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TSE já publicou 62 vídeos em 2021 para desmentir fake news sobre urnas

Em contrapartida, defensores do voto impresso promoveram uma enxurrada de “dislikes” no canal da Corte Eleitoral no YouTube

atualizado

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Arte/ Metrópoles
Presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso
1 de 1 Presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso - Foto: Arte/ Metrópoles

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e aliados intensificam ataques contra as urnas eletrônicas, numa tentativa de colocar em descrédito o atual sistema de votação, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem direcionado boa parte de sua comunicação para desmentir notícias falsas e esclarecer aos eleitores sobre o funcionamento do voto eletrônico e as auditorias feitas para atestar a segurança do modelo.

O TSE tem divulgado produtos nas mais diversas redes sociais e, recentemente, aderiu até mesmo ao TikTok. No YouTube, segundo levantamento do Metrópoles, já foram publicados, neste ano, 62 vídeos sobre urnas eletrônicas, voto impresso, fraudes ou ciberataques.

As respostas do tribunal se acentuaram sobretudo após 14 de maio, quando o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, lançou uma campanha, segundo ele, para demonstrar a segurança, transparência e auditabilidade do processo eleitoral. Desde então, o canal da Corte no YouTube subiu 92 vídeos. Desses, 46 – ou seja, a metade – tratam do assunto.

“Não é uma campanha de resposta a ninguém; não é uma campanha de polemização. É apenas uma campanha de transparência para que a sociedade tenha conhecimento pleno e informação fidedigna sobre a lisura do nosso sistema eleitoral”, ponderou Barroso, durante o lançamento.

Só neste ano são mais de 7 horas e 51 minutos de vídeos publicados sobre o assunto. Ao Metrópoles, o TSE informou que todo o material é produzido pela Secretaria de Comunicação do tribunal e que, portanto, não há custos extras.

Em contrapartida, bolsonaristas têm promovido ataques contra as publicações que tratam de urnas eletrônicas e voto impresso no canal do TSE. Os 62 vídeos deste ano sobre esses temas receberam mais de 370,8 mil dislikes, o equivalente a 6 mil avaliações negativas por vídeo. O número é 11 vezes maior que a média de likes dos mesmos conteúdos: 540.

Ao serem analisados os vídeos publicados também neste ano e que não falam sobre urnas eletrônicas, voto impresso, fraudes ou ciberataques, o cenário se inverte. São 33,7 mil likes ante 11,9 mil dislikes.

O post com o maior número de rejeições desde o início do canal, em 2013, tem o seguinte título: “Na urna eletrônica brasileira você pode confiar!”. Foi publicado em 13 de maio de 2021, e já recebeu, até a manhã dessa sexta-feira (30/7), 158,9 mil avaliações negativas.

Trata-se de uma gravação curta, de apenas 32 segundos, sobre o lançamento da campanha institucional que aborda a segurança, transparência e auditabilidade do processo eleitoral – motivo suficiente para inflamar os defensores do voto impresso. “Na urna eletrônica e nas eleições brasileiras, você pode confiar”, diz Barroso, ao apontar os dedos indicadores para a câmera.

“Não confiamos nos ministros do STF e nem nessa urna”, assinala um dos internautas, entre os mais de 40 mil comentários.

Doutor em direito e coordenador-geral da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), Luiz Fernando Pereira afirma que essa disputa de narrativas sofre do mesmo problema do debate em relação à pandemia do novo coronavírus. “De um lado, há dados concretos, científicos e tecnicamente embasados, e, do outro, uma narrativa inspirada em teorias conspiratórias”, assinala.

O especialista ressalta que o país tem um sistema de votação que “funciona muito bem, que é rápido e auditável”. “Colocar o complicador de imprimir um papel não faz nenhum sentido. E dizer que a urna eletrônica não é auditável é uma mentira: tem o boletim de urna – que sai impresso, inclusive”, diz o coordenador-geral da Abradep, ao citar o chamado complexo de vira-lata, sentimento descrito pelo escritor brasileiro Nelson Rodrigues que se refere a uma falta de autoestima nacional.

“Nós já temos um prejuízo muito grande com isso, pois, se o presidente da República diz que as urnas podem ser fraudadas, o que ele está dizendo, para uma legião de admiradores, é que o sistema não é confiável e, portanto, se houver uma derrota, essa derrota não é legítima. É o que o Trump fez nos Estados Unidos. Agora, eu temo muito aonde isso pode chegar aqui no Brasil”, prossegue.

Bolsonaro afirmou, em live na quinta-feira (29/7), que “não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas”. O chefe do Executivo federal convocou a imprensa com a promessa de apresentar provas de irregularidades nos pleitos de 2014 e 2018.

No início da transmissão, o chefe do Executivo federal fez acusações contra o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso. Segundo ele, “mente” quem afirma que a implementação do voto impresso é um retrocesso. “É justo quem tirou Lula da cadeia e o tornou elegível ser o mesmo que vai contar o voto numa sala secreta no TSE? Quero eleições no ano que vem, vamos disputar eleições no Brasil no ano que vem, mas eleições limpas”, falou.

O presidente ainda subverteu a lógica do chamado “ônus da prova” (cabe a quem acusa comprovar o que diz) ao afirmar: “Os que me acusam de não apresentar provas eu devolvo: apresente prova de que não é fraudável”.

De acordo com o colunista Igor Gadelha, do Metrópoles, a live realizada pelo presidente foi vista por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) como um “tiro no pé” do próprio chefe do Palácio do Planalto.

A avaliação na Corte é que o presidente da República falou para “convertidos” e tentou inverter o ônus da prova, ao dizer que só tinha “indícios” da suposta fraude e que quem defende a urna é que teria a obrigação de provar que o voto no Brasil pode ser auditável.

Aliados de Bolsonaro, por sua vez, dizem que a reação da base bolsonarista foi “excelente”. Segundo auxiliares do presidente ouvidos pela coluna, a live tem contribuído para “disparar” a adesão às manifestações convocadas para domingo (1º/8) a favor do voto impresso auditável.

Colaborou Fábio Vasconcellos, jornalista de dados.

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