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Rollemberg censura o Metrópoles

O governador lançou mão de expediente antidemocrático, característico de regimes ditatoriais, na tentativa de calar o veículo de comunicação

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Rodrigo Rollemberg
1 de 1 Rodrigo Rollemberg - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Na manhã deste sábado (2/6), a Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis) iniciou uma operação de retirada de engenhos publicitários de grande porte no centro da cidade. Entre os equipamentos que se tornaram alvo do governo, está o painel digital pertencente ao grupo Metrópoles. A estrutura, instalada em prédio do Setor Bancário Sul, no coração de Brasília, funciona desde 6 de fevereiro deste ano.

A partir dessa data, o Metrópoles usa o espaço tanto para a divulgação de conteúdos de natureza publicitária, como para a veiculação de serviços e notícias. Entre os assuntos expostos, estão a previsão de tempo, a situação do trânsito, o funcionamento de equipamentos públicos, a programação cultural da capital, além de toda a sorte de assuntos que interessam a comunidade, como a recente crise de desabastecimento que alterou a rotina dos brasilienses.

Entre os temas abordados nas inserções reservadas ao conteúdo jornalístico, as ações do governo não poderiam passar despercebidas aos olhares criteriosos de mais de 150 profissionais da equipe do site de notícias que abastece o painel.

Mas, muito embora o Metrópoles tenha conquistado todas as autorizações exigidas pelo poder público para garantir o funcionamento do veículo, o governador Rollemberg se insurgiu contra a empena digital ao notar a publicação de conteúdo que, eventualmente, fez críticas à sua gestão.

Numa ação silenciosa, mesmo antes de esgotar as instâncias administrativas, o GDF obteve em regime de plantão, junto a uma juíza substituta, decisão para fazer a retirada do painel. O Metrópoles nem sequer teve o direito de apresentar todas as autorizações de funcionamento expedidas pelo próprio poder público.

O painel funcionou normalmente, divulgando informações dos mais variados interesses, até a publicação de conteúdo mais crítico à gestão de Rollemberg, que usou a máquina pública para calar o veículo, uma atitude frontalmente contrária à liberdade de expressão, caracterizando franca censura, o que não ameaça apenas o Metrópoles, mas todos os veículos de comunicação dispostos a contribuir para o debate público.

Igo Estrela/Metrópoles

O início da óbvia retaliação de Rollemberg ocorreu após a veiculação de campanha publicitária contratada pelo SindSaúde, sindicato que representa os trabalhadores do setor. Na peça, que foi ao ar em 16 de maio, os sindicalistas falam em incompetência, omissão e má gestão do governo. Oito dias depois, a Agefis apresentou notificação para que o Metrópoles desligasse o painel, alegando desconformidade com as regras e ignorando que o próprio poder público foi quem autorizou o funcionamento do veículo.

A pretexto de disfarçar censura ao Metrópoles, Rollemberg ordenou também a retirada de painéis publicitários vizinhos ao do jornal eletrônico, alguns deles em funcionamento há mais de 20 anos.

O governador Rollemberg lançou mão de expediente antidemocrático, característico de regimes ditatoriais na tentativa de calar um veículo de comunicação que, desde a sua fundação, em setembro de 2015, adota postura de independência em relação ao Palácio do Buriti.

Denunciamos recorrentemente em nossa plataforma digital a total precariedade dos serviços públicos prestados pelo GDF, nas suas mais diversas atuações. Fazemos uma vigilância sistemática da falta de estrutura a que os cidadãos estão submetidos quando precisam de hospitais, escolas e transporte público, além das forças de segurança sucateadas pela falta de investimento do governo.

Ao Metrópoles se soma um exército de milhares de brasilienses que – indignados com a inoperância de um governo que há três anos no poder se escorou no discurso de culpar a gestão anterior para disfarçar sua própria incompetência e falta de capacidade de gestão – nos subsidiam com reclamações, denúncias e pedidos de socorro.

Um desses apelos nós estampamos recentemente no painel, agora objeto da fúria de Rollemberg. Publicamos em nosso site, e reproduzimos na empena, o drama do pequeno Mateus. Com poucos dias de vida, os médicos diagnosticaram uma má-formação cardíaca no bebê.

