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Naja: Corregedoria da PMDF abre inquérito para investigar militares do BPMA

Decisão foi tomada nesta quarta-feira (29/7), após PCDF afirmar que imagens de circuito interno indicam participação na ocultação de provas

atualizado

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Ivan Mattos/ Zoológico de Brasília
Naja no Zoo de Brasília
1 de 1 Naja no Zoo de Brasília - Foto: Ivan Mattos/ Zoológico de Brasília

A Corregedoria-Geral da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) informou, nesta quarta-feira (29/7), que abriu inquérito policial militar (IPM) para investigar a conduta do major Elias Costa e demais militares do Batalhão da Polícia Militar Ambiental (BPMA), suspeitos de terem atrapalhado as investigações da Polícia Civil (PCDF) que apuram esquema de tráfico internacional de animais. A condução do caso ocorre em conjunto com o Ministério Público Militar.

Imagens do circuito de segurança do Shopping Píer 21 obtidas pela 14ª Delegacia de Polícia (Gama) colocam policiais do BPMA na investigação do caso. Relatórios que fazem parte do inquérito, obtidos com exclusividade pelo Metrópoles, levantam suspeita de que eles tenham agido supostamente para proteger os alvos da Operação Snake.

Segundo os documentos, as gravações mostram o momento em que o estudante de medicina veterinária Gabriel Ribeiro, 24 anos, amigo de Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl, 22, deixa a cobra Naja no estacionamento do estabelecimento comercial. Uma equipe da PM aparece no local em menos de um minuto e recolhe o animal.

A serpente estava dentro de uma caixa de plástico, próximo a um barranco, nas redondezas do Píer 21, no Setor de Clubes Sul. O fato ocorreu em 8 de julho, um dia após Pedro ser picado pela Naja. O rapaz foi levado ao Hospital Maria Auxiliadora, no Gama, e chegou a ficar internado, em coma.

No dia seguinte à apreensão da cobra, os policiais militares retornaram à 14ª DP com mais 16 serpentes. Todos os animais pertencem a Pedro Henrique e não tinham documentação. Estavam escondidos dentro de uma baia de cavalo em um haras do núcleo rural Taquara, em Planaltina.

“Mais uma vez, a PMDF apresentou os animais arrecadados sem conduzir ninguém à delegacia. Sendo que, coincidentemente, após poucos instantes, compareceu a esta circunscricional ‘espontaneamente’ o filho do dono do haras e também amigo de Pedro Henrique e Gabriel Ribeiro”, diz o inquérito conduzido pela Polícia Civil. O rapaz foi ouvido e confirmou ter permitido que Gabriel escondesse as serpentes de Pedro no local.

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Segundo o depoimento dos policiais militares que apreenderam os animais, a empreitada ocorreu após a equipe receber denúncia anônima. Os PMs narram que receberam um ponto de referência e acabaram encontrando um haras. No imóvel, foram recebidos por um capataz, que indicou o local onde estavam as cobras. Os militares alegaram que não foi preciso conduzir a testemunha até a delegacia “pelo fato de residir ricamente naquele local”.

“Diante desse cenário, percebe-se que, desde o início da investigação, a autoridade policial responsável pela apuração vem encontrando severas dificuldades no tocante à obtenção de provas, o que decorre, lamentavelmente, da conduta praticada por policiais militares, especialmente o padrasto de Pedro, coronel Clovis Condi, e os policiais lotados no BPMA/PMDF comandado pelo major Elias Costa”, diz um dos trechos dos relatórios.

Condi é irmão do subcomandante-geral da corporação, Claudio Fernando Condi, e padrasto de Pedro Henrique. Assim como a mãe do rapaz, Rose Meire, ele também é investigado no âmbito da Operação Snake.


Tráfico

Segundo a PCDF, a partir dos elementos colhidos durante as investigações, foi possível verificar, pela grande quantidade de animais apreendidos, que “Pedro Henrique é traficante de animais silvestres e não mero colecionador.”

A afirmação é corroborada por mensagens de texto trocadas entre o jovem e a mãe dele. Na ocasião, o universitário passava pela cidade de Ibotirama (BA) e trazia consigo uma cobra.  Ele também mantinha contatos de outros traficantes de animais.

O estudante, 22, foi picado por uma cobra Naja kaouthia que criava como animal de estimação, apesar de a serpente não ser natural de nenhum habitat brasileiro. A suspeita é que o animal tenha sido trazido para o Distrito Federal a partir de uma licença irregular, emitida por uma servidora do próprio Ibama, que já foi afastada do cargo.

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O mandado de prisão temporária foi cumprido no âmbito da quarta fase da Operação Snake e teve apoio de uma equipe do Instituto de Medicina Legal (IML) da PCDF e da Polícia Federal.

 

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