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Por que Boechat era um jornalista fora de série e fará tanta falta?

Um dos maiores nomes da comunicação no Brasil, Ricardo Boechat era conhecido pela irreverência e pelas opiniões fortes sobre temas polêmicos

atualizado

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Reprodução/Twitter
jose simao ricardo boechat
1 de 1 jose simao ricardo boechat - Foto: Reprodução/Twitter

O país perdeu um dos maiores nomes do jornalismo brasileiro na atualidade. Morto em um acidente de helicóptero na tarde desta segunda-feira (11/2), o jornalista Ricardo Boechat era conhecido pela sua personalidade forte e irreverência ao conduzir programas de notícias. Ele teve o seu talento reconhecido em diversos momentos por uma série de prêmios que ganhou ao longo da carreira.

Defensor assíduo da democracia e da liberdade de imprensa, seu trabalho foi marcado pela forma direta que tratava temas polêmicos. Em seu último programa jornalístico antes do acidente que tirou a sua vida, por exemplo, ele cobrou das autoridades respostas para o desastre de Brumadinho. Sem papas na língua.

A morte gerou reações de políticos, artistas e da comunidade como um todo, expressas sobretudo nas redes sociais. Boechat não se considerava íntimo da tecnologia. Em sua página no Facebook, por exemplo, as postagens eram, em sua grande maioria, sobre o trabalho. Reservado na vida pessoal, não costumava publicar nada que dissesse respeito à família. O jornalista deixou seis filhos, sendo quatro do primeiro casamento e dois do segundo.

Veja a seguir alguns motivos por que a morte de Ricardo Boechat representa uma perda para além do jornalismo brasileiro.

Profissionalismo
Ricardo Boechat era conhecido por dizer o que pensava. Versátil, atuou como apresentador e jornalista em vários veículos de comunicação. Ele trabalhou em “O Globo”, “O Dia”, “O Estado de S. Paulo” e no “Jornal do Brasil” antes de ir para a Rede Bandeirantes. Lá, atuou como diretor de jornalismo e era âncora de dois jornais, na Rádio BandNews FM e no Jornal da Band, além de escrever uma coluna para a revista “Isto É”.

Ele era criterioso ao publicar uma informação e, se achasse que era necessário, dava broncas públicas até mesmo em sua equipe. Recentemente, ao se deparar com informações desencontradas durante a apresentação do programa da manhã na Band News FM, ele deu um pito na produção quando ainda estava no ar.

“Temos também outro oficial do Corpo de Bombeiros, o Tenente Coronel Douglas… Não? Por que botaram na minha mão então? Toma! Vou devolver esse papel e vocês, quando puderem me acionar adequadamente, me acionem”, bradou.

Toda essa cobrança era reflexo do seu talento. Boechat ganhou diversos prêmios na carreira, incluindo o Esso, considerado o mais importante de todos, em três oportunidades (1989, 1992 e 2001). Foi o maior vencedor do Prêmio Comunique-se (2006, 2007, 2008, 2010, 2012, 2013, 2014 e 2017). Recebeu o título de Jornalista mais admirado do país, junto com Miriam Leitão (2014 e 2015) e o Troféu Imprensa 2016 como Melhor Apresentador de Telejornal.

Bom Humor
Ao lado da personalidade criteriosa, muitas vezes bélica, o bom humor também era uma característica marcante do jornalista, que costumava dizer que herdou o sarcasmo dos portenhos. Boechat era filho de diplomata e nasceu na cidade de Buenos Aires, na Argentina.

Língua afiada
Uma das discussões mais polêmicas nas quais Boechat se envolveu ocorreu em 2015, quando trocou farpas com o pastor Silas Malafaia. Durante programa ao vivo na Rádio Band News FM, o jornalista falava sobre o caso de uma menina que foi apedrejada na cabeça por ser adepta do candomblé e leu um tuíte feito pelo pastor direcionado a ele. Na publicação, o pastor que desafiava Boechat a um debate e o acusava por incitar o ódio.

