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Pequeno retrato das veias abertas e do coração sangrando

Alguém perguntou: “Por que o Brasil elegeu psicopatas?”. As respostas, algumas inconciliáveis, apontam para o abismo – mas há uma esperança

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Casal anda por gramado seco
1 de 1 Casal anda por gramado seco - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

A pergunta está em todos nós, os que estamos com as veias abertas e o coração sangrando. Foi o arquiteto e fotógrafo José Roberto Bassul quem a fez, numa rede social: “Por que o Brasil elegeu psicopatas?”

Até onde pude acompanhar, havia 91 comentários/respostas, que buscavam explicação desde 1500, quando os portugueses invadiram as terras dos povos originais, até a psicopatia invisível, passando por Lula, Fidel. Alguém sugeriu “Bacurau”, o filme, como resposta.

Sergio Penna comentou: “Não foi o Brasil. Foram, em boa parte, os psicopatas”.

Eugênio Arcanjo escreveu: “Minha tese, já antiga, é que houve a armação da direita mundialmente, sustentada pela mídia e pelo Judiciário, para destruir a esquerda. Nessa onda, os trogloditas levaram a melhor. Claro que a campanha encontrou solo fertilíssimo em nossa sociedade escravista”.

Renato Friedmann considerou os governos petistas iguais ao de agora. “O atual ocupante só é mais tosco e menos dissimulado”. E relativizou a tenebrosa tragédia brasileira: “Sobrevivemos aos dois anteriores, sobreviveremos também a este”.

Alessandra Ninis: “Porque os EUA desenvolveram um tipo de intervenção psicológica que mina os valores da sociedade pela raiz, gerando ódio e promovendo o fascismo. Eles atacaram o Brasil e com suas técnicas de PNL e sugestão destruíram os cérebros dos mais suscetíveis. Isso para roubar nosso pré-sal… uma manobra bélica psicológica”.

Felippi Barbosa esboçou um diagnóstico da psicopatia: “Um psicopata é caracterizado por um desvio de caráter, ausência de sentimentos, frieza, insensibilidade aos sentimentos alheios, manipulação, narcisismo, egocentrismo, falta de remorso e de culpa para atos cruéis e inflexibilidade com castigos e punições”. E elencou as oito profissões preferidas pelos psicopatas: CEO, advogado, jornalista, vendedor, cirurgião, policial, religiosos e políticos.

“A responsabilidade não é apenas do outro”, apontou Marta Crisóstomo Rosário. Ao que Bassul, o provocador da conversa, respondeu que não se julgava juiz de consciências. Marta então esclareceu que não tinha, nem de longe, imaginado ou sugerido isso.

Logo apareceu quem dissesse que Lula e Dilma também são psicopatas. “Dilma foi cassada por psicopatia”, comentou Renato Riella.

Em seguida, alguém fez um longo libelo em defesa de Lula, a partir da leitura do processo do triplex.

Outro comentarista lembrou que o Complexo do Alemão, onde morava Ágatha, votou em Bolsonaro e em Witzel.

Ruy Alcides encontrou “a única explicação em nosso estado infantil de maturidade psíquica que permite que sejamos manobrados a partir de impulsos básicos simples que não exigem uma reflexão mais complexa ou empatia”.

Jansy Mello comentou: “Meu maior medo é o de responder sem acusar, particularmente, o não mais cordial povo brasileiro… e sim o ser humano de todos os tempos. Não são as deformações do sistema eleitoral, não são as questões econômicas os agentes dessa deformação. É a humanidade, na lama do húmus de onde brota. O que me conforta é constatar que um veio de altruísmo e generosidade permanece. Mesmo sem chance de vencer, essa parte nova do espírito humano sobrevive. Tenho fé nisso.”

Mais adiante, Jansy novamente: “… no momento atual, com delação premiada, hackers, escutas, desabafos no Twitter, ou seja, sem privacidade e sem vergonha…o que há de mais vil em cada um pode aparecer e até receber aplauso. Creio que a novidade vem da franqueza ou falta de pudor”.

Renato Friedmann comentou: “Ahh, o pudor! Que saudades!”.

Pudor, esclarece Jansy, “não é só ter vergonha na cara… é ter dignidade. E modular nossos baixos impulsos com respeito ou amor ao outro e à vida.”

A pergunta de Bassul e os comentários que se sucederam são um retrato fugaz do que somos e de onde estamos. E das veias abertas, que em alguns não tira a lógica da razão e a paciência para ouvir o contraditório, por mais absurdo que nos pareça.

E eu fico de fora, por absoluta incapacidade de participar de um debate virtual – como se a conversa se desse numa centrífuga de pensamentos. Eu cairia no abismo, fácil, fácil. Ao mesmo tempo, é atordoante conferir que em cada cabeça há uma sentença. Me identifico muito com o modo de pensar de Jansy, Eugênio e Alessandra. O que não faz nenhuma diferença nesse momento terrivelmente trágico que estamos vivendo, talvez pior do que o mais lúcido, humano, intelectualmente honesto e corajoso dos pensadores é capaz de imaginar.

Uma coisa é certa: qualquer dia desses vai chover.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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