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Áudios: vítimas relatam como médico acusado de estupro agia na clínica

Relatos têm em comum o pedido para que as mulheres ficassem sem roupa, até para procedimentos como aferição da pressão arterial

atualizado

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Reprodução/Rede Social
Em foto colorida homem branco e olhos azuis e cabelos ruivos olha para câmera; várias mulheres afirmam terem sido estupradas por ele - Metrópoles
1 de 1 Em foto colorida homem branco e olhos azuis e cabelos ruivos olha para câmera; várias mulheres afirmam terem sido estupradas por ele - Metrópoles - Foto: Reprodução/Rede Social

São Paulo – Pedidos para que as pacientes tirassem as roupas em procedimentos simples, como a aferição de pressão, administração de doses cavalares de medicamentos e cirurgias feitas sem o acompanhamento constante de enfermeiras, são alguns dos padrões de conduta relatados pelas vítimas de estupro do médico proctologista Paulo Augusto Berchielli, de 63 anos.

Ele teve a prisão decretada pela Justiça e estava foragido até a noite desse domingo (29/10).

Até o momento, o Metrópoles localizou oito vítimas que denunciam o cirurgião por crimes sexuais, praticados na clínica dele, na zona leste da capital paulista. O relato mais antigo descreve um abuso feito 25 anos atrás.

Quatro das vítimas (ouça abaixo) relataram, em entrevistas, o desespero e o sentimento de impotência após serem alvo de abusos sexuais atribuídos ao cirurgião.

 

“Dose cavalar” de medicamento

“Do jeito que eu cheguei [em casa], deitei e dormi de sexta-feira até domingo. E domingo, quando acordei, falei: ‘Aconteceu alguma coisa’. Sentia dores horríveis [nas partes íntimas]”, afirmou uma das vítimas, uma enfermeira de 47 anos, estuprada após uma cirurgia de hemorroida, em agosto de 2021.

O crime cometido contra ela é o único em que há provas concretas. Na calcinha que a enfermeira usava no dia da cirurgia, foi encontrado sêmen, segundo laudo da Polícia Científica.

A peça íntima “sumiu” da 5ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), segundo a vítima, mas reapareceu, cerca de um ano e meio depois. De acordo com a enfermeira, quando perguntou sobre a calcinha para policiais da unidade especializada, foi alvo de chacota. Como revelado pelo Metrópoles, a descompostura das policiais é, agora, investigada pela Corregedoria da Polícia Civil.

Outra vítima, de 41 anos, afirmou também ter “apagado” de forma fora do comum após ser medicada pelo cirurgião.

“Depois que tomei a medicação, não lembro de mais nada.”

A mulher acrescentou que não se recorda nem do momento que saiu da clínica e voltou para casa, acompanhada de uma parente. “Só depois, em casa, quando passou o efeito da medicação, sentia dores e percebi que sangrava [na vagina e ânus].”

Pedidos para tirar a roupa

As mulheres abusadas pelo médico dizem saber que há procedimentos em que pacientes realmente precisam retirar peças de roupa durante as consultas. Porém, segundo uma das vítimas entrevistadas pelo Metrópoles, Paulo Augusto Berchielli pediu para ela se despir até para aferir a pressão arterial.

“‘Você vai tirar toda sua roupa, para eu verificar sua pressão’ [disse o médico]. Aí eu falei: ‘Meu braço está aqui, não precisa tirar toda a roupa’. Aí ele veio atrás de mim, estava totalmente excitado. Encostou em mim, passou a mão no meu corpo. Depois disse: ‘Pode pôr a roupa e ir embora'”, relembra uma das mulheres.

Outra vítima relatou que Berchielli pediu para ela tirar a blusa e o sutiã para ele auscultar os batimentos cardíacos dela.

“Ele veio por trás de mim, passava a mão em mim. Senti a respiração ofegante [dele] no meu ouvido e começo de gemido, aí ele parou.”

Depois disso, a mulher, que na ocasião do abuso era adolescente, há 25 anos, afirmou que o médico pediu para ela ir a outra sala, onde deveria tirar a calça e calcinha. A vítima seguiu as instruções.

“Chegando lá [sala], ele me colocou ajoelhada, virada para a maca, jogou um lençol e cobriu meu rosto. Escutei o barulho de zíper descendo. O telefone tocou, mas ele continuou na sala. Percebi um barulho de plástico, igual de preservativo abrindo. O telefone voltou a tocar. Ele parou e disse: ‘Fica quietinha que já volto'”.

A vítima não obedeceu. Ela se trocou e foi correndo até a avó, que a esperava em uma sala da clínica. A mulher não denunciou o médico na ocasião porque teve medo e também acreditava que a palavra dela, contra a dele, não seria suficiente para que ele fosse responsabilizado.

Sozinho com as vítimas

Assim como aconteceu com a então adolescente há 25 anos, o cirurgião, de acordo com as outras vítimas, teria praticado os abusos quando estava sozinho com elas, inclusive durante procedimentos cirúrgicos.

“Minha prima disse que eu fiquei sozinha mais de quatro horas durante o procedimento. A assistente [do médico] não ficava na sala. O tempo todo era ele sozinho comigo”, afirmou uma das vítimas.

Outra paciente foi orientada pela mãe a não fazer a cirurgia, após a familiar testemunhar a conduta do médico em uma consulta antes do procedimento. Ele teria insinuado que a paciente gostava de fazer sexo anal.

“Ele falou pra minha mãe. ‘Nossa, essa gosta, viu?’. Minha mãe achou um absurdo, [ela disse] ‘você não vai voltar aqui [clínica]. [Esse médico] é um safado, maníaco, louco, ele não é médico.”

Apesar dos apelos maternos, a mulher se submeteu ao procedimento, durante o qual ficou cerca de quatro horas sozinha com Berchielli. Ele não abriu a porta da sala, mesmo com a mãe da paciente batendo insistentemente para saber como ela estava. Segundo a vítima, ele falava para a mãe dela: “Está tudo bem, estou terminando a cirurgia”.

A vítima afirmou ao Metrópoles acreditar ter sido estuprada. Após a operação, assim como outras vítimas afirmaram, ela sentiu fortes dores e teve sangramento na vagina e no ânus.

Em imagem colorida dados de médicos no Cremesp - Metrópoles
Registro profissional de médico suspeito de estupro segue ativo no Cremesp

Defesa, Cremesp e polícia

Procurado na sexta-feira (27/10), o advogado Daniel Bialski, em nota enviada ao Metrópoles, refutou e negou as acusações feitas contra o médico. O defensor disse ter firme convicção de que a inocência do cirurgião “será comprovada durante o processo”.

O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) afirmou que investiga o cirurgião, “sob sigilo determinado por lei”. “O Conselho esclarece, ainda, que, até o momento, não foi notificado oficialmente sobre o mandado de prisão.”

Por meio da Secretaria da Segurança Pública (SSP), a 5ª DDM afirmou que segue com diligências “para localizar e prender o autor”.

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