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Primeira santa brasileira: Irmã Dulce é canonizada no Vaticano

A partir deste domingo (13/10/2019), a religiosa passa a ser chamada de Santa Dulce dos Pobres

atualizado

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Franco Origlia/Getty Images
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1 de 1 Irma-dulce - Foto: Franco Origlia/Getty Images

Uma multidão acompanhou neste domingo (13/10/2019) a canonização de cinco beatos na Praça São Pedro, no Vaticano. Entre eles, Irmã Dulce, a primeira santa nascida no Brasil. A cerimônia histórica comandada pelo papa Francisco começou por volta das 5h (horário de Brasília) e reuniu 50 mil pessoas.

Pelo menos 15 mil peregrinos brasileiros acompanharam a canonização. Além de Irmã Dulce (1914-1992), foram oficializados santos o teólogo e cardeal inglês John Henry Newman (1801-1890); a religiosa italiana Giuditta Vannini (1859-1911); a religiosa indiana Maria Thresia Chiramel Mankidiyan (1876-1926); e a catequista e costureira suíça Margherita Bays (1815-1879).

“Em honra da Santíssima Trindade, pela exaltação da fé católica e para incremento da vida cristã, com autoridade de nosso senhor Jesus Cristo, os santos apóstolos Pedro e Paulo, depois de haver refletido longamente, ter invocado a ajuda divina e escutado o parecer de muitos irmãos do episcopado, declaramos e definimos santos os beatos: John Henry Newman, Giuseppina Vannini, Mariam Thresia Chiramel, Dulce Lopes Pontes e Marguerite Bauys”, declarou o papa, em latim.

O músico José Maurício Moreira, 51 anos, que recuperou a visão após intercessão da Irmã Dulce participou da missa. No altar onde ocorreu a cerimônia, estavam a imagem de Nossa Senhora originária do Brasil, uma pedra ametista em formato de coração que pertenceu a Irmã Dulce e um osso da costela da religiosa baiana, que agora passa a ser chamada de Santa Dulce dos Pobres. O evento ocorreu em meio ao Sínodo da Amazônia.

José Maurício comemorou bastante emocionado a canonização de Santa Dulce dos Pobres. “Minhas pernas estão tremendo até agora”, disse, em entrevista à TV Globo, após a cerimônia na Praça São Pedro, no Vaticano.

Familiares de Irmã Dulce também acompanharam a canonização. Entre eles, a sobrinha da religiosa baiana, Maria Rita Lopes Pontes. Ela resumiu em uma palavra o seu sentimento: “Gratidão”. Segundo ela, gratidão, primeiro, a Deus, e segundo aos homens, pelo momento histórico.

Durante a missa, o Papa Francisco afirmou que essas pessoas que se dedicam aos mais pobres na vida religiosa fizeram “um caminho de amor nas periferias existenciais do mundo”.

O líder da Igreja Católica disse que, como os leprosos citados nos textos bíblicos, “todos nós precisamos de cura e somente Jesus oferece essa cura”. Por isso, segundo ele, é preciso rezar, pois “a oração é a porta da fé, o remédio do coração”. “Você quer crescer na fé? Cuide de um irmão distante, de uma irmã distante”, destacou.

A primeira santa brasileira
Irmã Dulce teve uma vida marcada por trabalhos assistenciais feitos em comunidades carentes de Salvador (BA). Conhecida como o “Anjo Bom da Bahia”, ela realizou diversos milagres, segundo testemunhas. Um deles, a cura do maestro que voltou a enxergar, foi a chave para ser elevada aos altares.

“A gente não vê, na história, ela fazendo novena, rezando o terço. Possivelmente ela fazia isso sozinha. A gente só vê a Irmã Dulce trabalhando, desafiando tudo e todos para poder atender os mais pobres”, explica o jornalista Renato Riella, que conviveu 24 anos com a religiosa.

Renato Riella nasceu em Salvador e assistiu de perto às obras da beata. O profissional de comunicação conta ter conhecido a Irmã Dulce na década de 1960 no armazém do pai dele. Iniciante no ofício, a mulher aparecia constantemente em uma Kombi velha para “pegar” alimentos.

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“Era alguém com a vaidade controlada, o que revela uma absurda missão, talvez a maior de todas elas: atender aos baianos. Isso fez a vida toda, desde os 13 anos de idade. Atendendo, pulando”, relata o jornalista ao Metrópoles.

A vida de Irmã Dulce
Maria Rita Lopes Pontes nasceu em 1914, em Salvador (BA). Filha de pais ricos, a jovem sempre teve a vocação de ajudar os mais pobres, segundo relatos de pessoas que conviveram com ela.

Aos 13 anos, a jovem Maria Rita passou a acolher mendigos e doentes em sua casa, transformando a residência da família.

Em 1933, após se formar como professora primária, então com 19 anos, Maria Rita entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em Sergipe.

Em 1939, Irmã Dulce inaugurou o Colégio Santo Antônio, voltado para os operários e seus filhos. “No mesmo ano, para abrigar doentes que recolhia nas ruas, invadiu cinco casas na Ilha do Rato, em Salvador. Depois de ser expulsa, teve de peregrinar durante dez anos, instalando os doentes em vários lugares”, diz Renato.

O processo de canonização
O caminho para a canonização na Igreja Católica é complexo e demorado. Simplificando, para ter a santidade reconhecida é preciso passar por quatro grandes etapas. São elas: o reconhecimento de um Servo de Deus, o título de Venerável, a beatificação e, por fim, a canonização.

Antes de mais nada, é preciso pedir a abertura do processo. A causa da canonização de irmã Dulce foi iniciada em janeiro de 2000. A validação do primeiro milagre ocorreu três anos depois, pelo papa João Paulo II, que hoje também é considerado santo. Na ocasião, o pontífice reconheceu a cura de uma mulher que estava com hemorragia.

Em abril de 2009, o papa Bento XVI reconheceu o título de Venerável à freira baiana. Ela foi beatificada dois anos depois. Ao contrário do linguajar popular, beato é aquele que alcançou as bem-aventuranças de Deus, ou seja, a felicidade eterna.

Para ser canonizada, nesse domingo, o Vaticano reconheceu outro milagre da irmã religiosa. Desta vez, o Anjo Bom da Bahia curou a cegueira de um homem de 50 anos.

Frases de Irmã Dulce
A irmã Dulce foi uma mulher de poucas palavras, segundo relatos de pessoas próximas. Riella, por exemplo, a chama de guerreira e diz que o principal ofício dela era “trabalhar, trabalhar e trabalhar”.

Algumas frases ficaram marcadas ao saírem da boca de Irmã Dulce. Veja:

  • “Se fosse preciso, começaria tudo outra vez do mesmo jeito, andando pelo mesmo caminho de dificuldades, pois a fé, que nunca me abandona, me daria forças para ir sempre em frente.”
  • “Se houvesse mais amor, o mundo seria outro; se nós amássemos mais, haveria menos guerra. Tudo está resumido nisso: dê o máximo de si em favor do seu irmão, e, assim sendo, haverá paz na terra.”
  • “Procuremos viver em união, em espírito de caridade, perdoando uns aos outros as nossas pequenas faltas e defeitos. É necessário saber desculpar para viver em paz e união.”

 

 

 

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