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Desafio da PF é provar o que hackers fizeram com informações roubadas

Até agora, a investigação não explicou o que motivou e como lucraram os suspeitos de invadir celulares de Moro, Dallagnol e autoridades

atualizado

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Reprodução/Redes sociais
Imagem colorida do hacker Walter Delgatti Neto - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida do hacker Walter Delgatti Neto - Metrópoles - Foto: Reprodução/Redes sociais

Um homem, de 30 anos, com problemas psiquiátricos, que acumula processos por estelionato, falsificação de documentos e furto. Este seria, segundo a Polícia Federal (PF), o principal responsável por hackear os celulares do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e de outras autoridades. Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, foi preso nessa terça-feira (23/07/2019), em São Paulo, na Operação Spoofing, com outros três suspeitos, e trazido à sede da PF em Brasília para depoimento. Vermelho, inclusive, teria confessado os crimes. Agora, o que resta à polícia esclarecer é: o que realmente foi feito com as informações roubadas?

São várias as interrogações sobre a ação do grupo de supostos hackers. Não há, por exemplo, nenhuma prova, até o momento, que ligue Vermelho e os demais às mensagens publicadas pelo site The Intercept Brasil, que supostamente teriam sido trocadas pelo então juiz da Lava Jato, Sergio Moro, e integrantes da força-tarefa da operação.

Tal hipótese sequer consta da decisão do juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, que concedeu prisão temporária dos quatro suspeitos. Para autorizar a operação, o magistrado afirmou que o grupo se enquadraria em dispositivo legal prevendo a detenção em caso de “crimes repulsivos”.

Segundo Ariovaldo Moreira, advogado de Gustavo Elias Santos, também preso na operação, a ideia inicial de Vermelho era vender o conteúdo das mensagens para o Partido dos Trabalhadores.

Ainda não se sabe, também, a real extensão da relação entre Vermelho e o DJ de Araraquara Gustavo. Nessa quarta- feira (24/07/2019), Gustavo disse que tem provas de que teria alertado o amigo para “parar de mexer com isso”, em referência a telefones de autoridades. Danilo Cristiano Marques também está na mira da PF.

O cliente de Moreira teria uma conversa trocada com Vermelho no Telegram em que o avisava: “Cuidado que você pode ter problema com isso”.

Movimentações atípicas
A Polícia Federal também não esclareceu a origem dos R$ 100 mil encontrados na casa de Gustavo e Suelen. Eles ainda teriam movimentado mais de R$ 627 mil em contas bancárias durante o período de três meses, mesmo com renda mensal de cerca de R$ 3 mil, segundo investigações.

Essa movimentação atípica chamou a atenção do juiz Vallisney de Souza Oliveira, que, ao decretar a prisão dos supostos hackers, apontou para a discrepância entre o que ganhava o casal e o que movimentava nas transações bancárias.

“Diante da incompatibilidade entre as movimentações financeiras e a renda mensal de Gustavo e Suelen, faz-se necessário realizar o rastreamento dos recursos recebidos ou movimentados pelos investigados e de averiguar eventuais patrocinadores das invasões ilegais dos dispositivos informáticos (smartphones)”, registrou o juiz. Dessa forma, a PF investiga possíveis patrocinadores do grupo.

Detalhes da Spoofing
Em coletiva na tarde dessa quarta-feira (24/07/2019), a PF apresentou detalhes da Operação Spoofing e revelou que pelo menos mil celulares foram clonados. No entanto, não foram informados mais detalhes de quem seriam as vítimas.

O próprio Moro mostrou-se preocupado quanto ao número de ligações realizadas para hackear celulares e disse que a atitude dos criminosos é “preocupante”. “Leio, na decisão do Juiz, a referência a 5.616 ligações efetuadas pelo grupo com o mesmo modus operandi e suspeitas, portanto, de serem hackeamentos. Meu terminal só recebeu três. Preocupante”, afirmou, pelo Twitter.

Segundo o delegado João Vianey Xavier Filho, coordenador-geral de Inteligência da PF, o grupo praticava outros crimes. “O perfil deles é vinculado a fraudes bancárias e a cartões de crédito”, adiantou, ao ressaltar que, na casa de um deles, foi encontrado R$ 100 mil em espécie.

Muito o que explicar
De fraudes bancárias ao hackeamento de autoridades. Pelo visto, os suspeitos terão muito o que explicar à Polícia Federal. Esta, por sua vez, terá muito o que esclarecer à sociedade. Aguardemos os próximos capítulos.

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