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Crônica de luto, dedicada a Sabrina Bittencourt

Dedico a crônica desta terça-feira à ativista que dedicou a vida a denunciar abusos sexuais praticados por líderes religiosos

atualizado

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Dedico a crônica desta terça-feira, 5 de fevereiro de 2019, a Sabrina Bittencourt, a ativista que dedicou a vida a denunciar abusos sexuais praticados por líderes religiosos e a proteger as vítimas. Sabrina, 38 anos, se suicidou no sábado, 2 de fevereiro, em Barcelona, Espanha, onde vivia um autoexílio que a obrigava a mudar de endereço “às vezes a cada dez dias” tantas eram as ameaças que recebia.

Não há nada mais que eu possa escrever.

“Marielle, me uno a ti. Somos semente. Que muitas flores nasçam dessa merda toda que o patriarcado criou há 5 mil anos! Eu fiz o que pude, até onde pude. Meu amor será eterno por todos vocês. Perdão por não aguentar, meus filhos. VOCÊS TERÃO MILHARES DE MÃES NO MUNDO INTEIRO. Minhas irmãs e irmãos na dor e no amor, cuidem deles por mim… Eu sempre disse que era só uma pequena fagulha. Nada mais. Só pó de estrelas como todos. USE, A SUA PRÓPRIA VOZ. A SUA PRÓPRIA VONTADE. TOMEM AS RÉDEAS DE SUAS PRÓPRIAS VIDAS E ABRAM A BOCA, NÃO TENHAM VERGONHA! ELES É QUE PRECISAM TER VERGONHA. Não aguento mais. Todas as provas, evidências, sistemas de apoio, redes organizadas e, sobretudo, meu legado e passagem por aqui está entregue ou chegará às mãos corretas. AS REDES DE APOIO AOS BRASILEIR@S FORAM CRIAD@S E SE EXPANDIRÃO NA VELOCIDADE DA LUZ! Paulo Pavesi, eu sinceramente sinto muito pela morte do seu filho. Tenha certeza de que se eu soubesse da sua história à época, implicaria minha vida e segurança como fiz com centenas e pessoas. Damares, eu sei que você não teve tratamento psicológico. Não se desesperem. Dessa vida só levamos o mais bonito e aprendido.quando deveria e ter sequelas, servindo de marionete neste sistema de merda que te cooptou, acolheu e com o qual você se sente em dívida o resto de sua vida. Não tenho dúvidas de que você amou e cuidou da sua “Lulu” como gostaria de ter sido cuidada e protegida na sua infância, mas ela não é uma bonequinha bonita que você poderia roubar e sair correndo… Giulio Sa Ferrari, eu te considerei um irmão e você sabia de todas as minhas rotas de fuga… eu vi em você a pureza de um menino que nunca foi notado por uma sociedade neurotípica que não entendia os neuroatípicos, mas reputação é algo que se constrói e não é de um dia ao outro. Gabriela Manssur, muito obrigada por me fazer ter esperança de que elas serão ouvidas e atendidas em suas necessidades. João de Deus, Prem Baba, Gê Marques, Ananda Joy, Edir Macedo, Marcos Feliciano, DeRose pai, DeRose filho, todos os padres, pastores, bispos, budistas, espíritas, hindus, umbandistas, mórmons, batistas, metodistas, judeus, muçulmanos, sufis, taoístas, meus familiares, Marcelo Gayger, Jorge Berenguer, eu desconheço a sua infância e a sua criação pelo mundo, mas sei no meu íntimo que TODO MENINO NASCEU PURO e foi abusado, corrompido, machucado, moldado, castrado, calado, forçado a fazer coisas que não queria, até se converter talvez, cada um a sua maneira, em tiranos manipuladores (em maior ou menor grau) que, ao não controlar os próprios impulsos, tentam controlar a quem consideram mais frágil e assim praticam estupros, pedofilia, adicções diversas…Eu sei, eu sinto, eu vi. Mas ainda assim, preferi SEMPRE ficar do lado mais frágil nesta breve existência: mulheres, crianças, idosos, jovens, povos originários, afrodescendentes, refugiados, ciganos, imigrantes, migrantes, pessoas com deficiência, gays, pobres, lascados, fodidos, rebeldes e incompreendidos… Essa vida é uma ilusão e um jogo de arquétipos do bem e do mal, de dualidades… desde que o mundo é mundo. Vivo num outro tempo desde que nasci e sempre senti que vivia num mundo praticamente medieval. Volto pro vazio e deixo minha essência em PAZ. Aos meus amigos, amadas e amantes, nos encontraremos um dia! Sintam meu amor incondicional através do tempo e do espaço. SIM e FIM.”

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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