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Cachê e camarim? Principal treinador de cães atores do país conta tudo

Além de treinar pets para filmes como Turma da Mônica – Laços, Luís Oliveira adestra os fiéis escudeiros de famosos como Sabrina Sato e Alok

atualizado

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Arte: Stephanie Arcas/ Metrópoles
cachorroator
1 de 1 cachorroator - Foto: Arte: Stephanie Arcas/ Metrópoles

Você pode não conhecê-lo pelo nome, mas de certo já viu algum filme ou publicidade com um pet adestrado por Luís Oliveira. Fundador da escola de cães Estrelas Animais e sócio-proprietário da agência de casting Wind, ambas em São Paulo, ele é responsável pelo comportamento em cena de verdadeiras celebridades caninas, como o lhasa apso que interpreta o Floquinho no longa-metragem Turma da Mônica –Laços e o beagle Pipoca, ícone absoluto dos comerciais da Net.

Além de emprestar a destreza com os pets para produções cinematográficas e publicitárias, o paulistano é conhecido por ser o treinador dos bichinhos de estimação de diversos famosos, entre eles, Sabrina Sato, Alok, a blogueira Lala Rudge e o ator Reynaldo Gianecchini.

Em bate-papo com o Metrópoles, o especialista contou os desafios da profissão e deu detalhes dos bastidores de uma gravação protagonizada por atores de quatro patas. Confira:

Hoje, você é referência em casting de animais e possui uma extensa lista de clientes estrelados. Como tudo começou?
Lembrar das raízes é importante. Aos 8 anos, fui mordido no rosto pelo cachorro de um parente. Fiquei muito assustado e tive a cabeça toda enfaixada. A partir daquele momento, decidi aprender a lidar com os animais, para que incidentes como aquele não acontecessem mais comigo, nem com os outros.

Comecei passeando com os pets e, pouco a pouco, fui me especializando na área. Quando percebi uma oportunidade de mercado no setor de casting, investi. E lá se foram 35 anos.

 

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Você já contribuiu em novelas da Globo e do SBT, clipes de cantores famosos e produções do cinema. O seu último trabalho de grande destaque foi no Turma da Mônica – Laços, filme assistido por mais de 1,5 milhão de pessoas. Conte um pouco da participação no live-action.
Foi incrível! O cuidado que a produção do longa brasileiro teve com os animais foi o mais próximo que já vi de Hollywood. Geralmente, me contratam para treinar determinado pet um mês antes de começarem as gravações. No caso do Turma da Mônica, me convocaram com um ano de antecedência. Tanto que pude comprar um cachorro e treiná-lo desde filhotinho só para interpretar o Floquinho.

Bacana também que a equipe esteve atenta a todos os detalhes da caracterização do cão, sem causar nenhum tipo de dano ao animal. O bichinho usou, por exemplo, extensão de pelo natural e foi colorido na tonalidade verde, tão característica do companheiro de Cebolinha, por meio de efeitos visuais.

E como é o bastidor de uma filmagem com cães atores? 
Eles são muito paparicados. Com direito a camarim, intervalos garantidos para brincar, hora de petiscar e momento de hidratação. Às vezes, eles têm até um parceiro animal como dublê, para a estrela do show não se cansar nos testes de luz e só entrar em cena no instante da gravação.

Quais são seus cases de sucesso?
Impossível não citar o trabalho do Pipoca, cão que estrela propagandas da Net. Ele tem contrato de exclusividade com a empresa de telecomunicação e já rodou o Brasil para participar de eventos de divulgação. Chega, inclusive, a dar autógrafos. Outra grande celebridade é a Wind, uma jack russell que assinou 3 mil trabalhos e é unanimidade em set. Batizei a minha agência de casting como uma homenagem a ela.

 

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Quanto custa o cachê de um animalzinho como esses?
Não gosto muito de citar valores. Tenho medo dos preços despertarem em pessoas gananciosas a vontade de comprar um cachorro apenas para lucrar em cima dele. O que me permito dizer é que uma figuração rende R$ 600. À primeira vista, a quantia pode parecer alta, mas há muitas despesas com veterinário, ração especial e adestramento.

O que é preciso fazer para inscrever um cachorro em um casting?
Na minha agência, faço todo o trabalho. Identifico qual o perfil do cão, marco sessão de fotos do bichinho com Lionel Falcon ou Johnny Duarte (os principais fotógrafos da área pet da atualidade), adestro e faço a ponte com contratantes. Todo esse serviço saí por R$ 800. Vale ressaltar, ainda, que o cachorro, para entrar em meu catálogo, não precisa ser de raça, mas sim bem cuidado.

 

 

Ao longo da carreira, você teve a oportunidade de assinar parcerias com grandes marcas. Cite algumas.
Vivara, Sky (onde tive a chance de trabalhar com Gisele Bündchen), Vivo, Pedigree, MasterCard, Cobasi… São tantas que perco as contas. Faço 70% dos comerciais com cães de todo o país. Esse tipo de publicidade, por trazer cachorros fofinhos fazendo peripécias, traz muito retorno às grifes.

