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Brasileiro estreia no cinema britânico com versão feminista de Guinevere

Carlos Henrique Marques tem três roteiros premiados em fase de pré-produção na Inglaterra e nos Estados Unidos

atualizado

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Versão feminista de Guinevere
1 de 1 Versão feminista de Guinevere - Foto: Getty Images

Nas histórias da Távola Redonda que a maioria conhece, Guinevere costuma ser lembrada quase exclusivamente pelo caso escandaloso que arruína seu casamento e acaba destruindo o reinado de Arthur. Raramente, a personagem é descrita com o fascínio dispensado a uma heroína — “injustiça” que o cineasta brasileiro Carlos Henrique Marques está decidido a corrigir.

Fã da mitologia arturiana desde criança, o paulista é o primeiro brasileiro a fazer uma releitura da lendária rainha de Avalon, que acredita ser um dos personagens menos compreendidos do conto, e transformá-la em filme.

Em sua revigorante versão feminista, Guinevere é uma cantora de rock inglesa alcóolatra, urbana, que terá de encontrar a sua verdadeira identidade e fortaleza para evitar que o mundo seja destruído pelo clássico vilão, Mordred. Com a ajuda, claro, de uma viagem pelo tempo e da espada de Excalibur.

“Agora é uma mulher que vai salvar o reino”, conta o Carlos em entrevista ao Metrópoles. “Quero apresentar uma heroína em uma história, um tempo, em que só os homens podiam ser heróis. Quando, na verdade, sabemos que toda mulher carrega uma fortaleza dentro de si. Umas encontram esse potencial mais rápido, outras demoram mais”, explica.

Ainda em processo de pré-produção, a obra já recebeu o prêmio de Melhor Roteiro no Los Angeles Television Script and Film Festival.

A intenção é fazer uma trilogia, cuja produção está sendo negociada com a London Film School, escola de cinema mais antiga do Reino Unido, e a Ealing Studios, produtora de tevê e filmes, responsável por longas como A Teoria de Tudo, O Jogo da Imitação e a série Downtown Abbey. “Por causa da pandemia, as coisas ainda estão paradas na Inglaterra, onde vamos produzir e rodar. Mas a ideia é que o filme seja lançado já no início de 2022”, revela o roteirista.

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Enquanto isso, a equipe de pré-produção sonda alguns veteranos do cinema mundial para o elenco. Entre os favoritos para viver Guinevere, Morgana e Sir Lancelot, estão, respectivamente, Lydia Wilson, de Star Trek (2016), Jenna Coleman, que atuou como Clara no Doctor Who, da BBC, e Matt Smith, seu colega de elenco na mesma série. “A embaixada britânica no Brasil tem me ajudado em buscas de parceiros no Reino Unido”, conta.

Além de levar sua perspectiva brasileira de Guinevere aos telões do mundo todo, o roteirista espera despertar a nostalgia dos fãs da Tavola Redonda, trazendo elementos atuais e defendendo sua visão de que o cinema precisa ser um espaço mais igualitário.  “Precisamos de mais mulheres dirigindo, roteirizando, sendo protagonistas, mostrando que não se encaixam em estereótipos”.

Do Brasil para os cinemas do mundo

Com mais de 15 anos no mercado audiovisual, Carlos Henrique classifica a entrada no cinema americano e inglês como o momento muito importante na sua carreira. “Fazer este roteiro me deixou muito feliz. Essa releitura sobre Guinevere e o mundo de Avalon, com essa perspectiva mais realista vai prender o público e ressaltar ainda mais a força feminina”, garante.

Atualmente trabalhando em uma grande emissora de tevê, o paulista, de 47 anos, decidiu escrever os primeiros textos mirando no cinema internacional em 2014, quando viajou para os Estados Unidos para conhecer os maiores estúdios do país. “Tive certeza de que era nisso que eu queria trabalhar”, lembra.

Menos de sete anos depois da experiência decisiva, ele espera emplacar três promissores longas em território gringo, de uma vez só.

Além de Guinevere: A Rainha de Avalon, Carlos tem outros dois roteiros  em fase de pré-produção. Como Rosa, a Lutadora, premiado no Cannes Screenplay Festival, na categoria Drama.

“Retrata a história de uma ex-policial americana de país latino, que além de sofrer racismo, é vítima de inúmeras armações provocadas por seu superior na polícia, que a faz perder a guarda da fila. Tomada pelo desespero, Rosa tenta o suicídio”, resume Carlos.

Ele ainda é autor de Henry, vencedor do prêmio Roteiro Revelação de longa metragem no UK Film Festival, no Reino Unido.

Embora os filmes tenham diferentes abordagens e sejam obras de ficção, o roteirista acredita que a relevância dos assuntos é o que têm chamado atenção da crítica internacional.

“Rosa lida com a discriminação por ser filha de imigrantes, Henry, por ser portador de uma doença psiquiátrica muitas vezes negada e discriminada pela sociedade, enfrenta diversos desafios para encontrar forças para se adaptar a nova realidade e mudar seu estilo de vida; e Guinevere, que apesar de ser uma história com um tema de aventura fantástica, lutará para encontrar seu propósito e lugar no mundo como mulher”, argumenta.

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