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Tragédia, martelada e vaivém bolsonarista: os 100 dias de Tarcísio

Em 100 dias de governo, Tarcísio enfrentou uma tragédia no litoral, se equilibrou na relação com os bolsonaristas e focou em privatizações

atualizado

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Isadora de Leão Moreira/Governo de São Paulo
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, durante reunião em seu escritório. Ele sorri, olhando para o lado, com a bandeira do estado desfocada a frente - Metrópoles
1 de 1 O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, durante reunião em seu escritório. Ele sorri, olhando para o lado, com a bandeira do estado desfocada a frente - Metrópoles - Foto: Isadora de Leão Moreira/Governo de São Paulo

São Paulo – Data simbólica no mundo político por exprimir o perfil e o norte de uma nova gestão, os 100 dias do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo foram marcados pelo enfrentamento de uma grande tragédia natural no litoral paulista, o empenho em tirar do papel um amplo plano de desestatização e o equilíbrio entre o pragmatismo e a base bolsonarista que ajudou a elegê-lo.

Desde a posse em 1º de janeiro até esta segunda-feira (10/4), data dos 100 dias, Tarcísio tem demonstrado habilidade em torear seus apoiadores mais radicais, incomodados com a falta de espaço no governo e algumas decisões do governador, enquanto adota uma gestão mais aberta ao diálogo e a recuos, destoando do modo de governar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu padrinho político.

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Ainda sem nenhuma entrega que possa ser apontada como “marca” da sua gestão, Tarcísio chega aos 100 dias de governo com 44% de aprovação, segundo pesquisa Datafolha divulgada no domingo (9/4), e com uma concentratação de mais da metade dos investimentos do estado em obras rodoviárias, área que o projetou politicamente quando foi ministro da Infraestrutura de Bolsonaro.

A seguir, o Metrópoles destaca os principais pontos que marcam os 100 dias de governo Tarcísio:

Martelada e desestatização

O discurso de que faria um governo próximo ao mercado financeiro e voltado a concessões e privatizações de ativos do Estado permeou toda a campanha de Tarcísio nas eleições de 2022. E o governador iniciou seu mandato demonstrando que pretende cumprir essa promesa, até como contraponto ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem falado em rever privatizações, como a da Eletrobras.

A imagem que resume o empenho do governador na agenda de desestatização até aqui é a de um Tarcísio eufórico, dando sete marteladas no púlpito da B3, a bolsa de valores, para celebrar o leilão da concessão do Trecho Norte do Rodoanel, vencido por um fundo de investimentos criado semanas antes. Na ocasião, ele lamentou que o martelo era de boa qualidade – sua intenção era quebrá-lo.

A concessão do Rodoanel Norte, último trecho do anel viário da Grande São Paulo, foi tida como uma vitória de seu mandato, embora tivesse sido inteiramente formatada pela gestão do ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB). O negócio prevê investimento de R$ 3,4 bilhões para concluir a alça viária, paralisada em 2018.

Ao todo, a gestão Tarcísio aprovou um plano com 15 projetos de Parcerias Público-Privadas (PPPs) que devem ser formatadas ao longo deste ano, e já anunciou a contratação de estudos para a privatização da Sabesp, considerada a “joia da coroa” do governo paulista, e outro para vender a Empresa Metropolitana de Água e Energia (Emae), que foi barrado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE).

A predileção pelas privatizações também tem potencial para causar desgaste. O governo enfrenta uma grave crise no transporte sobre trilhos, com uma sequência de dez descarrilamentos de trens com passageiros nas linhas concedidas à ViaMobilidade, do Grupo CCR. Tarcísio tem se posicionado ao lado empresa e contra o Ministério Público Estadual, que deve apresentar nesta semana uma ação judicial pedindo suspensão da concessão.

Tragédia no litoral

Um fator imprevisível com o qual Tarcísio teve de lidar nos 100 primeiros dias de governo foi a tragédia ocorrida no litoral norte durante o Carnaval, provocada por um temporal com volume recorde de chuva que causou deslizamentos de terra e a morte de 65 pessoas, além de deixar mais de 4 mil desabrigados.

No dia seguinte à tragédia, em 19 de fevereiro, quando a maioria dos corpos das vítimas ainda não havia sido localizada, o governador transferiu seu gabinete para São Sebastião, cidade mais castigada pela chuva, e fez uma série de ações emergenciais e anúncios para tentar resolver o problema habitacional na região.

O governo conseguiu garantir alimentos e alojamentos aos desabrigados, desobstruiu a Rodovia Rio-Santos em quatro dias e mobilizou equipes para resgate das vítimas, em ações conjuntas com o governo federal e as prefeituras do litoral. Na ocasião, Tarcísio ressaltou a importância do trabalho conjunto, incluindo adversários políticos, uma atuação diferente da que marcou o governo Bolsonaro.

No fim do mês de fevereiro, quando a crise já não era tão aguda, uma pesquisa de opinião feita pelo Instituto Paraná Pesquisas apontou que 61% da população paulista aprovava a gestão até aquele momento.

Vaivém bolsonarista

Com um governo composto por nomes de confiança trazidos do Ministério da Infraestrutura, quadros indicados pelo secretário de Governo, Gilberto Kassab (PSD), seu principal articulador político, e ainda uma fração bolsonarista no primeiro escalão, Tarcísio tem se equilibrado entre o discurso moderado e pragmático, que acolhe demandas da oposição, e acenos à base radical do bolsonarismo.

O governador já teve três reuniões com o presidente Lula e, logo no início do mandato, condenou a tentativa de golpe promovida por bolsonaristas no dia 8 de janeiro, em Brasília. Depois disso, manteve a relação institucional mesmo diante dos sinais de que um dos seus principais pleitos, a concessão do Porto de Santos, não vai prosperar no governo petista. Também se mostrou sem restrições à interlocução com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), maior desafeto dos bolsonaristas hoje.

Ainda antes de assumir o Palácio dos Bandeirantes, Tarcísio declarou que nunca foi um “bolsonarista raiz”, mas nomeou dois expoentes do bolsonarismo como secretários — Guilherme Derrite (Segurança Pública) e Sonaira Fernandes (Políticas para a Mulher) — e tem repetido em discursos voltados à base radical que tem uma “dívida de gratidão” com Bolsonaro, que o escolheu para ser candidato a governador de São Paulo.

Na política estadual, Tarcísio deu sinal verde para as negociações articuladas por Kassab para a eleição de André do Prado (PL), afilhado político de Valdemar Costa Neto, para a presidência da Assembleia Legislativa (Alesp), e tem feito uma série de acenos a parlamentares de oposição, como na sanção da lei que garante a distribuição gratuita de remédio à base de cannabis no SUS paulista, de autoria do deputado Caio França (PSB), filho do ex-governador e atual ministro dos Portos e Aeroportos do governo Lula, Márcio França.

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