A mãe da criança conseguiu na Justiça duas decisões determinando a imediata disponibilização de leito em UTI pediátrica. Sem a divulgação do caso até aquele momento, a ordem judicial acabou ignorada. E não tinha sido o suficiente para gerar no governador o senso de urgência que a situação exigia.

Foi quando recebemos um apelo desesperado de Larissa, a mãe de Mateus. Imediatamente, o Metrópoles iniciou uma campanha para ajudar a criança e usou todos os meios disponíveis, inclusive o painel, exibindo a seguinte notícia: “Governador Rollemberg, ajude a salvar o Mateus. Ele precisa de uma UTI urgentemente”.

Lilian Tahan/Metrópoles

A providência que o governo não tomou em nove dias da frágil vida de Mateus, veio depois que o Metrópoles passou a publicar matérias cobrando atitude do governo e do governador. Em 40 horas, o leito de Mateus estava garantido.

Algumas incompetências matam, outras flagelam insistentemente os brasilienses. Nós do Metrópoles optamos por denunciar quantas vezes forem necessárias esses episódios de um governo que em 41 meses de atuação nunca conseguiu atingir dois dígitos de aprovação popular. E que, nos últimos tempos, tem demonstrado muito mais ânimo em perseguir seus críticos e adversários do que em devolver aos brasilienses a fé depositada nas urnas.

Todos os esforços de Rollemberg hoje miram a manutenção do poder. Ele que, sob o argumento da austeridade, cortou pela metade investimentos em áreas fundamentais como saúde e educação, agora abre a represa dos gastos públicos para financiar projeto pessoal.

Ao tentar calar um dos meios de comunicação do Metrópoles, Rollemberg demonstra afinidade com ideias e práticas absolutamente autoritárias, que expõem seu pavor de uma imprensa livre e independente.

Sem ter o que apresentar à população, Rollemberg vestiu o estereótipo mais patético de gestor para inaugurar, durante seu governo, obras como calçada, praças, postes e até mesmo abrir a porta de um batalhão sem policiais. Enquanto isso, pessoas padecem em filas de hospitais públicos para sobreviver.

Recentemente, a neta de uma das jornalistas mais respeitadas do país, Valéria de Velasco, teve a atitude corajosa de, publicamente, rejeitar as condolências do governador pelo episódio da morte de sua avó. Na ocasião, Rollemberg emitiu nota de pesar. Luísa Molina foi às redes sociais dizer que a avó havia morrido depois de passar por dois hospitais públicos que não ofereceram condição de atendimento adequado. Em um vídeo de arrepiar, a moça diz que Rodrigo Rollemberg destruiu a saúde pública e tentou se autopromover às custas da dor da família.

Repúdio à nota de pesar de Rodrigo Rollemberg pelo falecimento da minha avó, Valéria de Velasco. Depois de destruir o programa Pro-Vítima, que por tantos anos ajudou vítimas de violência em todo o DF, e de deixar a saúde pública às moscas (minha avó não pode ser atendida na rede pública por falta de médico), ele vem com essa, pra se promover. Ofende a memória da minha avó, como também ofende cotidianamente a população do DF.

Posted by Luísa Molina on Wednesday, April 18, 2018

 

Indignada, ela ainda cita o fim do programa Pró-Vítima, capitaneado por Valéria de Velasco e reconhecido nacionalmente por apoiar vítimas da violência. Valéria é a mãe Marco Antônio Velasco, espancado até a morte em agosto de 1993, quando tinha 16 anos. A jornalista tornou-se uma referência na luta pela paz. Ela transformou sua dor em energia para ajudar demais famílias, até Rollemberg acabar com o programa.

A avaliação de decisões equivocadas de um governador omisso está na boca de milhões de brasilienses incomodados. O termômetro são as recorrentes vaias que Rollemberg colhe por onde passa.

Fica aqui também, governador Rollemberg, a nossa vaia gigante, do tamanho do painel que o senhor tenta calar.

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