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Bolsonaro quer posto de maior aliado de Trump na América do Sul

Depois de manter parte da agenda em sigilo nessa segunda, presidente cumpre principal compromisso nos EUA: fechar parceria com republicano

atualizado

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Enviada especial a Washington (EUA) – A visita do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), aos Estados Unidos está revestida de forte conteúdo ideológico e de resquícios de um certo clima tardio de Guerra Fria, com parte da agenda mantida em segredo até mesmo para os jornalistas credenciados para a cobertura da viagem.

O melhor exemplo disso foi a ida sigilosa do chefe do Executivo brasileiro à sede da CIA, Agência Central de Inteligência norte-americana, em Langley, Virgínia, na manhã dessa segunda-feira (18/3). A imprensa não foi avisada e soube do compromisso por meio de um tuíte do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente que o acompanha nos Estados Unidos.

Seguir o protocolo traçado em conjunto com as autoridades norte-americanas e destacar a política conservadora nos costumes e liberal na economia, contudo, faz parte da estratégia montada pelo governo brasileiro para o compromisso principal em solo norte-americano: o encontro de Bolsonaro com Donald Trump, nesta terça-feira (19/3), na Casa Branca. A atual gestão federal brasileira quer sair da reunião no posto de parceiro estratégico – tanto comercial quanto político – dos Estados Unidos na América do Sul.

Já há algum tempo, a diplomacia brasileira articula nos bastidores a entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), clube dos 35 países mais ricos do mundo. A expectativa é que Trump concorde com o pleito após a reunião desta terça com Bolsonaro. Os brasileiros também estão otimistas com a possibilidade de o norte-americano anunciar o Brasil como aliado extra-OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que reúne as maiores potências militares do Ocidente.

Saiba detalhes da missão EUA de Bolsonaro: 

 

Sinais claros
Dentro da estratégia de fortalecer a relação com os norte-americanos, a comitiva presidencial afinou o discurso e manteve, nos pronunciamentos públicos feitos até aqui, claros sinais de determinação de abrir a economia para investidores, enxugar a máquina pública e promover as reformas que o país precisa, especialmente a da Previdência e a tributária. Também tem cumprido à risca o rígido protocolo traçado em conjunto com as autoridades dos Estados Unidos.

Além de não revelar detalhes da programação na CIA na tarde dessa segunda-feira, por exemplo, o governo brasileiro a considerou parte da agenda “pessoal” do presidente Bolsonaro, apesar de ele estar em uma visita de Estado, a convite de Donald Trump. Segundo o porta-voz do Planalto, general Otávio Rêgo Barros, o sigilo foi uma exigência de segurança.

A assessoria afirmou que o presidente foi à sede da agência com sua comitiva de ministros. Conforme argumentou, a agenda demonstra a importância conferida por Jair Bolsonaro às ofensivas contra o crime organizado e o narcotráfico, bem como à necessidade de fortalecer ações de inteligência por órgãos brasileiros, entre eles o Ministério da Justiça e Segurança Pública, cujo titular, Sergio Moro, acompanhou o presidente na sede da CIA.

O Itamaraty só informou os jornalistas sobre a agenda, por meio de uma nota, após o deputado Eduardo Bolsonaro revelar o compromisso em suas redes sociais. A CIA é uma das instituições mais emblemáticas do período que os historiadores chamam de Guerra Fria, quando os Estados Unidos e a então União Soviética disputavam a hegemonia em um mundo bipolar. Naquela época, as ações de espionagem da agência – algumas delas retratadas por Hollywood – tinham como objetivo proteger os cidadãos norte-americanos contra o “fantasma do comunismo”, conforme o país dizia na época.

Restrições e ideologia
A imprensa também não está autorizada a acompanhar os deslocamentos do presidente, o que, em governos anteriores costumava ser uma opção dos jornalistas. Quando Jair Bolsonaro desembarcou na base aérea de Andrews, no domingo (17), os jornalistas foram avisados que não deveriam seguir a comitiva sob risco de prisão. Segundo a assessoria de imprensa do Itamaraty, isso seria uma exigência do serviço secreto norte-americano.

Em seu primeiro compromisso na capital americana, Washington, um jantar com formadores de opinião na noite do domingo, Bolsonaro já deu o tom que manteria nos dias seguintes. Disse aos convidados: “Sempre sonhei em libertar o Brasil da ideologia nefasta da esquerda”. Entre os presentes estavam o professor Olavo de Carvalho, guru de uma ala do governo e com forte influência em alguns ministérios, e o ex-conselheiro de Trump na Casa Branca, Steve Bannon. O discurso foi gravado por Eduardo Bolsonaro, sempre de celular em punho e atento aos movimentos do pai que possam repercutir nas redes sociais.

Na agenda desta segunda, o forte conteúdo ideológico voltou aos discursos, sobretudo ao se falar da Venezuela. Bolsonaro foi recebido com entusiasmo por uma plateia de cerca de 200 empresários na Câmara Americana de Comércio, num evento chamado “Brazil Day in Washington”. Em seu pronunciamento de 10 minutos, o presidente disse que Brasil e Estados Unidos precisam trabalhar em conjunto na crise venezuelana.

“Temos que resolver a questão da nossa Venezuela. Aquele povo tem que ser libertado. Contamos com os americanos”, disse Bolsonaro, sem, no entanto, explicar como “resolver a questão”. O porta-voz da Presidência, general Rêgo Barros, falou à imprensa sobre o assunto posteriormente. Questionado sobre a possibilidade de uma intervenção no país vizinho, disse que o caminho deve ser apontado pela diplomacia.

