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PM promove início de ano mais sangrento da série histórica na Baixada

Dados oficiais mostram que nº de mortos por PMs em janeiro e fevereiro triplicou em relação a 2023 na Baixada Santista e é o maior em 8 anos

atualizado

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Divulgação/3ºBpchq
Em foto colorida PM com capacete e fardado atira com escopeta calibre 12 - Metrópoles
1 de 1 Em foto colorida PM com capacete e fardado atira com escopeta calibre 12 - Metrópoles - Foto: Divulgação/3ºBpchq

São Paulo — Considerada uma região “tomada pelo crime organizado”, nas palavras do próprio governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a Baixada Santista vive um clima de guerra desde o ano passado, quando um soldado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) foi assassinado no Guarujá e a Polícia Militar (PM) reagiu com uma operação que resultou em 28 suspeitos mortos, entre julho e setembro de 2023.

Neste ano, a onda de violência no litoral sul paulista se intensificou, em meio a novas mortes de policiais militares — já foram três vítimas de farda desde o fim de janeiro. Dados do Ministério Público de São Paulo (MPSP) e ocorrências confirmadas pela Secretária da Segurança Pública (SSP) indicam que o início de 2024 já é o mais sangrento em relação a mortes por intervenção policial desde 2017, quando o MPSP passou a contabilizar os casos.

Entre janeiro e a primeira semana deste mês, 26 pessoas morreram em supostas trocas de tiro com policiais militares nas cidades da Baixada Santista, segundo os números do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp). Esse é o maior registro dos oito anos da séria histórica do MPSP e representa um aumento de 225% em relação às oito mortes em supostos tiroteios no primeiro bimestre de 2023.

Em todo o estado, no mesmo período, foram 76 casos registrados. Depois do dia 7/2, data da última atualização dos dados do Gaesp, mais dez suspeitos foram mortos, conforme o Metrópoles noticiou a partir da confirmação da SSP. O balanço inclui a morte de um suspeito que teria atirado contra PMs durante abordagem no Guarujá, nessa quinta-feira (15/2). Com isso, o total de mortes decorrentes de intervenção policial na Baixada neste ano já chega a 36.

Escalada da violência

A escalada da violência nas cidades do litoral sul, como Santos, São Vicente, Guarujá e Praia Grande, começou com o assassinato do soldado Marcelo Augusto da Silva, no dia 26/1. O policial foi atingido por um tiro na cabeça, quando retornava do litoral para casa, na capital paulista. Isso desencadeou a Operação Escudo, durante a qual o também soldado Samuel Wesley Cosmo, da Rota, foi morto com um tiro no rosto, no último dia 2/2. O crime foi registrado pela câmera corporal dele (assista abaixo).

 

Dois dias após a morte do primeiro PM, dois suspeitos foram mortos em supostos confrontos. Na madrugada do dia seguinte ao assassinado do soldado Cosmo, mais dois morreram em Santos e Guarujá. Na ocasião, um oficial da PM, ouvido sob reserva pelo Metrópoles, afirmou temer um banho de sangue na região, com a resposta que seria dada pela tropa às mortes dos dois PMs.

Tiroteios

Praticamente todos os casos de mortes decorrentes de intervenção policial têm a mesma dinâmica narrada pelos agentes envolvidos. Os suspeitos reagem às abordagens atirando contra os PMs, que revidam. Foi assim na penúltima morte registrada na região, na última terça-feira (13/2), em Santos, de um homem de 33 anos.

De acordo com a SSP, os PMs estavam em diligências em uma região conhecida pelo tráfico de drogas quando foram surpreendidos com disparos de arma de fogo. Os agentes revidaram e um suspeito foi atingido. Ele foi socorrido e levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Noroeste, onde morreu.

O histórico deste caso se assemelha a muitos dos relatados oficialmente por PMs, durante depoimentos à Polícia Civil. Alguns deles, porém, são contestados por testemunhas e familiares das vítimas. É o caso do catador de material reciclável José Marcos Nunes da Silva, de 45 anos. Segundo testemunhas, ele implorou a policiais da Rota para não ser morto a tiros, na madrugada do dia 3/2, em São Vicente.

Ele foi um a segunda pessoa morta pela tropa de elite da PM, logo após o assassinato do soldado Cosmo. “Pelo amor de Deus, eu sou trabalhador. Minhas filhas me ama”, teria gritado José. As súplicas foram ouvidas e relatadas por uma testemunha, que estava no local.

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Na versão registrada na delegacia e divulgada pela SSP, o catador teria sido abordado por policiais da Rota na Avenida Sambaiatuba, perto da casa dele, e saído correndo atirando contra os agentes, que revidaram. Ele foi ferido, levado para um hospital da região e morreu no local.

Amigos do catador e testemunhas, todos ouvidas em sigilo pelo Metrópoles, afirmaram que José não tinha arma e nenhum tipo de vínculo com o tráfico de drogas ou com o crime organizado. Ele costumava sair de noite para recolher materiais recicláveis, como fez no dia da abordagem policial. Amigos acreditam que ele tenha sido alvo da Rota porque estava sem documento e porque já havia sido preso por furto, em 2010.

O que diz a SSP

Em nota enviada ao Metrópoles nessa quinta-feira (15/2), a SSP afirma investir no treinamento das forças de segurança e em políticas públicas “para reduzir a letalidade policial”.

“Os números de mortes durante intervenções policiais, no entanto, indicam que a causa não é a atuação da polícia, mas sim a ação dos criminosos que optam pelo confronto, colocando em risco tanto a população quanto os participantes da ação”.

Entre as medidas pontuadas pela pasta para baixar a letalidade da polícia, estão cursos de aquisição de equipamentos de menor potencial ofensivo, além de comissões que analisam ocorrências, com o intuito de “ajustar procedimentos, revisar treinamentos e aprimorar as estruturas investigativas”.

Todas as mortes decorrentes de supostas trocas de tiros com a PM, acrescentou a SSP, são investigadas pela Polícia Civil e acompanhadas pela Promotoria e pela Justiça.

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