As Lojas Havan, do empresário bolsonarista Luciano Hang, usaram a Lei Rouanet para investir R$ 800 mil em duas temporadas do musical Bem Sertanejo, que conta a história do gênero no país.
A primeira temporada do espetáculo ocorreu em 2016 e contou com R$ 300 mil de investimento da Havan, feito por meio da Lei Rouanet. Hang voltou a usar o mecanismo para financiar a terceira temporada do musical, com depósito de R$ 500 mil, em 2018.
A Havan investiu mais de R$ 24 milhões em projetos culturais cadastrados na Lei Rouanet. As empresas que usam o mecanismo de financiamento podem abater parte do valor investido do imposto de renda.
Bolsonaro voltou a criticar a Lei Rouanet nesta semana, ao defender cantores sertanejos que tiveram expostos cachês milionários pagos por prefeituras de todo o país. A polêmica surgiu após a dupla sertaneja Zé Neto e Cristiano atacar o mecanismo de financiamento cultural durante um show em Bonito (MS), no dia 12 de maio.
Estrelado por Michel Teló, o musical Bem Sertanejo teve quatro temporadas e foi sucesso de público. O espetáculo voltará ao teatro neste ano, com apresentações em São Paulo em todos os fins de semana de agosto e setembro.
O musical foi inspirado na série de mesmo nome que Teló apresentou no programa Fantástico, da TV Globo. Entre os artistas convidados para a série estavam a dupla Zé Neto e Cristiano e o cantor Gusttavo Lima.
Ao todo, as quatro temporadas do musical captaram mais de R$ 28 milhões. Outras grandes empresas financiaram o espetáculo, como Bradesco, Raízen, Bridgestone e PagSeguro.
Em contato com a coluna, Hang disse que assistiu ao musical e que centenas de pessoas trabalhavam nos bastidores — o que acontece com qualquer espetáculo ou grande show financiado com a Rouanet.
“Não era para o Michel Teló, e sim para os cantores, dançarinos e artistas. A cultura é isso, é preciso fomentar o desenvolvimento. O musical contava a história de toda a música sertaneja”, disse.
“Gostaria de deixar bem claro que nem o presidente Bolsonaro nem eu somos contra dispositivos criados para ajudar empresas e a classe artística”, afirmou Hang. “Ajudar um artista não é pecado. Emprestar dinheiro do BNDES não é pecado. O problema é dar dinheiro sempre para os mesmos.”
Hang declarou que, durante os governos petistas, a Lei Rouanet e o BNDES serviam para “ajudar os amigos do rei”, e citou números apresentados pelo ex-secretário de Cultura Mario Frias em entrevista à rádio Jovem Pan. Na ocasião, Frias disse que 80% da verba da Rouanet foi aprovada para 10% das empresas que usavam o mecanismo.
“Não foram os sertanejos que ganharam mais dinheiro na época do PT. Eles são procurados pelas prefeituras para fazer shows. Enquanto isso, na música popular brasileira, esses artistas que criticam o governo procuram o governo para ganhar verba. É diferente. O Gusttavo Lima nunca ganhou dinheiro da Lei Rouanet porque não precisa, mas os caras que estão fora de moda precisam buscar o dinheiro do governo, porque eles não têm como se sustentar se não têm plateia”, afirmou Hang, reproduzindo discurso disseminado por Bolsonaro e outros integrantes do governo.

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O empresário Luciano Hang, 48, nascido no Vale do Itajaí, é dono da rede de lojas Havan. Orlando Brito

Em 2018, durante as eleições, o empresário publicou vídeo no Facebook para anunciar o apoio ao, na época, candidato à presidência Jair Bolsonaro. Contudo, para pedir votos, ele pagou para impulsionar o vídeo, o que é considerado ilegal pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)Igo Estrela/Metrópoles

Ele acabou sendo condenado pelo TSE a pagar R$ 2 mil pela propaganda irregularReprodução/Facebook

Na época, o catarinense chegou a gravar outro vídeo ameaçando os funcionários da rede. Segundo ele, se Bolsonaro perdesse, 15 mil colabores das lojas Havan seriam demitidosRepdrodução/Instagram

Vestido de terno verde com gravata amarela, Luciano se apresentou em live, ao lado do já presidente Bolsonaro, como “véio da Havan”, em 2019Reprodução/Facebook

O empresário bolsonarista se intitulava como patriota, dizia que o governo estava 100% no caminho certo e que assinava embaixo de todas as decisões do presidenteReprodução/Instagram

Com a saída de Sérgio Moro do governo, Luciano afirmou estar decepcionado e disse que não tinha político e nem partido de estimaçãoRafaela Felicciano/Metrópoles

Em 2020, a ex-presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa afirmou que Jair Bolsonaro efetuou uma série de interferências no órgão – incluindo a demissão dela – para atender interesses de HangReprodução/Twitter

Após declaração do presidente, Luciano negou que teria pedido para o Bolsonaro interferir no Iphan por conta dele. Poucos meses depois, o dono da Havan também afirmou que não era bolsonarista, "como dizem"Rafaela Felicciano/Metrópoles

Hang era suspeito de financiar uma milícia digital que estaria a serviço de Bolsonaro desde a campanha de 2018. O empresário também teve a conta no Twitter bloqueada em 2020, após inquérito que investigava a disseminação de fake news e ameaças contra ministros da corteReprodução/Instagram

No final de 2020, a Procuradoria-Geral Eleitoral (PGE) pediu quebra de sigilo bancário e fiscal de Luciano Hang por disparo em massa de mensagens no WhatsApp para favorecer a campanha do então candidato Jair Bolsonaro em 2018Reprodução/Facebook

Em setembro de 2021, Luciano Hang prestou depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia (CPI) sob a suspeita de integrar o chamado gabinete paralelo formado por médicos e empresários que teriam aconselhado Bolsonaro na condução da pandemia da Covid-19Rafaela Felicciano/Metrópoles

O dono da Havan, Luciano Hang, afirmou que cogita se candidatar nas eleições de 2022 para concorrer ao Senado Federal. O empresário também disse que o rótulo de aliado do Bolsonaro é usado de forma pejorativa e que não apoia tudo o que o presidente fazReprodução/Facebook