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Sem pânico: é fácil pegar coronavírus, mas mortalidade é baixa

Consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia diz que doença “não é perigosa”. Levantamento do (M)Dados confirma 3,4% de letalidade

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Mulher segurando máscara cirúrgica
1 de 1 Mulher segurando máscara cirúrgica - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O assunto tomou o noticiário de saúde no Brasil: a chegada do novo coronavírus tem sido monitorada, caso a caso, dia a dia, desde que a China divulgou, em dezembro de 2019, que uma doença misteriosa seria a responsável por pelo menos seis mortes no país. Assustadas com a falta de informação acerca deste novo vírus, as pessoas correram às farmácias para comprar máscaras, apesar de não haver indicação de eficácia para quem não está infectado. Atualmente, é difícil encontrar álcool gel nas prateleiras. Qualquer pessoa tossindo é olhada com desconfiança.

Mas, será que o coronavírus é assim tão perigoso? Devemos ficar tão preocupados?

“Ela aparentemente tem maior transmissibilidade, ou seja, maior propagação. Não se sabe ainda com exatidão o período de contaminação do vírus e se pessoas sem sintomas ou no período de incubação (tempo entre o contato com o vírus e o aparecimento de sintomas) podem transmitir ou não. Mas não podemos dizer que é uma doença perigosa”, explica o infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

A opinião do médico se sustenta em números e pode ser comparada a outras doenças respiratórias semelhantes. Segundo um levantamento feito pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, entre fevereiro de 2003 e dezembro do mesmo ano, o vírus Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) contaminou 8.098 pessoas e matou 774, tendo uma taxa de mortalidade de 9,56%. O Sars também é um coronavírus, apareceu em 2002 na China, e é apontado como um parente próximo do Covid-19.

O Mers (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), que também é um coronavírus, é ainda mais letal, apesar de menos contagioso. De setembro de 2012 até 2020, apenas 2.494 casos foram confirmados, mas 858 evoluíram para óbito, terminando com uma taxa de mortalidade de 34,4%.

Nenhuma das duas epidemias chegou forte ao Brasil, mas a população se lembra bem do H1N1, responsável pela gripe suína. O vírus é antigo, reconhecido pela primeira vez em 1919, mas estourou em 2009, vindo do México. Entre abril de 2009 e abril de 2010, só nos Estados Unidos, 60,8 milhões de pessoas foram infectadas pelo H1N1, e 12.469 morreram, resultando em uma taxa de mortalidade de 0,02%.

Em 2019, dez anos depois do começo da epidemia e apesar de a vacina contra o vírus estar disponível, o Brasil registrou 3.730 casos da doença e 796 mortes, segundo o Ministério da Saúde. Em 2018, foram 3.880 pacientes confirmados e 917 óbitos. A taxa de mortalidade, nestes casos, seria de 21,34% e 23,63%, respectivamente, mas não deve ser tão alta na realidade: os sintomas de H1N1 são leves na maioria dos casos e o número de pessoas infectadas, mas que não recebeu o diagnóstico fechado, provavelmente é maior, diminuindo a porcentagem de óbitos em relação à quantidade de casos.

O novo coronavírus nasceu em um mundo mais globalizado, com um fluxo de viagens internacionais mais intenso. Contudo, as informações até agora dão conta de que o vírus é mais contagioso quando comparado ao Sars ou Mers (da mesma família), mas possui mortalidade bem menor.

De janeiro de 2020 até esta quinta-feira (05/03), de acordo com um levantamento feito pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, foram cerca de 97 mil casos confirmados no mundo inteiro, e 3.303 mortes, levando a uma taxa de mortalidade de 3,41%.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a letalidade fora da China é de 1,5%, enquanto dentro do país asiático é de 3,6%. A maioria das pessoas que morreram por conta do novo coronavírus é idosa, com a saúde fragilizada por outras comorbidades, como diabetes e hipertensão.

De acordo com um relatório da OMS feito após análise de quase 56 mil casos e 2115 mortes, a taxa de mortalidade é diferente para cada tipo de doença. Em diabéticos, o índice é de 9,2%. Em hipertensos, 8,4%, porcentagem parecida com a de pessoas que já tinham algum problema respiratório. Entre os pacientes com câncer, a taxa é de 7,6%.

Acima de 80 anos, em geral, a mortalidade do coronavírus chega a 21,9%. Em contrapartida, a taxa de letalidade em crianças, adolescentes e adultos jovens é de apenas 0,2%.

No Brasil, por enquanto, há oito casos confirmados de coronavírus, enquanto 531 estão sendo investigados e 315 foram descartados.

Para Weissmann, muito do pânico da sociedade vem do medo de um vírus novo, sem tratamento específico ou vacina para proteger. O sentimento é de estar vulnerável. “Mas cerca de 80% dos casos não têm sintomas ou apresentam apenas manifestações leves, semelhantes a um resfriado comum”, afirma o médico.

Ainda segundo o especialista, a atenção da opinião pública está toda no coronavírus, mas devia estar focada na dengue e no sarampo, duas doenças que estão aparecendo (e matando) cada vez mais. “Destaco que a dengue pode ser prevenida combatendo o Aedes aegypti, enquanto o sarampo pode ser prevenido por vacina, que é segura e eficaz”, conta. Segundo a OMS, cerca de 140 mil pessoas morrem, por ano, vítimas de sarampo, principalmente crianças com menos de cinco anos.

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