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Lava Jato teria ignorado fraude dita por Cunha em processo de cassação

Mensagens vazadas apontam que procuradores não aceitaram a proposta de delação do ex-deputado

atualizado

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ED FERREIRA/ESTADÃO
CAMARA/ESFORCO
1 de 1 CAMARA/ESFORCO - Foto: ED FERREIRA/ESTADÃO

Procuradores da força-tarefa da Lava Jato teriam optado por não seguir com uma denúncia de manipulação na escolha do relator do processo de cassação de Eduardo Cunha (MDB-RJ), ex-presidente da Câmara dos Deputados. Apesar disso, segundo diálogos, os integrantes do Ministério Público Federal (MPF) a consideravam importante.

O relato da suposta fraude teria sido feito pelo próprio ex-deputado ao propor delação premiada, que não foi aceita pelo MPF, como apontam mensagens do telegrama obtidas pelo site The Intercept Brasil e analisadas em conjunto com o UOL, divulgadas nesta terça-feira (10/09/2019). Os diálogos fazem parte do arquivo da Vaza Jato.

Segundo a reportagem, o emedebista teria acusado o ex-presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PR-BA) por indicar um relator mais favorável a ele próprio. Assim, com o suposto “falso sorteio”, Fausto Pinato (PP-SP) foi o escolhido. Ambos negam a existência da fraude.

“Realmente, esse é um fato que talvez não devesse ser sonegado da sociedade. Isso mostra/expõe como ainda somos um país subdesenvolvido, em que os políticos estão distantes da realidade”, teria dito o procurador da Lava Jato, Orlando Martello, ao analisar a suposta fraude na relatoria.

Acordo Cunha
O grupo “Acordo Cunha” foi criado, conforme a reportagem, por um procurador da Procuradoria-Geral da República (PGR) em junho de 2017, quando o advogado de Eduardo Cunha, Délio Lins e Silva Júnior, trouxe uma oferta de colaboração premiada.

A maioria dos procuradores teria se manifestado contra a tratativa de acordo com Cunha. Orlando Martello foi uma das exceções.

A proposta de delação, por fim, foi rejeitada. Mas parte do grupo de procuradores defendia manter as negociações abertas com Cunha. “Há vários fatos que o Cunha esclarece enquanto que [o doleiro Lúcio] Funaro [que fechou colaboração semanas depois] não consegue, por não dominar a história toda”, teria ponderado Anselmo Lopes, procurador em Brasília.

A rejeição à denúncia de Cunha se deu, segundo a reportagem, porque ele não tratou de outras pessoas e fatos de interesse do Ministério Público. Os procuradores queriam informações e acusações sobre Carlos Marun (MDB-MS), ex-ministro da Secretaria de Governo de Michel Temer (MDB), autoridades do Judiciário do Rio de Janeiro, fatos de suposta compra de votos para a eleição à Presidência da Câmara e repasses de dinheiro feitos pelo lobista Júlio Camargo e pelo empresário Joesley Batista, da JBS.

Além disso, Cunha também “concorria” com a colaboração premiada do doleiro Lúcio Funaro, em negociação na mesma época. Os procuradores avaliavam se era necessário fechar acordo com um ou com os dois.

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