“300 do Brasil” ocupou chácara com estrutura militar; PCDF investiga
O Metrópoles teve acesso exclusivo a detalhes dos levantamentos feitos pelos investigadores sobre a dinâmica de atuação do movimento
atualizado
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Em uma área de difícil acesso, cercada por morros e florestas, uma chácara serviu de quartel-general para integrantes do acampamento “300 do Brasil”. Situada no núcleo rural Rajadinha, entre as regiões administrativas do Paranoá e Planaltina, a propriedade foi escolhida por cumprir seu maior objetivo: dificultar a aproximação de estranhos e evitar olhares curiosos.
Com alojamentos, cozinha, água potável e estrutura de treinamento militar, o terreno entrou no radar de setores de inteligência de órgãos de segurança da capital da República.
O Metrópoles teve acesso exclusivo a detalhes dos levantamentos feitos pelos investigadores. Os relatórios mostram a dinâmica de atuação do grupo e revela detalhes do chamado “QG”, instalação ocupada durante um tempo pelos militantes apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
De acordo com as informações obtidas pela reportagem, a chácara era considerada fundamental para garantir a acomodação de dezenas de homens e mulheres em dois alojamentos separados por sexo.
A intenção das lideranças era oferecer um lugar seguro para descanso, alimentação, treinamento militar e organização. A equipe de reportagem sobrevoou o local e identificou que não havia mais pessoas no espaço, mas ele permanece bem cuidado.
A suspeita das autoridades é que os “300 do Brasil” abandonaram a chácara após um pedido de busca e apreensão do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), mas que acabou indeferido pelo Poder Judiciário.
O grupo teria migrado para outros locais a fim de se manter em sigilo. Nessa terça-feira (26/05), em nova ofensiva, promotores entraram com outra ação pedindo a desmobilização do acampamento. O MPDFT também requereu a busca de possíveis armas em posse de integrantes do movimento.
Recrutamento
Entre os métodos, destaca-se um intenso recrutamento Brasil afora para engrossar as fileiras do movimento. A forma de atingir o maior número de adeptos é por meio das redes sociais e grupos de WhatsApp. Os convidados, de vários estados, são influenciados a viajar até a capital da República e insuflados pelos líderes com palavras de ordem, sempre fazendo menção ao tombamento da política de esquerda e a supervalorização das figuras políticas que representam a direita no país.
Para garantir a segurança e evitar infiltrados, os integrantes do “300 do Brasil” desenvolveram mecanismos de pesquisa que levantam toda a vida pregressa de cada aspirante. As principais informações conferidas são: se a pessoa é ou foi jornalista de qualquer tipo de veículo de comunicação ou se integrou partido político de esquerda. Informações como estado civil e grau de escolaridade também passam pelo crivo da organização.
Nas postagens, os avisos de que o treinamento é para uma “guerra não violenta (sem armas)” se misturam a mensagens que contradizem isso ao pedir que os acampados tenham roupa preparada para combate ou para a “possibilidade de detenção”.
Cientes de que o espaço virtual é público, os organizadores não detalham os planos.
Investigação
Diante dos fatos, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) abriu inquérito, nessa terça-feira (26/05), para investigar a ação de integrantes do acampamento “300 do Brasil”. As apurações tiveram início após uma onda de agressões físicas e verbais contra jornalistas no exercício da profissão e a cidadãos que se posicionam contrários ao governo do presidente Jair Bolsonaro.
A apuração ficará sob responsabilidade da Divisão de Repressão ao Crime Organizado (Draco), unidade da Coordenação Especial de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Cecor). Nos próximos dias, membros do grupo podem ser individualizados, qualificados e intimados a prestar depoimento.
Como mostrou o Metrópoles, o grupo bolsonarista que prega o “extermínio da esquerda” é o mesmo que liderou o ato pró-intervenção militar. Eles também são contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional.
A hostilidade fez com que a Procuradoria-Geral da República (PGR) abrisse inquérito autorizado pelo STF a fim de investigar o esquema de financiamento e a natureza dos atos promovidos.