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Força de trabalho de médicos no Samu-DF tem déficit de 978 horas. Entenda

Moradores do DF reclamam de não conseguir socorro ao ligar para o Samu. Secretaria de Saúde diz que adotará medidas para repor profissionais

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Equipe do Samu em resgate de paciente - Metrópoles
1 de 1 Equipe do Samu em resgate de paciente - Metrópoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Por falta de profissionais, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência do Distrito Federal deixa de contar, por semana, com 978 horas de trabalho de médicos. Atualmente, a cada sete dias, esses profissionais, juntos, prestam 2.340 horas de serviço no Samu-DF. No entanto, a carga necessária para o período seria 3.318 horas. As informações foram obtidas pelo Metrópoles via Lei de Acesso à Informação (LAI) e confirmadas pela Secretaria de Saúde.

No órgão, há 55 médicos lotados na Central de Regulação em Urgências e outros 44 nos sete Núcleos de Atendimento Pré-Hospitalar.

Conforme informado pela LAI, de acordo com a população estimada atual do Distrito Federal, preconiza-se o mínimo de cinco médicos reguladores no período noturno, em escala de plantão.

Sem socorro

A estudante de arquitetura Camilla Rodrigues, de 22 anos, conta que precisou de um socorro do Samu em agosto deste ano, mas não conseguiu contato com um médico do serviço.

“Eu tenho bronquite e estava com falta de ar por conta do Covid. Meu pneumologista falou para eu usar a bombinha de asma. Fiz uso duas vezes da bombinha, mas tive uma reação. Comecei a ter taquicardia, muitas cãibras, minhas mãos começaram a se retrair e minha boca começou a fechar também. Passei muito mal, achei que iria morrer”, narra.

A jovem relata que os pais ligaram para o Samu três vezes e não conseguiram contato com médico em nenhuma das tentativas. “Só chegou nos atendentes, que disseram que iriam passar para o médico, mas só chamava e nenhum atendia. Acho que foram 5 minutos cada ligação esperando”, diz.

“Eles falaram que só poderiam mandar ambulância se um médico autorizasse, mas nenhum atendia. Eu poderia ter tido um infarto e o Samu não teria chegado. Tivemos de correr para o hospital mesmo”, completa Camilla.

Para a estudante, houve dificuldade em conseguir ambulância em momento de urgência. “Isso põe em risco a vida da pessoa que precisa de ajuda. Numa situação de vida ou morte precisei que um médico autorizasse a ambulância, mas nem tinha médico, aparentemente”, desabafa.

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Protocolos

A falta de profissionais afeta diretamente a prestação do serviço. Mas, para além disso, moradores do DF que já precisaram do Samu reclamam ainda do processo necessário para conseguir uma ambulância. Para o analista de sistemas Carlos Henrique Melquiades Santana Júnior, 31 anos, o protocolo acaba sendo burocrático.

O morador de Águas Claras relata que no meio deste ano acionou o Samu para socorrer um amigo que estava passando mal sozinho em casa, mas não conseguiu. “Esse meu amigo foi atropelado há vários anos, passou três meses em coma e ficou com uma série de sequelas. Afetou a parte motora dele, então, algumas vezes ele tem crises nervosas”, conta.

“Nesse dia ele ficou extremamente ruim. Liguei e ele me falou que estava tremendo, não conseguia nem mandar mensagem. Pediu para eu chamar uma ambulância, já falando com dificuldade. Liguei para o Samu e a mulher disse que não poderia mandar, porque eu não estava presencialmente com ele.  Disse que precisava de alguém do lado para avaliar se era necessário”, afirma.

Carlos diz que não conseguiu chegar a falar com algum médico. “Liguei de novo para meu amigo e ele disse que iria para a porta do vizinho. Foi o vizinho quem o levou para o hospital.”

“Eu acho esse protocolo muito perigoso, pois meu amigo precisando e não conseguimos a ajuda”, reclama.

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Servidores também são afetados

Carlos Fernando, vice-presidente do Sindmédico-DF, comenta que a falta de médicos é generalizada na Secretaria de Saúde e, com isso, os servidores acabam tendo que trabalhar em dobro para cobrir o déficit de profissionais.

“O pessoal trabalha em condições precárias, o que não é diferente de toda a situação da Secretaria de Saúde. O Samu faz um serviço de excelência, grandioso para a população, mas os médicos, enfermeiros e condutores de veículos estão trabalhando excessivamente”, destaca.

“Há médicos prontos para serem chamados, mas depende do governo convocar. Profissional pronto e gente aprovada tem, só estão esperando serem chamados. E o sindicato reforça isso junto ao governo toda hora, para que o GDF dê melhores condições ao Samu”, completa Carlos.

O que diz a Saúde

Em nota, a Secretaria de Saúde esclareceu que o processo de regulação obedece às normas da Portaria nº 2.048, do Ministério da Saúde, que estabelece o Regulamento Técnico dos Sistemas Estaduais de Urgência. “O protocolo determina a necessidade de um técnico auxiliar para fazer o cadastro da ocorrência, do solicitante e registro do endereço; seguido da transferência da ligação para o médico regulador, que deve avaliar a gravidade da situação assim como a necessidade de envio de equipes”.

“Não se trata de um processo burocrático, mas sim do atendimento ao protocolo definido pelo governo federal, para otimizar o tempo do atendimento médico propriamente dito”, diz.

Tendo em vista o déficit de médicos, não somente no Samu, mas também em outras unidades de saúde, a pasta informou que adotará medidas para repor a força de trabalho. “Atualmente, a Secretaria de Saúde conta com concurso público homologado para o cargo de médico (várias especialidades), no entanto, devido ao impedimento de contratação prevista na Lei nº 9.504/1997, os candidatos aprovados neste certame somente poderão ser nomeados a partir de janeiro de 2023.” São 230 vagas de provimento imediato.

Até 15 de agosto deste ano, o Samu registrou 480.135 ligações via telefone 192, e 183.083 ocorrências encaminhadas e qualificadas pela equipe de regulação médica. Em 2021, a incidência de ligações foi de 741.732, sendo 103.269 compreendendo o período de 0h as 7h.

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