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Bolsonaro semeia a anarquia militar para reeleger-se. Ou então…

Punir o general Eduardo Pazuello com uma advertência oral equivale ao carão que um pai dá no filho travesso. Ele precisa ser castigado

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Bolsonaro Presidente Jair Bolsonaro durante enentos com militares brasileiro
1 de 1 Bolsonaro Presidente Jair Bolsonaro durante enentos com militares brasileiro - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

De anarquia militar, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) entende. É doutor na matéria. E como dela aproveitou-se no passado para escapar de ser expulso do Exército e ganhar a patente de capitão, quer aproveitar-se dela mais uma vez para reeleger-se no ano que vem. Ou, se perder, para recusar-se a aceitar o resultado.

Presidente da República que nomeia para ocupar cargo de destaque, com direito a gabinete no Palácio do Planalto, general da ativa investigado pelo Exército por violar o código de disciplina da arma, que recado manda às Forças Armadas? Simples. Anarquia militar a seu favor, pode e será bem-vinda.

O general Eduardo Pazuello, uma figura que se tornou bizarra desde que veio a público, perdeu o Ministério da Saúde para servir a Bolsonaro e ganhou um novo emprego para servir a Bolsonaro. Está-se para ver um general tão vassalo, desfrutável, medíocre e burlesco quanto ele. Burlesco, não, porque nem risos desperta.

A certa altura do avanço da pandemia no ano passado, dado que o governo deixou-a livre para matar quem tivesse de morrer, foi preciso que rolasse alguma cabeça para salvar a do presidente. Então rolou a do general que não metia medo a ninguém. Pegou mal para o Exército, mas e daí? Para Bolsonaro, pegou bem.

Ao pilotar uma moto no Rio, subir num carro de som e discursar para motociclistas em uma manifestação político-partidária, outra vez Pazuello prestou-se ao papel de cumprir a vontade do seu chefe. Afinal, manda quem pode, obedece quem tem juízo. Ali, o general desertou do Exército e aderiu à força inimiga. Um Calabar!

O comandante do Exército, general Paulo Sérgio Noronha, encontra-se entre a cruz e a espada. Será crucificado por seus pares se não usar a espada contra Pazuello. Há maioria no Estado Maior do Exército favorável à punição de Pazuello com o rigor que o caso exige. No mínimo, que ele seja duramente censurado por escrito.

Intimidado por Bolsonaro, Noronha protela sua decisão. Cogita limitar-se a advertir Pazuello oralmente, sem que nada venha a constar na sua folha corrida depois que for para a reserva. Seria a punição mais branda prevista nos regulamentos. Equivale à reprimenda que um pai dá num filho travesso. Nem palmada é.

E quando o guarda da esquina, ou o soldado raso, concluir que um fardado armado jamais será punido de vez que o general bolsonarista não foi? Ou ao general é permitido desrespeitar regulamentos, mas ao soldado não? O exemplo de insubordinação de Bolsonaro no seu tempo de quartel começa a dar frutos.

Era 14 de maio último, quando o deputado Major Vítor Hugo (PSL-BA) deu início a mais uma live no Instagram, apareceu Luan Ferreira de Freitas Rocha, 3.º sargento de Material Bélico da ativa, que trabalha na Companhia de Comando da 15.ª Brigada de Infantaria Mecanizada, com sede em Cascavel, no Paraná.

Como conta Marcelo Godoy em O Estado de S. Paulo, Luan dividiu a tela com o deputado para reclamar do aumento de tempo de permanência como terceiro-sargento imposto aos graduados pela chamada reforma da previdência dos militares, que os obrigou a ficar mais cinco anos no posto antes de se aposentar.

O sargento quer a criação da graduação de “sargento-mór”, logo abaixo dos subtenentes. Diz que seus colegas que trabalham em São Paulo não conseguem viver com o que ganham.  Se os generais do Planalto podem furar o teto do funcionalismo e ganhar até 69% de aumento, por que os sargentos devem ficar à míngua?

Foi com um discurso parecido com esse que surgiu Bolsonaro. Como seus superiores não lhe deram ouvido, ele planejou atentados a bomba a unidades militares do Rio.

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