Uma ação que ficou na memória é da Havaianas. Usamos dois cães com habilidades complementares para interpretar um personagem: o Bolota. O resultado ficou tão surpreendente que todos acharam que o cachorro (que na verdade eram dois) era realmente de Cauã Reymond (que estrela a propaganda). Certa vez, o apresentador Faustão, ao receber o ator em seu programa, perguntou: “E como está o Bolota?”. Isso em horário nobre e rede nacional. Foi um barato.

Do que as pessoas reclamam mais sobre o comportamento dos cães e o que é mais difícil ensinar a eles? 
Xixi no lugar certo é o grande sonho de consumo. Se for filhote, consigo resolver esse problema em um mês, com aulas de uma hora de duração duas vezes na semana. Se o cachorro tiver mais de 1 ano, ele também está apto a aprender, mas o processo é um pouco mais lento. O maior desafio de ser adestrador, na minha opinião, é lidar com a agressividade.

O Bernardo, o SRD [sem raça definida] que a Sabrina Sato adotou, por exemplo, mordia os convidados. Ela me chamou para contornar a situação antes de a Zoe, filha dela, nascer. Fiz um tratamento intensivo. Tirei ele do contato com a família e o levei para minha escola. Enfim, reverti a situação após quatro meses de treinamento. Fiquei contente, porque ele já tinha passado por sete adestradores e seguia raivoso. Comigo, virou outro cão. Mas é muita responsabilidade, sabe? Dia desses, a Anitta foi visitar a Sabrina e postou Stories agarrada com o Bernardo. Imagina se ele morde o rosto dela? Ainda bem que tenho confiança na eficácia da minha metodologia.


Você ministra palestras país afora sobre o seu método de ensino. Qual o diferencial?
Em primeiro lugar, não obrigo o dono do cão a estar presente em todas as aulas. Entendo a rotina corrida dos clientes e exigir isso seria um empecilho. Faço, então, de uma forma que o animal respeite comandos de qualquer pessoa, seja quem for. O cachorro, logo, não obedece apenas ao mestre, mas age com educação com todos ao redor, inclusive, na presença de outros pets. As aulas de socialização servem justamente para isso.

Segundo, utilizo duas formas de recompensa além do petisco: carinho e brinquedo. Dessa forma, o bichinho não fica tão vidrado na recompensa. Quando você ordena uma tarefa, ele não olha para a sua mão ou o seu bolso (à procura do biscoito), e sim para os seus olhos. Creio que seja uma forma mais humanizada de domá-los.

Em meio a tantos bichinhos, como é sua rotina e agenda? Faz tudo sozinho?
De maneira alguma. O Estrelas Animais, hoje, conta com 15 treinadores. Por dia, uma média de 100 cães passam pela nossa escola, isso sem contar a agenda de gravações e shootings.

Proteção aos animais

O presidente da Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal (Arca), Marco Ciampi, revela que, atualmente, não há uma agência responsável por fiscalizar as produções com animais no Brasil. “Nos Estados Unidos, por exemplo, existe a American Humane, que acompanha as gravações desse setor e garante que não haja nenhum tipo de maus-tratos. No nosso país, brinco que o maior ‘órgão fiscalizador’ é o público. Os brasileiros ficam de olho e denunciam quando percebem, em cena ou na vida real, que há alguma exploração”, revela Ciampi, citando a comoção nacional que um cachorro espancado na porta de um supermercado no final do ano passado gerou. “Não se falava em outra coisa”, lembra.

Sobre o que a associação protetora dos animais pensa da ação de colocar um pet na posição de ator, ele diz: “Pode ser uma faca de dois gumes. Ou a produção humaniza o cão ou ela coloca o animal em uma situação vexatória e faz um desserviço. Por isso, vale refletir: é realmente necessário usar um animalzinho para tal trabalho? Existe um propósito nisso?”.

Caso haja, ele lista uma série de cuidados que devem ser levados em consideração pela equipe de filmagem prestes a lidar com um pet. “É importante ficar atento à temperatura do ambiente. Certas raças não reagem bem ao frio ou ao calor. Garantir momentos de recreação e oferta de água também é essencial. Fora isso, indico a presença de um especialista ou protetor de animais em todos os momentos da gravação”, recomenda. 

Para denunciar casos de maus-tratos, acione a Polícia Ambiental, o Ibama ou o Ministério Público. No Distrito Federal, é possível contatar diretamente a Delegacia Especial do Meio Ambiente e de Proteção à Ordem Urbanística (Dema) por meio do número 197, pelo WhatsApp (61) 98626-1197 ou pelo e-mail denuncia197@pcdf.df.gov.br.

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