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Erros e acertos de seis presidenciáveis em fala à indústria brasileira

Os candidatos participaram de sabatina realizada pela Confederação Nacional da Indústria em Brasília nesta quarta (4)

atualizado

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Reprodução/Youtube
Presidenciáveis
1 de 1 Presidenciáveis - Foto: Reprodução/Youtube

Na quarta-feira (4/7), por mais de seis horas, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) parou para ouvir os projetos e propostas de seis pré-candidatos à Presidência da República. No evento, que encheu um auditório em Brasília e foi transmitido pela internet, os políticos falaram sobre economia, sociedade, segurança e educação. Veja o resultado das checagens:

“A LDO prevê, para o ano que vem [2019], R$ 130 bilhões de déficit primário”
Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, em evento realizado pela CNI no dia 4 de julho de 2018

O projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2019 prevê uma meta de déficit primário de R$ 139 bilhões para o governo central – R$ 9 bilhões a mais do que disse Alckmin. Para 2020 e 2021, o déficit previsto é de R$ 110 bilhões e R$ 70 bilhões, respectivamente. Procurada, a assessoria do tucano disse que se tratou “apenas de uma aproximação pertinente à realidade”.

“A mortalidade infantil no Brasil era 140 [a cada mil nascidos vivos]. Em São Paulo, é de 11″
Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, em evento realizado pela CNI no dia 4 de julho de 2018

O IBGE informa que, em 1940, a taxa de mortalidade infantil era de 146,6 a cada mil nascidos vivos. Em 2016, último dado disponível, de 13,3. O instituto indica que a taxa de mortalidade infantil na cidade de São Paulo é de 11,12 para cada mil nascidos vivos e que, no estado de São Paulo, é de 9,9 a cada mil nascidos vivos.

“Apenas 30% das pessoas que terminam o 9º ano conseguem ler e interpretar um texto”
Marina Silva, pré-candidata da Rede à Presidência da República, em evento realizado pela CNI no dia 4 de julho de 2018

A última edição do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que data de 2015 e foi aplicado a jovens de 15 anos em todo país, mostra que, no Brasil, 49% dos estudantes estavam entre os níveis 2 e 6 de leitura – total superior ao mencionado pela pré-candidata. O nível 2 é o patamar que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estabelece como necessário para que o estudante possa exercer plenamente sua cidadania. Procurada, Marina não respondeu.

“[A maioria dos estudantes do Ensino Médio não consegue] nem fazer operações simples de matemática”
Marina Silva, pré-candidata da Rede à Presidência da República, em evento realizado pela CNI no dia 4 de julho de 2018

A última edição do Pisa também mostra que, em 2015, 70,3% dos estudantes brasileiros estavam abaixo do nível 2 em Matemática. Para a OCDE, esse é o patamar mínimo necessário para que o estudante possa exercer plenamente sua cidadania.

“Vamos falar a verdade sobre o Trump: o pessoal lá [nos EUA] está gostando”
Jair Bolsonaro, pré-candidato à Presidência da República pelo PSL, em entrevista dada após evento realizado pela Confederação Nacional da Indústria no dia 04 de julho de 2018

A última pesquisa de popularidade feita pelo Gallup nos Estados Unidos mostra que, entre os dias 25 de junho de 1 de julho, 42% dos entrevistados aprovavam o governo Trump enquanto 53% o desaprovavam. A aprovação do republicado estava abaixo da média de 53% registrada pelos ex-presidentes americanos desde 1938. Se comparado a Barack Obama, George W. Bush e Bill Clinton no segundo mês de junho de suas respectivas administrações, Trump tinha a menor aprovação.

O site americano RealClearPolitics, que reúne um total de dez pesquisas sobre a presidência americana, mostra que, em nenhuma delas, Trump ultrapassava 48% de aprovação. Procurado, o pré-candidato não respondeu.

“O fuzil (…) foi para aquela região [Angra dos Reis]”
Jair Bolsonaro, pré-candidato à Presidência da República pelo PSL, em evento realizado pela Confederação Nacional da Indústria no dia 4 de julho de 2018

Ao falar sobre segurança pública, o pré-candidato citou o caso específico de Angra dos Reis, município no sul fluminense. Segundo o Instituto de Segurança Pública do RJ, nos cinco primeiros meses deste ano, cinco fuzis foram apreendidos na área da 166ª Delegacia Policial, que abrange a cidade em questão. Esse total já é maior do que a soma de todos os fuzis apreendidos na região em 2017 e 2016 (dois por ano).

