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Quando o café deixa de ser benéfico à saúde e vira vício?

Para muitos, um dia sem ele é impensável. Mas, dependendo da dose, o prazer pode se transformar em dependência

atualizado

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João Bidu/ Reprodução
´Borra de café
1 de 1 ´Borra de café - Foto: João Bidu/ Reprodução

Uma xícara logo pela manhã, um cafezinho com os colegas ou amigas: relaxa, anima, e é um elo de conexão social. Enfim, a infusão marrom-escuro é parte inalienável da vida de muita gente. Mas o café “pode definitivamente criar dependência”, alerta o toxicologista Carsten Schleh, autor do livro Die Wahrheit über unsere Drogen (A verdade sobre as nossas drogas).

Diversos estudos chegam à mesma conclusão, ao ponto de o distúrbio de consumo de cafeína (caffeine use disorder) ser atualmente um diagnóstico médico reconhecido. Segundo a revista Psychopharmacology, o café é a droga psicoativa mais consumida do mundo.

O país onde se consome mais café é Luxemburgo, com 8,5 quilos per capita anuais. Na Alemanha, essa cifra é de 4,8 quilos, acima dos 4,5 quilos por ano do Brasil. É possível que nos próximos anos o consumo vá cair, já que as mudanças climáticas ameaçam sua produção e colheita, fazendo subirem os preços. No momento, contudo, a tendência vai na direção de alta.

O que contém o café?

O café é uma mistura complexa de mais de mil substâncias, entre as quais polifenóis, corantes e flavorizantes naturais, vitamina B e magnésio. No entanto, o que torna seus grãos tão cobiçados é o alcaloide cafeína, também presente nas favas de cacau e em grande quantidade nos energy drinks. Certas folhas de chá contêm teína, uma substância quase idêntica.

Entre 15 a 30 minutos após o primeiro gole, a cafeína chega ao cérebro, onde se conecta aos receptores de adenosina.

A adenosina tem como função bloquear a liberação de neurotransmissores como dopamina e noradrenalina, ela “põe o cérebro para dormir, deixa a gente cansada e preguiçosa”, explica Schleh.

Ao se conectar a esses receptores e bloqueá-los, a cafeína impede a ação tranquilizante e adormecedora da adenosina, deixando o organismo desperto. O efeito positivo, então, é que “o café estimula a tensão arterial, deixando mais disposto, ágil e produtivo”.

Quando o café vira vício?

Assim como muitas outras substâncias psicoativas, a cafeína também eleva a liberação de dopamina, apelidada “hormônio da felicidade” por seu efeito físico estimulante. E essa ação é ainda potencializada pelo fato de os receptores da adenosina já estarem bloqueados pela cafeína.

Isso também desencadeia efeitos fisiológicos: “Quando se bebe muito café, formam-se novos receptores de adenosina”, e com isso a demanda dessa substância calmante aumenta, diz Schleh. A falta da bebida pode resultar em cansaço e irritabilidade, e outros sintomas de abstenção são: dores de cabeça, falta de concentração, prostração e insatisfação.

O toxicologista desfaz a ilusão: “A sensação deliciosa, relaxante da primeira xícara de café matinal também se deve ao abrandamento desses sintomas de privação.”

Com o café, “a dose faz o veneno”

Apesar de seu potencial de criar dependência, um consumo moderado de café não é prejudicial para adultos saudáveis: “A dose é que faz o veneno”, resume Schleh. A Autoridade Europeia para Segurança Alimentar (EFSA) recomenda um máximo de 400 miligramas de cafeína ao longo do dia, ou seja, de duas a cinco xícaras, dependendo do tamanho. Gestantes não devem exceder os 200 miligramas diários.

Dentro desses limites, a infusão tem francas vantagens para a saúde, sendo associada a uma menor probabilidade de diabetes 2, moléstias cardíacas, câncer hepático e uterino, de doença de Parkinson e depressão.

Quem reage à retirada do café com sintomas como tremores, suor frio ou ansiedade depressiva, pode estar sofrendo de dependência de cafeína. Como durante muito tempo ela não foi reconhecida como vício, é comum os afetados não serem devidamente levados a sério.

Carsten Schleh aconselha que quem ingere cafeína acima dos limites recomendados vá reduzindo o consumo gradativamente. Como “a cafeína é uma das drogas mais inofensivas”, raramente é preciso uma privação radical, a qual, além de potencialmente envolver sintomas bem desagradáveis, aumenta o risco de uma recaída.

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