“Ô Malafaia, vai procurar uma rola, vai. Não me enche o saco. Você é um idiota, um paspalhão, um pilantra, Um tomador de grana de fiel, explorador da fé alheia. E agora vai querer me processar pelo que eu acabei de falar. O que é que você faz? Você gosta muito de palanque e eu não vou te dar palanque por que você é um otário, um paspalhão. O que eu falei e repito, não vou partir pra debate nenhum com você porque não quero te dar essa confiança, é que no âmbito de igrejas neopentecostais estão acontecendo atos de incitação à intolerância religiosa, mais do que em outros ambientes. Em nenhum momento, se pegar minhas falas que estão gravadas, eu disse qualquer coisa que generalizasse esse comentário. Qualquer coisa. Até porque, diferente de você, eu não sou um idiota. Então você é um homofóbico, você é uma figura execrável, horrorosa e que toma dinheiro das pessoas a partir da fé. Você é rico. Eu não sou rico porque tomei dinheiro das pessoas pregando salvação após a morte. Você é um charlatão, cara. Que usa o nome de Deus e de Cristo para tomar dinheiro dos fiéis. Você é um tomador de grana. Você e muitos outros. Não tenho medo de você não, seu otário! Vai procurar uma rola”, declarou Boechat, ao vivo.

Em reposta, Malafaia publicou 34 tuítes enquanto falava na rádio e mais tarde publicou um vídeo no qual dizia que processaria o comunicador.

 

Notícia
A revelação de que o jornalista tinha morrido foi feita ao vivo na Rádio Band. A repórter Sheila Magalhães foi quem noticiou a tragédia. “Boechat apresentou o noticiário da Band News logo pela manhã, esteve em Campinas para um evento de um laboratório farmacêutico, foi a bordo de um helicóptero, acompanhado de um piloto”, descreveu. “Ele pegou o helicóptero por volta das 11h50 da manhã e pousaria no Grupo Bandeirantes por volta de 12h15, o que não aconteceu”, disse.

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Tragédia
Por volta das 14h, a Band News informou no rádio que interromperia a programação. Os colegas de Boechat pediram desculpas aos ouvintes, mas disseram que não estavam em condições de continuar a programação. Na sequência, foi deixada apenas a vinheta no ar.

Na TV Band, o apresentador José Luiz Datena foi quem informou a morte. “Com profundo pesar, desses quase 50 anos de jornalismo, cabe a mim informar a vocês que o jornalista, amigo, pai de família, companheiro, que na última quarta, que eu vim aqui apresentar o jornal, me deu um beijo no rosto, fingido que ia cochichar alguma coisa, e, no fim, brincalhão como ele era, falou: ‘É, bocão, eu só queria te dar um beijo’. Queria informar aos senhores que o maior âncora da televisão brasileira, o Ricardo Boechat, morreu hoje num acidente de helicóptero, no Rodoanel, aqui em São Paulo”. Datena chorou ao vivo.

Vida e Carreira
Ricardo Boechat era apresentador do Jornal da Band e da rádio BandNews FM, além de ser colunista da revista “IstoÉ”. Ele trabalhou nos jornais “O Globo”, “O Dia”, “O Estado de S. Paulo” e “Jornal do Brasil”.

Na década de 1990, teve uma coluna diária no “Bom Dia Brasil”, na TV Globo, e trabalhou no “Jornal da Globo”. Foi ainda diretor de jornalismo da Band e teve passagem pelo SBT.

Ao longo da carreira, ganhou três vezes o prêmio Esso e foi o único jornalista a vencer em três categorias o Prêmio Comunique-se (Âncora de Rádio, Colunista de Notícia e Âncora de TV).

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Também foi eleito o jornalista mais admirado na pesquisa do site Jornalistas&Cia em 2014, que elencou os 100 principais profissionais do mercado.

Filho de diplomata, Ricardo Boechat nasceu em 13 de julho de 1952, em Buenos Aires. O pai estava a serviço do Ministério das Relações Exteriores na Argentina na época. O jornalista deixa a mulher, Veruska, e seis filhos.

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