“[No Brasil, é preciso] 101 dias para abrir uma empresa”
Henrique Meirelles, pré-candidato à Presidência da República pelo MDB, em evento realizado pela Confederação Nacional da Indústria no dia 4 de julho de 2018

O Banco Mundial mostra que, em 2017, o tempo médio necessário para abrir um negócio no Brasil era de 79,5 dias, quantia inferior ao mencionado por Meirelles. Ainda assim esse era o sexto pior índice entre os países analisados. O Brasil só ficou atrás de Venezuela, Camboja, Haiti, Suriname e Eritreia. Procurado, o pré-candidato não respondeu.

“Quando eu entrei no governo, o tempo médio gasto por uma empresa para pagar imposto (…) era de 2,6 mil horas por ano”
Henrique Meirelles, pré-candidato à Presidência da República pelo MDB, em evento realizado pela Confederação Nacional da Indústria no dia 4 de julho de 2018

O relatório Doing Business 2014, projeto do Banco Mundial que analisa empresas de diversos países, mostra que as brasileiras gastavam 2,6 mil horas por ano para pagar seus impostos. No início de 2017, Meirelles propôs um programa para reduzir o custo e o tempo dispendido pelas empresas com isso. Sua meta era diminuir para 600 horas por ano.

“A taxa de câmbio [do dólar no dia em que Lula tomou posse] estaria [hoje] a R$ 9 (…). Aí o Lula entrega para a Dilma, oito anos depois, a taxa de câmbio [do dólar] a R$ 1,75”
Ciro Gomes, pré-candidato à Presidência da República pelo PDT, em evento realizado pela Confederação Nacional da Indústria no dia 4 de julho de 2018

Em 2 de janeiro de 2003, primeiro dia útil do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o dólar valia R$ 3,52. Corrigindo pela inflação até maio de 2018, última disponível no Banco Central, seriam R$ 8,60 – valor inferior ao citado por Ciro.

Em 31 de dezembro de 2010, último dia do governo Lula, o dólar valia R$ 1,66. Corrigido pela inflação do mesmo período, valeria R$ 2,54 – acima do mencionado pelo pré-candidato. No primeiro caso, Ciro aplicou a correção. No segundo, ignorou-a. Vale pontuar que corrigir a cotação do dólar pela inflação não é uma prática que gera consenso entre os economistas. Procurado, o pré-candidato não respondeu.

“O Brasil está com mais de 60 milhões de nacionais no SPC ou no Serasa”
Ciro Gomes, pré-candidato à Presidência da República pelo PDT, em evento realizado pela Confederação Nacional da Indústria no dia 4 de julho de 2018

Em junho, o Serasa Experian divulgou seu último estudo sobre o assunto, com números referentes a maio de 2018. Naquele mês, a inadimplência no Brasil atingia 61,4 milhões de consumidores.

“Eu só fui governo [por] quatro anos, quando governei o Paraná, e [por] mais sete meses, no segundo mandato do presidente Fernando Henrique”
Alvaro Dias, pré-candidato à Presidência da República pelo Podemos, em evento realizado pela Confederação Nacional da Indústria no dia 4 de julho de 2018

Dias, de fato, passou a maior parte da sua vida política na oposição. Entretanto, seu período como senador da base de apoio de Fernando Henrique Cardoso foi maior do que os sete meses que ele citou. Dias se elegeu senador pelo PSDB, partido do presidente, em 1998 e só deixou a sigla em agosto de 2001, depois de ser expulso por ter assinado uma CPI contrária aos interesses da legenda. Procurado, o pré-candidato não retornou.

“De 2006 a 2016, sepultamos 324 mil jovens assassinados no nosso país”
Alvaro Dias, pré-candidato à Presidência da República pelo Podemos, em evento realizado pela Confederação Nacional da Indústria no dia 4 de julho de 2018

O Atlas da Violência de 2018 mostra que 324.967 jovens com idades de 15 a 29 anos foram vítimas de homicídio no Brasil de 2006 a 2016. Nesse período, o ano que com maior número de mortos foi 2016, com 33.590 assassinados.

Reportagem: Chico Marés, Clara Becker, Leandro Resende e Nathália Afonso
Editado por: Cristina Tardáguila e Natalia Leal

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