As duas faces da CPI da Covid e o que o futuro reserva a Bolsonaro
Enquanto distrai o público com o espetáculo de depoimentos, a CPI se debruça sobre os principais crimes do governo no falso combate ao vírus
atualizado
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A face visível da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 é a do festival de mentiras destiladas pelos depoentes interessados em não se criminalizar, nem ao governo a que servem ou serviram. O mais recente deles, o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, escondeu a farda para não envergonhá-la.
A face oculta da CPI tem pouco a ver com o espetáculo oferecido ao público que a tudo acompanha pelos relatos ao vivo da mídia convencional e das redes sociais. A audiência só tem aumentado. Quer-se entender por que ultrapassamos a casa dos 444 mil mortos e dos quase 16 milhões de infectados. Como foi possível?
Documentos e informações que abarrotam os cofres da CPI desenham uma resposta cada dia mais robusta. Muitos crimes foram cometidos pelo governo no falso combate que travou contra o vírus, mas os mais importantes deles foram quatro. A saber:
1) Acreditar por querer acreditar, sem amparo em fatos, que a pandemia só perderia força quando 70% da população fossem infectadas. Deu-se passe livre para que a doença se espalhasse. Que morressem os que tivessem de morrer, como disse um dia o presidente Jair Bolsonaro. Importante seria salvar a economia.
2) Recomendar o chamado tratamento precoce à base de drogas ineficazes como a cloroquina e outras. No início da pandemia, de fato pensou-se que tais drogas, quando nada, evitariam a corrida aos hospitais. Logo, descobriu-se que provocavam efeitos colaterais e que simplesmente eram inúteis contra a Covid.
3) Atrasar deliberadamente a compra de vacinas, de vez que a contaminação das pessoas deveria avançar, que o tratamento precoce sairia mais barato e que a volta ao trabalho, com o desrespeito às medidas de isolamento baixadas por governadores e prefeitos, era o melhor discurso para reeleger Bolsonaro.
4) O morticínio em Manaus, em janeiro último, onde faltou oxigênio, foi resultado das escolhas erradas feitas pelo governo. Diz-se que faltou uma estratégia nacional para o enfrentamento da doença. Não faltou. Existiu. Foi ela que conduziu o país à situação que ora atravessa. Sem vacina suficiente, ainda irá piorar.
O ritmo da aplicação da primeira dose de vacina caiu 17% na semana passada. Em relação à aplicação da segunda dose, a queda foi de 23%, segundo o jornal Folha de S. Paulo. A Pfizer, entre 14 de agosto e 12 de setembro de 2020, fez 10 tentativas de vender vacina ao governo brasileiro, e todas ficaram sem resposta.
A levar-se em conta o que faz e o que diz Bolsonaro, ou ainda não se convenceu da sua responsabilidade pelo que ocorre ou não quer admitir para não perder os apoios que lhe restam. Lidera um governo que chegou ao fim antes do tempo previsto. Luta para sobreviver como candidato à reeleição viajando a caça de votos.
É a única alternativa que tem. Se não renovar o mandato, voltará para casa na condição de presidente acidental. E se tornará alvo de processos na companhia dos filhos.