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Pousada defendida por Bolsonaro ao vetar vacina tem laço com governo

Advogado da pousada é gerente jurídico da Embratur, com salário de R$ 25,8 mil; Bolsonaro e ministro ligaram para donos do empreendimento

atualizado

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Jair Bolsonaro em ligação com donos de pousada interditada por recusar vacina
1 de 1 Jair Bolsonaro em ligação com donos de pousada interditada por recusar vacina - Foto: Reprodução

A pousada Baía do Sancho em Fernando de Noronha (PE), defendida por Jair Bolsonaro ao recusar a vacina contra a Covid, tem laços com o governo. O advogado que pediu a reabertura do empreendimento, João Vita Fragoso de Medeiros, tem um cargo de confiança na Embratur. Fragoso é gerente jurídico da autarquia e ganha um salário de R$ 25,8 mil.

Em dezembro, a pousada foi notificada pela Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa) porque os funcionários e proprietários do local se recusaram a se imunizar contra a Covid-19. A agência alertou que a pousada poderia ser processada por crime contra a saúde pública e interditou o empreendimento.

Depois da interdição, o dono da pousada e sua filha receberam a primeira dose do imunizante. A Apevisa, então, deu um prazo para que os outros funcionários se vacinassem.

A pousada decidiu acionar a Justiça de Pernambuco. Quem assinou a ação foi João Vita Fragoso de Medeiros, gerente jurídico da Embratur. O escritório de advocacia de Fragoso fica a 500 metros da autarquia ligada ao Ministério do Turismo.

No último dia 14, o juiz André Carneiro negou o pedido. No dia seguinte, sábado (15/1), a pousada conseguiu reverter a decisão e reabrir o local, após uma decisão do desembargador Itabira de Brito.

O feito foi comemorado horas depois pelo ministro do Turismo, Gilson Machado, que gravou uma ligação por vídeo parabenizando o dono da pousada e oferecendo “tudo o que for necessário”. No dia seguinte, foi a vez de Jair Bolsonaro ligar do Palácio da Alvorada para os proprietários da pousada.

Na conversa, Bolsonaro prometeu visitar a pousada e atacou o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, do PSB. Os proprietários chamavam Bolsonaro de “meu mito” e repetiam “Bolsonaro 2022”.

Os donos também citaram “apoio incondicional” do governo e do ministro do Turismo, Gilson Machado. “O apoio que vocês deram é incondicional. Muito obrigado, presidente, o apoio incondicional do ministro Gilson Machado foi na hora”. Bolsonaro respondeu: “O Gilson trabalhou bem, conversei com ele, estou feliz de ter reaberto sua pousada”.

Quatro dias depois, contudo, o caso teve mais uma reviravolta. O desembargador Erik de Sousa mandou interditar a pousada novamente.

Procurado, o advogado do processo e consultor jurídico da Embratur, João Vita Fragoso de Medeiros, negou conflito de interesses no caso. “Não posso advogar é contra a Embratur. Fui contratado em um cargo de confiança e não tenho dedicação exclusiva.”

Fragoso também negou ter sido acionado pelo ministro do Turismo. “Eu me dou com o ministro, vi a situação do dono da pousada, aquilo me tocou e fiz a ação para eles.”

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