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CPI da Covid reserva surpresas desagradáveis ao governo (João Bosco)

Novos depoimentos desta semana deverão deixar mais evidentes os erros cometidos pelo governo no combate à pandemia

atualizado

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Bolsonaro
1 de 1 Bolsonaro - Foto: Reprodução

O calendário da CPI da Covid, que prevê novos depoimentos esta semana, indica mais desgaste do presidente Bolsonaro com a investigação da gestão federal da pandemia. Na terça (18/5) e quarta (19/5), respectivamente, estão pautados o ex-chanceler Ernesto Araújo, e o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Na quinta (20/5) será a vez da secretária do Ministério da Saúde Mayra Pinheiro, cuja defesa da cloroquina para combater o vírus lhe valeu a alcunha de “Capitã Cloroquina”. Quando faltou oxigênio em Manaus para pacientes da Covid, ela considerou inadmissível a não utilização do medicamento.

“Aproveitamos a oportunidade para ressaltar a comprovação científica sobre o papel das medicações antivirais orientadas pelo Ministério da Saúde, tornando, dessa forma, inadmissível, diante da gravidade da situação de saúde em Manaus, a não adoção da referida orientação”, disse em ofício às autoridades amazonenses.

Em comum, o trio nada tem a oferecer em defesa do governo. São o epicentro da crise e mais se destacarão pelo que deixarem de dizer do que por algum conteúdo que possa dar consistência ao discurso de negação até hoje vocalizado pelo presidente da República.

Araújo criou uma crise diplomática com a China, à qual se atribui as dificuldades para a obtenção continuada da vacina coronavac; Pazuello foi o ventríloquo que materializou o discurso presidencial de tal forma que fez de um habeas corpus vacina para se imunizar contra a verdade, quando lhe for cobrada.

É tão claro o dano político já causado – e ainda por causar – pela CPI, que o presidente Bolsonaro abandonou a campanha de reeleição dissimulada desde a posse: escancarou-a, entregando-se a uma agenda de viagens e inaugurações país adentro. Trouxe 2022 para 2021.

Não é uma estratégia pensada, mas uma decisão tática a que foi levado justamente pela conjunção do avanço da CPI, a piora da economia e a falta de vacinas, com reflexos claros nas pesquisas eleitorais que consolidam a liderança do ex-presidente Lula, à falta ainda de uma alternativa aos dois extremos.

A antecipação das viagens de campanha carrega defeitos comuns a recursos possíveis – aqueles de que se lança mão para enfrentar turbulências não previstas em planos de voo.

O primeiro deles, é a insuficiência para deter os estragos da CPI que acompanharão o candidato-presidente como passageiros dos mesmos itinerários. Estarão sentados na poltrona ao lado.

Da mesma forma o ambiente econômico em deterioração também embarca com o presidente, restando-lhe a perseverança do discurso ideológico, que é a pregação para convertidos. Nesse aspecto, vale lembrar que a pesquisa mais recente registra a aprovação mais baixa do presidente (24%) e uma rejeição de 64%.

Fala-se, em contrapartida, de um avanço de propostas do governo na Câmara, sob a liderança de Arthur Lira, que poderiam dar ao presidente Bolsonaro algum resultado positivo no campo político este ano.

No entanto, parece uma avaliação precipitada: foram aprovadas medidas sem maior importância, exceção para aquelas de afrouxamento das regras ambientais que não agradam nem mesmo ao setor responsável do agronegócio, pelos danos causados às exportações, além de ir na contramão das cobranças externas, agora lideradas pelos Estados Unidos.

O Centrão, ora aliado a Bolsonaro, está ainda focado nos próprios acordos internos cobrados ao presidente da Câmara e artífice da aliança, Arthur Lira. Trocando em miúdos, essa base provisória e movediça está cuidando, assim como Bolsonaro, de arar o terreno para as eleições do ano que vem. Nesse roteiro, a aliança tem como limite a viabilidade eleitoral.

Além disso, as medidas com origem na Câmara, reunidas sob o epíteto de “boiada”, que passa enquanto as atenções estão voltadas para a CPI, terão ainda que ir ao Senado, o que significa que Lira está terceirizando seus compromissos ao colega Rodrigo Pacheco, com quem já teve relações mais entusiasmadas.

O governo se mostra agressivo porque aplica a máxima de que a melhor defesa é o ataque. Mas está mesmo entrincheirado, buscando saídas em prazo mais curto do que o desejável.

Bolsonaro vive seu momento mais vulnerável longe da zona de conforto que lhe permitia velejar em mar de almirante.

João Bosco escreve em https://capitalpolitico.com/

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