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Variante Delta é mais perigosa para crianças? O que se sabe até aqui

Médicos dos EUA, onde há registro de aumento dos contágios por essa cepa, sugerem mais riscos para crianças

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Arte: Freepik, Marcos Garcia/Metrópoles
Criança com máscara escreve em caderno
1 de 1 Criança com máscara escreve em caderno - Foto: Arte: Freepik, Marcos Garcia/Metrópoles

A alta transmissibilidade da variante Delta do coronavírus aliada ao fato de que pessoas com menos de 12 anos ainda não são elegíveis para serem vacinadas tem preocupado a comunidade pediátrica dos Estados Unidos.

No país, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), aumentou o número de crianças com Covid-19 que precisaram de hospitalização entre 31 de julho e 6 de agosto de 2021. A média diária de crianças internadas foi de 216, um índice que quase se iguala às 217 hospitalizações diárias desse grupo no pico da pandemia no país, no início deste ano.

Segundo uma reportagem do jornal The New York Times publicada nesta segunda-feira (9/8), médicos da linha de frente estão relatando mais casos de crianças gravemente doentes atualmente do que em qualquer outro período da pandemia. Para esses especialistas, a variante Delta pode ser uma das culpadas.

“Todos estão um pouco nervosos com a possibilidade de que a variante Delta possa de fato ser, de alguma forma, mais perigosa em crianças”, disse ao jornal Richard Malley, especialista em doenças infecciosas pediátricas do Hospital Infantil de Boston.

Evidências científicas

Até aqui, no entanto, ainda não há evidências científicas para corroborar a impressão dos médicos. Nos Estados Unidos, na população em geral, dados recentes divulgados pelo CDC mostram que mais de 80% dos novos casos são causados pela Delta.

No Brasil, de acordo com o relatório da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), divulgado nesta segunda-feira, há 400 casos notificados de contágio pela cepa. Porém, nos dois levantamentos não há informações especificas sobre o número de crianças infectadas pela Delta.

De acordo com Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), por aqui, ainda não há indícios de que seja necessário disparar o alerta em relação à variante Delta – seja para infecções em adultos ou crianças.

“Não há constatação de diferença da Delta em relação às outras variantes. As crianças continuam sendo menos suscetíveis ao agravamento da doença e menos atingidas. Portanto, não há mudanças nas recomendações de cuidados devido à chegada da Delta”, afirma Kfouri.

Segundo o especialista, as crianças são proporcionalmente menos afetadas pela Covid-19 do que os mais velhos, pois menos de 2% do total de hospitalizações acontecem em menores de 20 anos e 0,34% do total de óbitos foram registrados nos grupos de jovens adultos e crianças. Por isso, ele recomenda que, caso seja adotada a estratégia de imunização de reforço, os idosos sejam o grupo vacinado com prioridade.

Vacinação infantil

Para Gulnar Azevedo, epidemiologista integrante da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e professora do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), embora as crianças tenham uma vantagem imunológica – as evidências mostram que mesmo infectadas, poucas evoluem para a Covid-19 grave – elas estão mais expostas por não terem sido vacinadas.

“Adultos totalmente imunizados transmitem menos carga viral para as crianças, protegendo-as. Por isso é muito importante se vacinar e é necessário acelerar a vacinação nos grupos prioritários para poder incluir as crianças. Infelizmente enfrentamos uma situação onde não há vacinas para todos, então precisamos criar escalas de prioridades”.

Estudos têm demonstrado que boa parte das vacinas distribuídas atualmente são eficazes contra a Delta e outras variantes, diminuindo número de casos graves, hospitalizações e mortes atribuídas ao vírus. Apesar disso, o CDC americano mostrou em relatório que há elevado risco de maior contágio pela variante Delta, maior probabilidade de que ela resista às proteções oferecidas pelas vacinas contra a Covid-19 e maiores chances de que ela cause mais doenças graves do que todas as outras variantes conhecidas do Sars-CoV-2.

Ainda não está claro quando crianças menores de 12 anos podem ser vacinadas, mas enquanto isso, dizem os especialistas, a melhor maneira de reduzir o perigo para elas é completar o esquema de vacinação das outras faixas etárias, o que ajuda a controlar a variante Delta e o surgimento de outras cepas.

Protocolos de segurança
Quanto a volta às aulas presenciais, segundo Gulnar, é preciso seguir estritamente os protocolos de segurança, com distanciamento, controle da quantidade de crianças e itens de higienização, fazendo um esforço coordenado para evitar que as escolas sejam novamente fechadas. “O momento é de observar e acompanhar os casos de infectados pela Delta, cuja disseminação está aumentando. Todo cuidado é pouco neste momento. Precisamos de muita cautela e vigilância”, ressalta a epidemiologista.

Saiba como as vacinas contra Covid-19 atuam:

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