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Carnaval de blocos alternativos leva milhares de foliões às ruas

Público elogia segurança e caráter democrático das festas da capital federal, especialmente no Setor Comercial Sul e no Setor Bancário Norte

atualizado

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Jaqueline Lisboa/Metrópoles
bloco das montadas
1 de 1 bloco das montadas - Foto: Jaqueline Lisboa/Metrópoles

Apesar de não estar entre as folias mais tradicionais do país, o Carnaval de Brasília tem se destacado e se tornado cada vez mais popular. Uma conquista obtida, em parte, pela exaltação à diversidade de ritmos e de públicos, comandada por blocos alternativos e LGBTQ+.

Mais que proporcionar folia, eles abraçaram a luta contra o assédio, a violência e a homofobia. Esforço que, somado ao legado de ligas pioneiras, atraiu pelo menos 440 mil pessoas para as ruas do DF, segundo as principais agremiações da cidade.

De acordo com o presidente da Liga dos Blocos Tradicionais de Brasília, Paulo Henrique de Oliveira, a maior parte dos foliões, cerca de 360 mil, marcou presença em blocos já consagrados pelo público.

São eles: Baratinha, Baratona, Raparigueiros, Pacotão, Menino de Ceilândia e Galinho de Brasília. “Queríamos ter alcançado o dobro de público. Esperamos que o Carnaval de 2021 seja melhor”, afirmou.

O carnavalesco, no entanto, lembrou o episódio ocorrido no pré-Carnaval, quando o jovem Matheus Barbosa Magalhães Costa foi ferido e morto durante um arrastão, e elogiou a postura das forças de segurança pública. “Foi um episódio muito triste, que abalou todo mundo. Mas depois disso, a segurança foi excelente.”

Setor Carnavalesco recebeu 50 blocos

Com direito a 50 blocos de Carnaval, uma das grandes atrações das festividades brasilienses nesse feriado foi o Setor Comercial Sul, que nessa época do ano é “rebatizado” de Setor Carnavalesco Sul (SCS). Com sol ou chuva, cerca de 85 mil foliões marcaram presença no espaço entre sexta (21/02/2020) e terça-feira (25/02/2020).

Além das diferentes opções de música, brasilienses foram atraídos pela maior segurança, respeito e diversidade que o evento buscou promover.

De acordo com Caio Dutra, idealizador do Setor Carnavalesco Sul, o evento em 2020 teve como objetivo reforçar a importância do respeito nas festividades. “Esse é o terceiro ano do Setor Carnavalesco Sul e nós crescemos muito. Ano passado tivemos 35 blocos e, neste ano, estamos com 50 blocos”, disse.

“Também criamos o Palco 24, onde recebemos só bloco LGBT. É uma comunidade que prega muito o amor e, quando você passa isso para o público, ele acaba se sentindo mais seguro”, acrescentou.

Com um efetivo de 400 policiais militares por dia, além da segurança privada no ambiente fechado, o evento fez o folião se sentir confortável, segundo Dutra. “Criamos toda uma estrutura de forma que tenha um só acesso para a arena. E para entrar, todos têm que passar por revista”, pontuou.

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Bloco das Montadas

Outro destaque do Carnaval do DF foi o Bloco das Montadas, que recebeu, em um só dia, no domingo (23/02/2020), 60 mil pessoas, no Setor Bancário Norte e não teve nenhuma ocorrência de violência registrada às forças de segurança que atuavam no local.

Para não restar dúvidas sobre a ocupação histórica do espaço, a produção gravou um vídeo da multidão que viralizou nas redes sociais. “A produção cultural é um grande desafio, mas temos ocupado esse espaço com muita responsabilidade e qualidade”, comemora a diretora-geral das Montadas, a drag queen Maria Rojava.

Desde o início de fevereiro, cerca de 30 blocos declaradamente LGBTs desfilaram na cidade, levantando as cores da bandeira e colocando em discussão pautas importantes das sigla. “O bloco empregou, direta e indiretamente, mais de 300 pessoas, a maioria travestis e transexuais. Isso é lindo e necessário, é a garantia do Carnaval por inteiro, de todos e para todos, com respeito, inclusão e diversidade”, completa Rojava.

