O autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, 74 anos, morreu na madrugada de hoje rompido politicamente com o presidente Jair Bolsonaro. Eles já não se falavam há quase um ano. Olavo recusava o título de guru de Bolsonaro e dos seus filhos. E dizia só tê-lo encontrado na vida não mais do que quatro vezes.
Olavo viveu e morreu ao seu gosto, provocando polêmicas. Suas últimas palavras sobre Bolsonaro foram ditas em uma live no dia 20 de dezembro último, da qual participaram em silêncio os ex-ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente), Abraham Weintraub (Educação) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores).

O escritor Olavo de Carvalho, de 74 anos, considerado o guru do bolsonarismo, morreu na madrugada do dia 24 de janeiro de 2022. Ele estava internado em um hospital de Richmond, nos Estados UnidosInstagram/Reprodução

Apesar de não ter sido divulgada a causa da morte, Olavo havia informado que tinha contraído Covid-19 recentemente. O escritor deixa a esposa, Roxane, oito filhos e 18 netosInstagram/ Reprodução

Natural de Campinas, São Paulo, Olavo mudou-se para os Estados Unidos em 2005. Segundo ele, um dos motivos para ter saído do Brasil foi a chegada do Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência da RepúblicaInstagram/ Reprodução

Trabalhou como jornalista em veículos como Folha de S.Paulo, Planeta, Bravo!, Primeira Leitura, Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, O Globo, Época, Zero Hora e Diário do ComércioInstagram/ Reprodução

Opositor do "politicamente correto" e crítico do que chamava de pensamento "hegemônico de esquerda na imprensa e na academia", o escritor se tornou celebridade dentro da direita política Instagram/ Reprodução

Durante a vida, Olavo publicou diferentes livros polêmicos, entre eles: O Mínimo que Você Precisa Saber para não Ser um Idiota, considerado um dos manuais da direita brasileira, O Jardim das Aflições (1995) e O Imbecil Coletivo (1996)Instagram/ Reprodução

Os livros e artigos de autoria do escritor, no entanto, foram alvo de polêmicas. Alguns reproduzem teorias conspiratórias, informações incorretas e discursos de ódio. Além disso, Olavo defendia que a Terra é plana, negava a existência do aquecimento global e jurava que a Pepsi é adocicada com células de fetos abortadosInstagram/ Reprodução

Nos Estados Unidos, trabalhava dando aulas de filosofia pela internetInstagram/ Reprodução

Fundou o site Mídia sem Máscara (MSM), que tinha o objetivo de combater o “viés esquerdista da grande mídia brasileira”. Entre seus defensores estavam os filhos do presidente Jair Bolsonaro. Aliás, Olavo era considerado consultor e espécie de guru intelectual de assessores próximos ao presidenteInstagram/ Reprodução

Olavo de Carvalho terá seu funeral realizado em Petersburg, cidade de 31 mil habitantes na Virgínia, Estados UnidosInstagram/ Reprodução

Além disso, foi internado com problemas respiratórios em abril do ano passado e lidava com consequências da doença de Lyme, conhecida como doença do carrapato, que pode causar irritação na pele, dores nas articulações e fraqueza nos membrosInstagram/ Reprodução

Pouco antes de falecer, passou a fazer críticas ao governo Bolsonaro. Apesar disso, o presidente lamentou a morte do escritor. “Olavo foi um gigante na luta pela liberdade e um farol para milhões de brasileiros. Seu exemplo e seus ensinamentos nos marcarão para sempre”, escreveu o mandatário do BrasilInstagram/ Reprodução
Na ocasião, a propósito das eleições de outubro próximo, Olavo vaticinou que a “briga está perdida”. “O Brasil vai se dar muito mal, não venham com esperanças tolas. Existe uma chance [de ele voltar], mas remota. Só se Bolsonaro acordar, e eu não sei como fazê-lo acordar.” Os três ex-ministros afastaram-se do presidente.
O escritor chegou a dizer que o presidente é um “excelente administrador”, mas o comparou a um prefeito de “cidade do interior”, acusando-o de covardia. Descartou a ideia de que Bolsonaro representa a direita brasileira: “No Brasil, ou você é comunista ou é neutro. Não existe direita. Existe bolsonarismo”.
A relação entre os dois foi se tornando mais hostil com a passagem do tempo. Era boa no começo do governo em 2019, quando Olavo emplacou Araújo como ministro das Relações Exteriores e o professor colombiano Ricardo Vélez Rodríguez como ministro da Educação. Um ano depois, já era sujeita a chuvas e trovoadas.
Em maio de 2020, por exemplo, em entrevista à BBC Brasil, Olavo disse que era possível chamar Bolsonaro de “burro”. Disse, porém, que ele não seria ladrão. Em junho, acrescentou o adjetivo “fraco”. Escreveu em sua conta no Twitter: “Se esse pessoal não consegue derrubar o governo, eu derrubo”.
A família de Olavo não revelou as causas de sua morte. No último dia 16, ele anunciou que contraíra a Covid-19. Durante a pandemia, não se cansou de repetir que o vírus nunca havia matado ninguém. Na madrugada de hoje, Bolsonaro lamentou sua morte. A morte da cantora Elza Soares, há poucos dias, não lamentou.