pacientes vai precisar de ajustes da medicação ao longo do tratamento. É comum que ele comece com doses mais baixas para evitar efeitos colaterais e aumente gradativamente, até alcançar melhores resultados no controle da doença.
Quando não se observa melhora, o indivíduo pode precisar trocar a classe do medicamento. “Não é todo mundo que responde a todos os antidepressivos. Pelo contrário, quase um terço dos pacientes não percebe diferença e é necessário trocar de classe ou associar mais de um tipo de remédio”, explica Boechat.
Quando parar o tratamento?
O cérebro precisa de muitos meses para se recuperar totalmente das consequências da depressão. O pesquisador da Unifesp conta que o tratamento passa pela fase aguda, quando o objetivo é a melhora completa dos sintomas – geralmente dura entre três a quatro meses –, e a etapa de manutenção, para consolidar a melhora e traçar estratégias para prevenir novos episódios ao longo da vida.
Apenas o psiquiatra pode determinar quando o medicamento não é mais necessário e quais são os passos para o paciente largar o remédio com segurança.
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