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“Farmacêuticos são linha de frente. Já morreram 6 no DF”, diz presidente do CRF

Gilcilene Maria El Chaer, presidente do Conselho Regional de Farmácia do DF, destaca o papel dos profissionais durante pandemia de Covid-19

atualizado

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Mike Sena/Especial Metrópoles
máscaras brancas sobre fundo vermelho
1 de 1 máscaras brancas sobre fundo vermelho - Foto: Mike Sena/Especial Metrópoles

Apesar de não serem os responsáveis pelo tratamento dos pacientes que apresentam os quadros mais graves da Covid-19, os farmacêuticos estão na linha de frente do combate ao novo coronavírus. Não há serviço de saúde que prescinda do trabalho deles, seja para controlar os estoques de medicamentos ou para explicar a maneira correta de tomar os remédios aos clientes das farmácias.

Durante a pandemia, a tensão vivida pela população representou o agravamento de problemas que impactam no serviço dos profissionais, como a falsificação de remédios, o comércio ilegal, o hábito da automedicação, a divulgação de notícias falsas sobre saúde e de soluções sem comprovação científica.

Em entrevista ao Metrópoles, a presidente do Conselho Regional de Farmácia do DF, Gilcilene Maria El Chaer, falou sobre esses assuntos e homenageou os colegas pelo serviço essencial que estão prestando à população.

Como os profissionais de farmácia estão contribuindo para o enfrentamento da Covid-19?
Nós estamos na linha de frente. No DF, até agora, seis farmacêuticos morreram de Covid-19 e vários adoeceram.

As farmácias são estabelecimentos de saúde e possuem uma capilaridade geográfica favorável para o acesso da população. Toda farmácia requer, obrigatoriamente, a presença física de farmacêutico durante o horário de funcionamento. Essa obrigação é fixada por lei federal.

Além disso, por causa da pandemia, as farmácias foram autorizadas a realizar testes rápidos para a detecção da Covid-19 e esses testes precisam ser executados por farmacêuticos.

O profissional também está nos hospitais e nas unidades básicas de saúde. Ou seja, os farmacêuticos estão em várias frentes de combate ao coronavírus.

A automedicação tem sido incentivada por causa da Covid-19. Qual o risco de usar remédios que estão no mercado, mas não têm comprovação científica?
A pandemia trouxe medo, insegurança e incertezas para a população, principalmente por ter sido desencadeada por um agente novo no universo científico. Apesar de pertencer à família dos coronavírus existentes no mundo, o Sars-CoV-2 possui características diferentes, afetando a resposta imunológica do ser humano.

Em razão do desconhecimento da doença, sobretudo quanto ao tratamento adequado, várias pesquisas sobre medicamentos foram publicadas ainda na fase inicial. Resultados satisfatórios de alguns remédios foram noticiados e a população, então, iniciou uma busca acelerada por eles nas farmácias do país.

Em relação à segurança do uso de medicamentos, é importante destacar que não existem fármacos livres de risco, até mesmo os que são isentos de prescrição médica apresentam riscos. Os medicamentos são desenvolvidos com moléculas químicas ou biológicas que reagem no corpo humano.

O uso inadequado e sem orientação pode trazer consequências graves, como intoxicação, incompatibilidade com outros medicamentos e/ou alimentos e até possibilidade de morte. Outro risco consiste nos remédios é mascarar os sinais e sintomas de doenças.

Como o consumidor pode se prevenir em relação à comercialização de medicamentos falsos?
Para que os medicamentos sejam comercializados é obrigatório que passem pelo registro e autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Do mesmo modo, os estabelecimentos farmacêuticos só podem adquirir medicamentos para comercializá-los se tiverem autorização da Anvisa, da Vigilância Sanitária e do Conselho Regional de Farmácia.

Os medicamentos devem ser adquiridos com nota fiscal, para que haja a possibilidade de rastreabilidade de sua origem. Infelizmente, a compra de medicamentos de origem clandestina ainda ocorre, caracterizando uma grave ameaça à saúde pública.

Para se proteger, o consumidor deve evitar comprar medicamentos em estabelecimentos duvidosos ou não licenciados para a venda. Toda farmácia deve dispor de licença sanitária e certidão de regularidade técnica farmacêutica, emitida pelo Conselho Regional de Farmácia. Esses certificados devem estar visíveis ao público.

Outra recomendação é comprar medicamentos apenas em farmácias onde um farmacêutico estiver presente, pois a ausência desse profissional caracteriza irregularidade. É direito do consumidor ser atendido pelo farmacêutico. Também é importante duvidar de preços muito baixos, principalmente se forem oferecidos por meio de internet sem que o site seja de farmácias licenciadas e existentes fisicamente.

Por fim, nunca adquira medicamentos em feiras ou em bancas de vendedores ambulantes.

Na pandemia, temos visto soluções para melhorar a imunidade sendo comercializadas até pela internet. Em relação aos suplementos e vitaminas, que tipo de oferta deve acender o alerta do comprador?
Lamentavelmente, muitas campanhas publicitárias levam o público leigo a acreditar nos efeitos prometidos e desconsiderar os riscos à saúde. Desde o ano 2000, a Anvisa, por meio da RDC nº 102, proíbe o estímulo ao uso indiscriminado de medicamentos e a afirmação da ausência de efeitos colaterais ou contraindicações nas propagandas. Há ainda a RDC nº 96 de 2008, que versa sobre a publicidade dos medicamentos.

Portanto, mais uma vez, o consumidor deve se abster de adquirir medicamentos sem a prescrição do médico ou orientação e prescrição do farmacêutico, no caso dos medicamentos serem livres de prescrição médica. Somente esses profissionais detêm do conhecimento sobre os benefícios e os malefícios do uso de medicamentos para prevenção ou tratamento de doenças. Além disso, os suplementos e vitaminas em excesso podem desencadear sobrecarga renal e hepática.

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