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Grupo arrecada R$ 57 mil para acampamento pró-Bolsonaro no DF, mas PM barra

Líder do acampamento “300 do Brasil” defende em vídeo que ministros do Supremo entendam de maneira “coercitiva” que “não são 11 semideuses”

atualizado

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Em algum ponto do Distrito Federal, um grupo de dezenas de militantes do bolsonarismo está reunido em regime que imita organizações militares, treinando “táticas de guerra de informação”, “guerra semântica e subversão política”. As pessoas foram recrutadas pela internet e financiadas por meio de uma vaquinha virtual que, até a noite dessa terça-feira (05/05), havia arrecadado R$ 57.739. O objetivo era acampar em frente ao Congresso Nacional “até a queda de Rodrigo Maia”, presidente da Câmara. Mas a Polícia Militar do DF barrou a parte mais chamativa da manifestação do grupo, batizado de “Os 300 do Brasil”.

O nome é uma referência a uma batalha ocorrida no ano 480 antes de Cristo, quando 300 guerreiros da cidade de Esparta lutaram até a morte defendendo a Grécia do ataque do exército persa, muito mais numeroso.

A dramática Batalha das Termópilas, que virou filme hollywoodiano em 2006, também inspira esses bolsonaristas que começaram a se organizar no último dia 20 de abril por meio de um grupo no aplicativo de mensagens Telegram.

Após semanas de preparação e treinamento, o maior ato público dos “300 do Brasil” até agora ocorreu no último domingo (03/05), na Esplanada dos Ministérios, onde os militantes participaram da manifestação feita em apoio ao presidente Jair Bolsonaro e que teve também pedidos golpistas de intervenção militar.

Maior revés

Foi também o maior revés do grupo até agora, pois a Polícia Militar do DF os obrigou a desmontar as dezenas de barracas que haviam armado e os proibiu de se instalar em outro lugar público do centro de Brasília.

De acordo com as postagens no grupo do Telegram (que até a noite dessa terça-feira era aberto e poderia ser encontrado na busca padrão do aplicativo), o acampamento tem um “quartel-general” em lugar só divulgado aos participantes. Lá, é possível comer, dormir e tomar banho.

Veja imagens das postagens:

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Sem violência?

Nas postagens, os avisos de que o treinamento é para uma “guerra não violenta (sem armas)” se misturam a mensagens que contradizem isso ao pedir que os acampados (recrutados em vários estados) tenham roupa preparada para treinar combate ou que dizem ser preciso ter em mente a “possibilidade de ser detido”.

Cientes de que o espaço virtual é público, os organizadores não detalham os planos ou o tipo de treinamento a que estão submetendo os acampados. Em um vídeo da manifestação desse domingo (03/05), publicado por uma das líderes dos 300, a militante Sara Winter, os objetivos ficam mais claros.

“O acampamento acaba quando o Rodrigo Maia cair. Acaba quando todos nós, de maneira, se for preciso, coercitiva, fazermos os ministros do STF entenderem que eles não são 11 semideuses”, brada a militante.

“Quem manda no país somos nós”

“Quem manda no país somos nós. Daqui [da Esplanada] ninguém nos tira. Hoje, Ibaneis [Rocha, governador do DF] tentou tirar a gente e a gente peitou, porque quem manda nessa grama somos nós”, completa ela, momentos antes de o grupo ser desmobilizado pela PM.

O forte discurso foi acompanhado por pelo menos uma deputada federal, a brasiliense Bia Kicis (PSL-DF), que também aparece no vídeo postado por Sara Winter, discursando que não se deve delegar responsabilidades. “A responsabilidade é nossa, a intervenção é do povo”.

Veja no vídeo, principalmente a partir do sétimo minuto:

Desde a retirada do acampamento da Esplanada, o paradeiro do grupo é um mistério, mas Sara Winter segue fazendo postagens nas redes sociais sobre os 300 do Brasil, inclusive com fortes críticas às autoridades do DF que coibiram a montagem das barracas. Veja:

Um vídeo (abaixo), que também foi postado no canal do Telegram, mostra o viés militar do grupo. As cenas foram gravadas na área externa do complexo da Funarte, no Eixo Monumental, onde eles se reuniram antes do ato de domingo.

Nuances da lei

Falas como a de Sara Winter sobre fazer ministros do Supremo concordarem “coercitivamente” com os desejos do grupo podem colocar os 300 do Brasil em uma situação ilegal.

De acordo com o advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, a associação de pessoas é um direito, “mas que não pode ser usado para tramar o fim da estabilidade democrática, por exemplo”.

Ainda segundo ele, que afirmou falar em tese, por não ter conhecimento sobre o grupo, “os direitos têm que estar inseridos no contexto constitucional. Se pregar o fechamento do Congresso ou do Supremo, já foge disso”, afirmou.

Próximos passos?

Apesar de o acampamento, pelo menos por enquanto, não poder ter uma cara pública, o grupo dos 300 do Brasil prometia ações políticas para incomodar os ocupantes do Legislativo e do Judiciário (a maioria sequer está em Brasília por causa do coronavírus).

Até agora, porém, mais nada que chame atenção aconteceu.

Confira cenas das barracas no dia da manifestação em postagens da própria Bia Kicis e do influenciador bolsonarista Leandro Ruschel:

Acampamento dos 300 do Brasil na Esplanada
Postagem no Twitter registra acampamento na Esplanada
Acampamento dos 300 do Brasil na Esplanada
Postagem no Twitter registra acampamento na Esplanada

Veja, por fim, um registro do sucesso da vaquinha virtual, que atingiu e passou da meta. A maioria das doações foi feita por perfis anônimos, algo permitido pelo site.

Imagem do site Vakinha
Imagem do site de arrecadação

 

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