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Sobe para 6 número de vítimas de médico: “Peguei HPV após cirurgia”

Auxiliar de enfermagem de 29 anos acredita que foi estuprada por médico ao menos quatro vezes em clínica na zona leste de SP

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Em foto colorida homem branco e olhos azuis e cabelos ruivos olha para câmera; várias mulheres afirmam terem sido estupradas por ele - Metrópoles
1 de 1 Em foto colorida homem branco e olhos azuis e cabelos ruivos olha para câmera; várias mulheres afirmam terem sido estupradas por ele - Metrópoles - Foto: Reprodução

São Paulo – Após a repercussão de quatro denúncias feitas por vítimas de estupros, atribuídos ao médico proctologista Paulo Augusto Berchielli (foto em destaque), de 63 anos, mais duas mulheres, que afirmam terem sido abusadas pelo cirurgião, criaram coragem para formalizar suas acusações.

Berchielli estava foragido até a publicação desta reportagem. O Tribunal de Justiça de São Paulo expediu um mandado de prisão contra ele por tempo indeterminado.

O Metrópoles entrevistou as duas novas vítimas na manhã desta quinta-feira (26/10). Uma delas, auxiliar de enfermagem, foi abusada sexualmente ao menos quatro vezes, durante supostos procedimentos cirúrgicos. Ela contraiu uma doença sexualmente transmissível. A outra, uma babá, sofreu a agressão em 2011.

A auxiliar de enfermagem, de 29 anos, afirmou ter procurado Berchielli para fazer uma cirurgia de hemorroidas, na clínica dele, no Tatuapé, zona leste da capital paulista.

O procedimento ocorreu em 10 de julho de 2019. A acompanhante da auxiliar na ocasião foi a prima dela. Segundo a parente, o médico ficou a maior parte da intervenção clínica, que durou cerca de quatro horas, sozinho com a auxiliar. Depois da cirurgia, a paciente precisou de ajuda para embarcar no carro de aplicativo, usado no retorno até a sua casa, por causa do efeito sedativo intenso no qual estava.

Já em casa, ela sentiu dores e percebeu sangramento, no ânus e partes íntimas, durante muitos dias após o procedimento. Porém, não desconfiava de que poderia ter sido estuprada. “O médico me disse que eu tinha menstruado durante a cirurgia”.

As dores na região anal eram tão intensas que a vítima deixou de comer, para não sofrer quando fosse evacuar. Ela, por isso, disse que chegou a emagrecer 17 quilos, em 15 dias.

Passaram-se cerca de dois meses e ela notou uma verruga, no mesmo local onde a cirurgia havia sido feita.

Em foto colorida mulher em maca de hospital coberta com lençol azul marinho - Metrópoles
Foto feita pela mãe da vítima, após paciente ficar quatro horas trancada em sala com médico

Doença sexualmente transmissível

A auxiliar procurou atendimento em um pronto-socorro, onde a ginecologista alertou que a verruga poderia ser uma doença sexualmente transmissível. Para ter certeza, ela precisaria fazer uma biópsia.

“Fiquei com vergonha e acabei não falando para ninguém sobre isso nem procurei ajuda.”

Somente em 2022, as dores, coceiras e proliferação de verrugas a obrigaram a procurar ajuda. Foi quando ela voltou à clínica de Paulo Augusto Berchielli.

Abusos e HPV

O médico realizou a biópsia, cujo resultou foi positivo para HPV. Na consulta em que fez, antes do procedimento para a retiradas das verrugas, o médico teria feito perguntas íntimas à vítima, que era acompanhada pela mãe.

“Ele perguntou se eu gostava de sexo anal. Isso deixou minha mãe indignada, que falou para mim que ele era louco. Ela tentou me convencer para não fazer a cirurgia com ele”.

Mesmo assim, ela decidiu fazer o procedimento com Berchilli, que usaria laser e cobrou um preço acessível.

A cirurgia, segundo a mãe da auxiliar, que a acompanhou, demorou quatro horas. A mulher tentou entrar no local, mas a porta ficou trancada. Na sala ficara somente o médico e a paciente. “Minha mãe perguntava se estava tudo bem e o médico falava que estava quase terminando, sem abrir a porta”.

Em imagem colorida dados de médicos no Cremesp - Metrópoles
Registro profissional de médico suspeito de estupro segue ativo no Cremesp

Após esse procedimento, a mulher voltou a ter sangramento e dores na vagina e ânus. Ela ainda foi submetida a mais duas cirurgias, em 11 de março e 13 de maio de 2022, mas sem sentir melhoras.

“Eu acho que a única cirurgia que ele realmente fez foi a biópsia, que confirmou a HPV. Depois disso, eu acredito que ele somente me abusou, enquanto eu estava inconsciente”.

A auxiliar gastou, até o momento, R$ 6 mil com vacinas para a HPV, que não surtiram efeito, além de mais de R$ 4 mil com as cirurgias.

Ela se identificou como vítima de estupro, somente após a divulgação do caso, feito nessa quarta-feira (25/10) pelo Metrópoles. Na tarde desta quinta, ele iria formalizar a denúncia na Polícia Civil.

Sem roupa para aferir pressão

Outra vítima, uma babá de 41 anos, afirmou ao Metrópoles, também nesta quinta-feira, ter sido assediada pelo médico em 2011, quando se consultava para a retirada de cistos.

“Ele pediu para eu tirar a roupa, para aferir a minha pressão. Achei estranho. Aí ele veio por trás de mim, excitado, e me apalpou por trás. Depois disse que a consulta tinha terminado”.

A babá foi operada, na clínica do cirurgião. Ela acredita que também foi estuprada durante o procedimento.

A mulher acrescentou, confirmando o relato feito por uma comerciante que também foi abusada, que o proctologista cortava o dedo indicador de suas luvas, para introduzir o dedo descoberto nas partes íntimas da paciente durante consultas.

Na ocasião, ela teve medo de denunciar, porque acreditava ser a única vítima de Berchielli. “Mas quando vi as reportagens, criei coragem e decidi também registrar meu caso na polícia”.

Denúncia e defesa

Berchielli foi denunciado pelo promotor de Justiça Daniel Magalhães Albuquerque Silva, em 9 de agosto, e o documento foi recebido e referendado pelo juiz do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).

O advogado Daniel Bialski afirmou, em nota enviada ao Metrópoles, que o médico refuta e nega as acusações de estupro. O defensor disse ainda ter firme convicção de que a inocência do cirurgião “será comprovada durante o processo”.

“Declaramos, ainda, que sua atuação sempre se pautou pela ética e respeito a seus pacientes, sendo reconhecido pela reputação ilibada conquistada ao longo dos mais de 40 anos de carreira, na qual atendeu e realizou procedimentos em milhares de pacientes, sem qualquer intercorrência ou acusação semelhante”, disse.

Bialski teve um pedido de habeas corpus negado pela ministra Maria Thereza de Assis Moura, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 6 de setembro.

O Cremesp afirmou investigar o cirurgião, “sob sigilo determinado por lei”. “O Conselho esclarece, ainda, que, até o momento, não foi notificado oficialmente sobre o mandado de prisão”.

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