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Na primeira noite do decreto de fechamento às 23h, bares do DF descumprem medida

Vários estabelecimentos transmitiam o jogo do Flamengo, que só terminaria após o horário limite estabelecido pelo GDF

atualizado

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JP Rodrigues/ Especial para Metrópoles
Na primeira noite após decreto estabelecendo fechamento de bares às 23h, comércio segue aberto
1 de 1 Na primeira noite após decreto estabelecendo fechamento de bares às 23h, comércio segue aberto - Foto: JP Rodrigues/ Especial para Metrópoles

Na primeira noite de vigência do novo decreto do Governo do Distrito Federal, o qual determinou o fechamento de bares e restaurantes no DF às 23h para evitar uma segunda onda de infecção por Covid-19, os estabelecimentos comerciais tiveram dificuldades para cumprir o prazo. Isso porque vários points estavam lotados para transmitir o jogo do Flamengo pela Libertadores.

Publicado em edição extra do Diário Oficial do DF, horas depois de o próprio governador Ibaneis Rocha (MDB) informar que poderia lançar mão de medidas mais duras para conter novos casos de coronavírus, o decreto saiu nesta terça-feira (1º/12), com a programação do campeonato já definida.

A ordem impunha o fim do “expediente” antes mesmo de o jogo do Flamengo terminar, o que resultou em descumprimento por parte dos empresários do setor. Segundo apurado pela reportagem do Metrópoles, alguns bares permaneceram abertos depois do horário limite.

Os bares universitários das 408 e 410 Asa Norte, por exemplo, continuaram com música alta e transmitindo jogos de futebol em telões. Foi o caso do Pôr do Sol, Toca do Coelho (foto em destaque), Campinense e Mendes. Alguns poucos estabelecimentos recolheram as mesas antes das 23h para desestimular a entrada de novos clientes, como Pinella, Godofredo e Bogodó. Mas ninguém foi expulso no horário determinado pelo governo local.

Às 23h15, o bar Simpsons, da 203 Norte, estava fechado. Mas o estabelecimento vizinho – o Dikanto Bar – seguia de portas abertas. “A Covid-19 não tem hora para pegar, até às 23h não pode pegar mais? Não faz sentido o decreto”, reclamou o cliente Ronaldo de Melo. Ricardo Melo, também freguês do Dikanto, completou: ” Na Libertadores, não tem Covid”.

Na Asa Sul, o bar e distribuidora de bebidas Piauí estava de portas fechadas às 23h30, assim como os estabelecimentos da 314 Sul. No Sudoeste, hamburguerias e bares, como Geleia e Abençoado, também obedeceram à determinação do GDF.

Veja fotos do funcionamento dos bares da Asa Norte na primeira noite do novo decreto: 

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Frustração

No Sudoeste, os amigos Henrique Mendes, 27, e Carolina Rodrigues, 29, estavam no bar Spot e estranharam a experiência que tiveram na primeira noite de vigência do novo decreto. “O bar fechou no primeiro tempo. Eu estou acostumado a ver jogo, a gente vem pra ver até o fim”, reclamou Henrique.

Carolina, que já pegou Covid-19 e é do grupo de risco da doença por ter comorbidades, considera o novo texto do Executivo distrital polêmico. “Fiquei doente fazendo o isolamento. Sei que é necessário, mas parece só vontade de mostrar serviço, estava funcionando bem antes”, avaliou.

Segundo contam, o Fausto e Manoel do Sudoeste desobedeceu o decreto e fechou somente às 23h30, no momento em que o jogo do Flamengo acabou: “Os clientes ficaram em pé esperando. O jogo acabou e, em um segundo, fecharam tudo”, disse Caroline.

Mesmo depois do fechamento dos bares no Sudoeste, o Metrópoles constatou que muitos clientes permaneceram bebendo nos estacionamentos dos estabelecimentos comerciais da região.

Veja fotos dos bares no Sudoeste: 

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Grande aglomeração

De acordo com o governador, os bares e restaurantes foram os primeiros a entrar na mira do governo agora porque é “onde temos visto uma aglomeração muito grande”.

“Recebi os relatórios da Secretaria de Saúde que apontam aumento no nosso indicador de contágio do novo coronavírus. O índice, que vinha se mantendo na casa de 1, evoluiu para 1,3. Antes que a situação se agrave, resolvi dar esse recado para a população, retomando algumas medidas restritivas. A qualquer sinal de piora da pandemia aqui no DF, vamos rever as medidas e tomar providências ainda mais duras, se for o caso”, disse Ibaneis, à coluna Grande Angular, do Metrópoles.

Críticas

Pouco depois de o decreto ser publicado, o secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, reuniu-se com representantes do setor produtivo, que desaprovaram a medida restritiva.

“As pessoas não aguentam mais ficar em casa. Então, temos que ir para rua com consciência”, disse o presidente do Sindicato Patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Silva, que pediu a revogação do decreto a Okumoto, lembrando que o setor “já está combalido”.

Segundo Jael, 3 mil empresas foram fechadas e 25 mil pessoas demitidas pelo setor durante a pandemia. O sindicalista frisou que o protocolo de segurança é rigorosamente seguido por “99,9% dos bares e restaurantes”. “Temos alguns que estão extrapolando. Esses têm que ser penalizados, mas não pode o segmento todo pagar por poucos”, assinalou.

Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal (CDL-DF), José Carlos Magalhães ratificou a opinião de que o segmento de bares e restaurantes não pode ser culpado pelo crescimento da taxa de transmissão da Covid-19 na capital federal. Ele sugeriu a revisão de feriados prolongados: “As pessoas emendam, acabam viajando e confraternizando mais. O segmento de bares, hotéis e restaurantes não pode ser eternamente culpado por esse aumento da Covid”.

O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia, disponibilizou-se para ajudar o governo a adotar medidas de conscientização e combate à Covid-19, mas considerou inaceitável a ideia de fechar o comércio neste período próximo ao Natal. “Não queremos abandonar esse barco, porque somos responsáveis pela economia do Distrito Federal. O que for possível fazer, nós vamos fazer”, garantiu.

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