Praça dos Prazeres

Um dos points carnavalescos da cidade, a Praça dos Prazeres, apelido dado ao ambiente localizado na Quadra 201 da Asa Norte, recebeu, em cinco dias de festa, mais de 30 mil pessoas. Êxito que a produtora cultural Juliana Pagul, pioneira do Carnaval de Brasília, atribui com orgulho aos agitadores culturais e artistas da cidade.

“São pessoas que se dedicam para proporcionar alegria às pessoas, em um momento em que as manifestações culturais têm sido tão atacas”, destaca.

Para além das pautas políticas – como o combate ao racismo, ao machismo e à LGBTfobia –, a praça apostou na diversidade de ritmos e em uma estrutura em que os foliões pudessem se divertir, mesmo com chuva.

Na avaliação da DJ Xanaína, principal atração do Bloco Vai Que Cola, que saiu pelo segundo ano na Praça dos Prazeres, nessa segunda-feira (25/02/2020), a presença do público, mesmo com o tempo fechado, demonstra a força dos blocos da diversidade. “São pessoas que vêm de varias partes da cidade, não só da área central. Sabem que este é um movimento de resistência e se identificam com a causa.”

Andre Borges/Esp. Metrópoles
Produtora cultural Juliana Pagul
Preferência do público

Esse esforço em pautar questões importantes, como o combate ao assédio e à LGBTfobia, atraiu mais foliões para os blocos alternativos, independentemente da identidade de gênero e orientação sexual. Carolina Sampaio, 25, marcou presença no Bloco das Montadas, e elogiou o público da festa. “Gosto do clima de respeito, não tem homem te puxando pelo braço, dando em cima. Pelo contrário, todo mundo está curtindo numa boa, sem assédio”, salienta.

Jacqueline Lisboa/Especial para o Metrópoles
Carolina Araújo foi ao Bloco das Montadas para fugir do assédio

O cantor Lucas Gomes, 26, participou do Carnaval no SCS pelo terceiro ano. Em relação às edições anteriores, ele disse ter notado uma melhoria na segurança. “Passei por três revistas. O índice de crimes mesmo a gente vê que está mais baixo nesse ano aqui”, comentou.

Celebrando a folia no Bloco Entro Hétero e Saio Virad@, que se apresentou na noite dessa terça-feira (25/02/2020), ele reforçou o caráter respeitoso do público nos blocos LGBTQ+ que se apresentam no espaço. “Como tem alguém lá em cima [do palco] que é como a gente, eu vejo aquela pessoa ali e me sinto seguro”, afirmou.

Ambiente familiar

Também teve folião que escolheu os blocos historicamente familiares. O escritor Mateus Santana apresentou o Carnaval para o pequeno Abayomi, 2 anos, no Galinho. “Várias crianças já chegaram aqui para brincar com ele. É o melhor bloco pra curtir com os pequenos. Tem segurança e boa estrutura para se abrigar da chuva”, avalia.

Jacqueline Lisboa/Metrópoles
Mateus e Abayomi Santana no Galinho
Folia com respeito

Também com foco em contribuir para a proteção dos foliões, a campanha Folia com Respeito atuou neste Carnaval com um posto móvel em diferentes blocos pela cidade. O objetivo era atender pessoas em situação de vulnerabilidade, como vítimas de assédio, racismo, homofobia, ou pessoas alcoolizadas.

“Todos os blocos assinaram uma carta de responsabilidade para dar apoio ao projeto. Então, eles divulgam e o pessoal nos procura”, disse Arthur Heinrich, 25, um dos coordenadores da campanha.

“Nós trabalhamos com redução de danos. Então, quando uma pessoa percebe que foi assediada ou vítima de preconceito, por exemplo, a gente a acolhe. Dependendo do caso, se ela quiser, nós a acompanhamos para fazer uma denúncia na delegacia”, pontuou.

Em uma kombi amarela, integrantes do projeto rodaram os blocos distribuindo preservativos, comida e água para os foliões que procuraram a campanha. “Vemos que a galera se sente bem mais segura no Setor Carnavalesco exatamente porque os artistas estão sempre enfatizando o respeito e que não é não”, afirmou. “O nosso trabalho é para ajudar os foliões com isso”, completou Arthur.

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