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O poder, o violino, e como Lula seguirá governando, pela direita

É uma receita que ele domina há muito tempo

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Imagem colorida do presidente Lula de lado - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida do presidente Lula de lado - Metrópoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Acho graça quando ouço sempre que termina uma eleição que Lula será obrigado a se inclinar cada vez mais para a direita se pretender de fato concorrer a um novo mandato.

Foi pela esquerda que ele concorreu em 1989, 1994 e 1998, sendo derrotado por dois Fernandos – Collor de Mello, uma vez, e Henrique Cardoso, duas; no caso deste último, no primeiro turno.

Da quarta vez, contra José Serra (PSDB), ex-ministro da Saúde do governo Fernando Henrique, Lula só concordou em disputar se lhe fossem dados todos os meios necessários para vencer.

Entenda-se como principais meios: dinheiro à beça para financiar sua campanha, um bom marqueteiro, e liberdade de sobra para se apresentar como um candidato de centro.

O publicitário baiano Duda Mendonça foi o inventor do Lulinha Paz & Amor, que caiu no gosto popular. Lula assinou uma Carta aos Brasileiros, na verdade destinada a banqueiros e empresários.

O ex-líder sindical aposentou o macacão e vestiu ternos bem cortados, sacando do guarda-roupa gravatas de marca que ganhara de presente. E assim se elegeu em 2022 e se reelegeu em 2006.

Em 2010, elegeu Dilma Rousseff. Só não a sucedeu porque ela bateu o pé. Reelegeu-a em 2014, e só não voltou em 2018 porque o ex-juiz Sérgio Moro o prendeu para dar passagem a Bolsonaro.

Os pobres entraram na agenda do Brasil por obra e graça de Lula. Essa é uma marca dele, da qual jamais abrirá mão. Mas a defesa dos pobres deixou há algum tempo de ser monopólio de Lula.

A direita, o centro e até a extrema-direita, hoje, defendem os pobres, sinceramente ou por mero oportunismo, não importa. E Lula terá que encontrar outras coisas para se diferenciar deles.

Não basta a memória, que aos poucos se esvai, de que foi ele, depois de Getúlio Vargas, que descobriu os pobres por ter sido um, e que os colocou em primeiro lugar. Não basta. É insuficiente.

Uma vez, Lula posou para fotos fingindo tocar um violino; uma vez, não, duas. À época, supõem-se, quis dar a entender que se ganha eleição pela esquerda, mas que se governa pela direita.

Explicitamente, ele o disse ao reunir-se com seu ministério no Palácio do Planalto em 2003. Cito de memória:

– Toda vez que fui pela esquerda, me dei mal.

Lula nunca foi de esquerda. Como metalúrgico, manteve-se distante dela, apesar de Frei Chico, um dos seus irmãos, ser militante do Partido Comunista Brasileiro, o Partidão.

Lula cavalgou a esquerda para fundar o PT e foi no lombo dela que se elegeu presidente três vezes. Não terá maiores dificuldades para a cavalgar pela quarta vez daqui a dois anos.

Chovem no molhado, portanto, os que o aconselham, dado aos resultados das eleições municipais do último domingo, a inclinar-se mais e mais para a direita. É o que fará sem o menor incômodo.

Eleição municipal pouco tem a ver com eleição presidencial, ensina a história.  De resto, essa eleição trouxe uma boa notícia para Lula: em 2016, a direita irá às urnas partida em dois ou mais pedaços.

Até lá, Bolsonaro será uma página virada ou puída pelo tempo. E surgirão outros nomes dispostos a conquistar o espaço que já foi dele. Pela esquerda, Lula não terá adversários. É sua vantagem.

Mas não é a única. O violino segue com Lula. E isso também faz diferença. O sistema é foda, parceiro.

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