Barra Torres, presidente da Anvisa, deixa mal Queiroga e Pazuello
Em depoimento à CPI da Covid-19, presidente da Anvisa afirma o oposto do que diz Bolsonaro sobre o combate à pandemia
atualizado
Compartilhar notícia

Simples assim. Sabe por que Marcelo Queiroga, o quarto ministro da Saúde do governo Bolsonaro em pouco mais de um ano, voltará a depor na CPI da Covid-19 do Senado?
Porque, quando depôs pela primeira vez, mentiu – e não foi pouco –, e ocultou informações sempre que pôde. Quem mente em CPI, sob o juramento de dizer a verdade, corre o risco de ser preso.
Parte dos 11 membros da CPI que ouviu Queiroga na semana passada cogitou prendê-lo, mas prevaleceu a moderação. Bolsonaro queria o contrário, para tentar tocar fogo no país.
De resto, para a CPI, o melhor seria só ouvir outra vez Queiroga depois de reunir mais informações para provar que ele mentiu e driblou perguntas embaraçosas que lhe fizeram.
E assim será. Queiroga disse, por exemplo, que não havia autorizado e que desconhecia remessas recentes para estados e municípios de drogas, como a cloroquina, para uso contra a Covid-19.
Contudo, segundo o jornal O Globo, entre o fim de março e abril, após a posse de Queiroga, foram entregues 127,5 mil comprimidos a dois municípios do interior de São Paulo.
A plataforma Localiza SUS, atualizada pelo Ministério da Saúde, informa que o Ministério da Saúde enviou 27,7 mil comprimidos a Limeira (SP) no dia 30 de março.
No dia 27 de abril, 100 mil cápsulas para Presidente Prudente (SP). Cloroquina e drogas semelhantes não são eficazes no combate à pandemia. Tratamento precoce é uma fraude.
A carga de cloroquina despachada para Presidente Prudente ocorreu uma semana depois de a primeira-dama Michelle Bolsonaro visitar o município e distribuir cestas básicas.
Em São José do Rio Preto, para orgulho do seu marido, Michelle posou para fotos com caixas em tamanho aumentado de medicamentos do “tratamento precoce” — entre eles, a cloroquina.
Queiroga não terá vida fácil na CPI a levar-se em conta o depoimento que presta, ali, Antônio Barra Torres, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Barra Torres reconheceu o erro de ter ido a um encontro, em março de 2020, de Bolsonaro com seus devotos, ao pé da rampa do Palácio do Planalto, desrespeitando normas de isolamento.
Confirmou que rechaçou uma proposta, feita em reunião no Palácio do Planalto há mais de um ano, de incluir na bula da hidroxicloroquina a recomendação para tratamento da doença.
E repetiu o que Bolsonaro negou-se a admitir até um dia desses: “Temos, sim, que nos vacinar”. Os brasileiros, segundo ele, “não devem se orientar” por vozes que digam o inverso.
Barra Torres é militar, tanto quanto Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, que fugiu ao depoimento marcado na CPI, mas que não poderá continuar fugindo. Será ouvido na próxima semana.
A diferença é que Barra Torres obedece à sua consciência quando valores mais altos, como a vida, estão em jogo. Pazuello obedece a quem manda, independente do que mande.