Confira fotos da viagem presidencial aos Estados Unidos: 

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Com Almagro e Trump, Venezuela em pauta
Questionado sobre a Venezuela por um dos empresários presentes ao evento com a comitiva Brasileira, o chanceler Ernesto Araújo disse que Brasil e Estados Unidos têm que “manter a pressão” e ajudar a Venezuela “a reconquistar a democracia”. Nesta terça-feira, o tema voltará à pauta, em reunião entre Bolsonaro e o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luís Almagro, crítico ferrenho do presidente Nicolás Maduro e que já falou em intervenção para resolver a situação do país com quem dividimos mais de 2 mil quilômetros de fronteira.

O tema também deverá constar da conversa entre o brasileiro e o mandatário americano, Donald Trump. Aos empresários nessa segunda, Bolsonaro também destacou a grande admiração que tem pelos Estados Unidos e pelo chefe da nação. Disse que sua eleição rompe uma tradição antiamericana na agenda externa brasileira dos últimos governos.

“Hoje, vocês têm um amigo dos Estados Unidos. O Brasil tem potencial enorme e precisamos de bons parceiros. Temos no mundo todo, mas estou aqui estendendo minha mão para que essa parceria se faça mais presente”, afirmou Bolsonaro. “Também sou admirador de Reagan (Ronald Reagan, ex-presidente dos EUA), que dizia: o povo é que têm que conduzir o Estado e não o contrário”, completou.

Falando de improviso, Bolsonaro destacou, ainda, o programa do ministro da Economia, Paulo Guedes, dizendo que quando o conheceu “foi amor à primeira vista”. E esclareceu: “Economicamente. Não sou homofóbico, não”, declarou, provocando risos da plateia. O presidente disse que espera fechar parcerias “em agricultura, mineralogia e biodiversidade na Amazônia”.

Cinco ministros também antecederam o discurso de Bolsonaro, mas ele só assistiu à palestra do titular da Economia, Paulo Guedes, o qual correspondeu à expectativa da plateia. O ministro explicou o projeto de reforma previdenciária, a proposta de reforma tributária e o programa de privatizações “agressivo” do governo federal.

Segundo Guedes, as mudanças na aposentadoria “não vão deixar ninguém para trás”, mas o sistema “não pode ser uma fábrica de privilégios”. Ele ressaltou que o governo precisa controlar o gasto público e usou uma expressão em inglês bastante forte para demonstrar que o presidente Bolsonaro tem a coragem de fazer as mudanças que, a seu ver, o país precisa:

He is the guy who has balls (É o cara que tem as bolas)

Declaração de Paulo Guedes, sobre Bolsonaro

Reforçando a intenção do governo de tentar mudar a imagem do mandatário brasileiro no exterior, Guedes repetiu várias vezes que o presidente representa uma mudança política e econômica, resultado de uma aliança entre pessoas conservadoras em valores e liberais na economia. “Bolsonaro é como Trump aqui. Ele fala diretamente ao povo por meio das mídias sociais. Sua eleição mostra uma democracia vibrante no Brasil, bem diferente do que vocês devem ler na mídia convencional. A democracia não está em perigo no Brasil. Bolsonaro tem 30 anos de experiência no Congresso”, destacou o ministro.

Hora da verdade
Paulo Guedes também criticou Venezuela e Cuba, e a ajuda que governos do PT deram a esses países, e fez em público um pedido que a diplomacia brasileira vem articulando nos bastidores, que é a concordância dos Estados Unidos com a a entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O ministro reforçou: “Eu e o presidente amamos a América. Agora, é a hora da verdade, para vocês e para nós. Estamos aqui para abrir nossos mercados.”

No mesmo evento da Câmara Americana de Comércio, Brasil e Estados Unidos assinaram um acordo para o uso comercial da base de Alcântara, no Maranhão, o chamado Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST). Pelo compromisso firmado, mas que depende de aprovação no Congresso dos dois países, os norte-americanos poderão lançar foguetes a partir da base brasileira, com controle de acesso à área feito pelos dois países.

Tudo que aconteceu até agora na viagem, assim, não passou de aquecimento para o momento no qual Bolsonaro e Trump estarão frente a frente, nesta terça, na Casa Branca, onde ocorrerá almoço, agenda de trabalho conjunta e entrevista para imprensas brasileira e norte-americana. Há grande expectativa na comitiva tanto em torno da possível anuência de Trump com a entrada do Brasil na OCDE quanto de algum anúncio do Brasil como aliado extra-OTAN.

Trump e Bolsonaro terão um encontro reservado com a presença prevista apenas de seus tradutores. Todo o esforço da diplomacia brasileira é para que o governo Bolsonaro seja visto pelos norte-americanos como seu maior aliado na América do Sul. Qual será a consequência prática disso e quais benefícios o Brasil pode obter se alcançar esse status? São questões ainda não muito claras, mas que começarão a ser delineadas a partir do encontro na Casa Branca. Seja como for, a afinidade ideológica parece evidente entre os dois gigantes das Américas, em termos de extensão territorial e população.

Depois da Casa Branca, Bolsonaro irá ao Cemitério Nacional de Arlington, onde estão enterrados militares que participaram de todas as guerras travadas pelos Estados Unidos. O presidente ainda receberá um grupo de lideranças religiosas antes de retornar ao Brasil, na noite desta terça-feira. Jair Bolsonaro tem mais duas viagens internacionais previstas para os próximos dias. Em 21 de março, ele embarca para o Chile. E dias depois de regressar dessa viagem, viajará para Israel.

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