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Análise: ambição da família Bolsonaro dita os rumos da política

Crise dos últimos dias demonstra que interesses do presidente e dos filhos se sobrepõem a acordos com o PSL e a promessas de campanha

atualizado

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Foto: Igo Estrela/Metrópoles
Filhos do Bolsonaro na saída da Superintendência da PF. Brasília(DF), 10/09/2018
1 de 1 Filhos do Bolsonaro na saída da Superintendência da PF. Brasília(DF), 10/09/2018 - Foto: Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Os áudios do presidente Jair Bolsonaro (PSL) em diálogo com um congressista do partido tornaram público o que era para ficar em sigilo. O próprio capitão revelou a jornalistas, nessa quinta-feira (17/10/2019), manter agenda sigilosa com parlamentares: “Eu converso com deputados. Não trato publicamente desses assuntos, converso individualmente”.

No caso em questão, o assunto secreto divulgado pela imprensa estava relacionado à substituição do deputado delegado Waldir (GO) na liderança do PSL na Câmara. Direto ao ponto, o mandatário da República pediu a assinatura do interlocutor em uma lista para derrubar o congressista goiano do comando da bancada da legenda.

O chefe do Executivo nacional quer colocar no lugar de Waldir o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Trata-se do mesmo filho candidato a ocupar o posto de embaixador do Brasil nos Estados Unidos.

O nome de Eduardo encontrou dificuldade para ser aprovado pelo Senado. Na dúvida, então, o capitão tenta usar Eduardo em uma estratégia para assumir o controle da sigla, presidida atualmente pelo veterano Luciano Bivar.

Ao conspirar contra um aliado em favor do “Zero 3”, o presidente dá uma medida da ambição da família em relação ao poder federal. A estratégia, pelo visto, é ocupar todos os espaços possíveis, mesmo que isso signifique sacrificar um companheiro de campanha, legítimo representante da bancada da bala.

Outros episódios recentes reforçam a ideia de que os interesses da família ditam os rumos da política presidencial. A atuação do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) contra uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a investigar o Poder Judiciário – a CPI da Lava Toga –, por exemplo, demonstrou que as conveniências do filho do titular do Palácio do Planalto estão acima dos compromissos de campanha.

Atolado nos rolos do ex-assessor Fabrício Queiroz, Flávio juntou-se à turma de senadores com problemas na Justiça. Eles preferem não provocar a magistratura para não suscitar reações punitivistas.

Assim como no caso do delegado Waldir, os movimentos de Flávio causaram danos ao PSL no Senado. O líder do partido, Major Olímpio (SP), não aceitou as investidas do “Zero 1” sobre a bancada para sepultar a CPI. “Flávio Bolsonaro para mim acabou, não existe”, afirmou Olímpio, insatisfeito com o comportamento do correligionário. Afinal, ambos foram eleitos com o discurso de combate à corrupção.

O vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC) também interfere com frequência na política do pai. Embora muitas vezes não se entenda bem o que quer dizer, com clareza, ele assumiu nessa quinta-feira uma mensagem postada no Twitter em nome do pai.

No tuíte com assinatura paterna, Carlos deu palpite em uma área onde nenhum dos dois deveria se meter. “Aos que questionam, sempre deixamos clara nossa posição favorável em relação à prisão em segunda instância”, escreveu o vereador.

A postagem se referia ao julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), iniciado nessa quinta-feira (17/10/2019), sobre em que momento do processo os condenados devem começar a cumprir pena. Entre os possíveis beneficiados por uma mudança na jurisprudência da Corte, está o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, adversário político da família, preso em Curitiba desde abril do ano passado.

Pegou mal para o presidente a pressão sobre o Supremo. Carlos, então, foi para a própria conta no Twitter assumir a postagem anterior. Não muda muito, pois, até que se prove o contrário, os dois pensam do mesmo jeito sobre o assunto. Afinal, o vereador tem a confiança e a senha do pai.

Vale lembrar que, no ano passado, Eduardo Bolsonaro disse que bastava “um soldado e um cabo” para fechar o STF. Por esse episódio, nota-se que a família tem poucos pudores em relação à Suprema Corte.

Como se vê, seja no STF, no Congresso ou em Washington, pai e filhos se mostram dispostos a ampliar o raio de poder. Pela ousadia, parecem não ter limites. Mas esses assuntos, como disse o presidente, não são tratados publicamente.

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