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PCC e Comando Vermelho estão presentes em seis cidades do DF

Uma outra quadrilha, essa nascida no DF, também tem deixado as autoridades de segurança em alerta por sua atuação organizada e violenta

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Duas das maiores facções criminosas do país estão em pleno processo de expansão na capital do país. De acordo com a Polícia Civil, integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Comando Vermelho (CV) concentram-se em seis regiões administrativas (veja no mapa mais abaixo). Além dos bandidos que promovem ações violentas nas ruas, os investigadores monitoram pelo menos 310 presos custodiados no Complexo Penitenciário da Papuda.

As duas quadrilhas têm atuação transnacional: atuam no comércio de armas, tráfico de drogas e são apontadas como responsáveis por centenas de homicídios. Além do PCC e do CV, há um outro bando que desperta a atenção da inteligência policial candanga: nascido no Distrito Federal, o Comboio do Cão (CDC) cresceu de forma isolada e, aparentemente, não tem vínculo com outras organizações.

Fora as três facções presentes em território brasiliense, prisões realizadas neste mês de junho deixaram em estado de alerta a direção da PCDF. Pela primeira vez, a corporação prendeu, no DF, marginais que dizem pertencer à Família Do Norte (FDN). A operação ocorreu no dia 18. Segundo a 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho), o bando é suspeito de traficar entorpecentes, comprar e vender armas clandestinamente, além de realizar furtos de celulares em grandes eventos.

De acordo com o delegado-chefe da 13ª DP, Hudson Maldonado, o braço da FDN no DF tinham como marca executar ações extremamente violentas. “Ao longo das apurações, flagramos o acordo firmado entre integrantes da quadrilha para matar desafetos. Além disso, confirmamos a vinda de faccionados da FDN para o DF com intuito de criar uma célula criminosa”, disse.

No mesmo dia, a Polícia Militar de Goiás flagrou dois homens transportando 1,8 mil munições de uso restrito na DF-290. A interceptação foi feita no balão do Novo Gama (GO), no Entorno do DF.

Segundo investigações da Polícia Civil do DF, a carga pertencia ao Comando Vermelho, considerado o maior grupo organizado do Rio de Janeiro e com ramificações em várias unidades da Federação. O caso está sob responsabilidade da Coordenação Especial de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado, aos Crimes Contra a Administração Pública e aos Crimes Contra a Ordem Tributária (Cecor).

 

Plano de expansão

Segundo o delegado-chefe da Cecor, Leonardo de Castro, em uma tentativa de fortalecer o PCC no DF, os faccionados têm, por hábito, assediar criminosos locais apresentando supostos “benefícios”, como o auxílio de advogados e acesso mais barato a entorpecentes, além da isenção da mensalidade conhecida como “cebola”.

“Temos operações constantes para impedir a expansão e desarticular essas células criminosas. Eles [PCC] sempre tentaram se estabelecer na capital, mas, hoje, existem mais criminosos presos no DF do que nas ruas”, explicou.

Marcada por cometimento de roubos e homicídios, a brasiliense Comboio do Cão busca se cacifar perante as demais facções. “Notamos um aumento nos crimes cometidos por eles nos últimos anos. Trata-se de um grupo que se juntou com o objetivo de se fortalecer e ganhar o respeito dos rivais”, explicou Castro.

O diretor da Divisão de Repressão a Facções Criminosas (Difac) – unidade especializada que pertence à Cecor –, Maurílio Coelho, acrescentou que o CDC procura reproduzir práticas adotadas pelas grandes e conhecidas facões criminosas do país, como o PCC.

“Existe uma tentativa de implementar métodos de disciplina e códigos de conduta. Um exemplo é o ‘tribunal do crime’, que consiste no julgamento de integrantes que descumpriram as regras impostas pelas lideranças”, destacou.

Facções no mapa

As investigações da PCDF permitiram identificar os locais com maior concentração de faccionados. Segundo os policiais ouvidos pela reportagem, o PCC é a que tem mais representatividade, apesar de ainda não ter se articulado de forma efetiva.

O Comando Vermelho é baseado, principalmente, nos presídios do Entorno do DF, mas há registros de faccionados na Estrutural. Já o CDC nasceu no Recanto das Emas e no Riacho Fundo. Porém, nos últimos anos, expandiu seus tentáculos para Santa Maria e Gama.

Alto escalão do crime

Nos últimos meses, Brasília recebeu lideranças do Primeiro Comando da Capital, do Comando Vermelho e da Família do Norte. Todos são considerados detentos de altíssima periculosidade e estão confinados na Penitenciária Federal de Brasília.

O presídio de segurança máxima abriga, desde março, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC. O irmão dele Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, o Marcolinha, chegou ao DF um mês antes e também está na penitenciária. Os dois somam-se a outras quatro lideranças da facção no complexo.

A última transferência ocorreu na segunda-feira (24/06/2019), quando 30 criminosos do CV chegaram a Brasília. Do total, 10 permaneceram na capital federal. Suspeitos de organizar uma fuga em massa, eles estavam em presídios do Pará, mas, a pedido do governo do estado, acabaram transferidos para unidades federais.

Críticas de Ibaneis

A presença deles no DF tem sido alvo de duras críticas feitas pelo Executivo local. O governador Ibaneis Rocha (MDB) chegou a declarar que recebeu informações sobre compra de casas, terrenos e, até mesmo, da negociação de postos de combustíveis capitaneada por integrantes de facções criminosas. Ele qualifica a presença de Marcola no DF como algo “inadmissível”.

Nessa sexta-feira (28/06/2019), o governador em exercício, Paco Britto (Avante), endossou o discurso de Ibaneis e falou das recentes transferências. “O DF está em alerta. É muito preocupante essa movimentação feita pela área federal, principalmente por que Brasília fica exposta. É a capital da República, onde todos os poderes estão sediados, além das representações diplomáticas que mantêm relações com o país”, disse.

“As transferências preocupam e o governador Ibaneis determinou que as forças de segurança intensifiquem as investigações e operações. A PCDF e a PMDF estão fazendo um trabalho qualificado e extremamente importante neste momento”, completou Paco.

O subsecretário do Sistema Penitenciário do DF (Sesipe), delegado Adval Cardoso, afirma que Marcola é considerado um “ídolo” para muitos criminosos. Ele acredita que a custódia do líder do PCC no DF reflete no aumento de faccionados.

“Os familiares dos presos são assediados. Dizem que o 01 está aqui. Criminosos oferecem batismo dentro dos presídios e buscam maneiras de se comunicar, de emitir ordem para os comparsas que estão nas ruas. Só no mês passado tivemos quatro registros de tentativa de entrada de celular na Papuda. Os internos colocam os próprios parentes para tentar entrar com os aparelhos e as drogas”, declarou.

Cardoso explica que os presos com envolvimento em facções representam um perigo para o sistema. Eles ficam separados dos demais e são monitorados por agentes de inteligência do presídio. “Já tivemos registros de tentativas de planejamento de crimes dentro do sistema. Sempre antecipamos as informações e, com isso, conseguimos adotar medidas de prevenção, como a suspensão de visitas.”

Para maior efetividade no combate às facções, a Sesipe conta com o apoio da Polícia Civil. “Essa parceria é extremamente importante. Temos um contato permanente com o sistema penitenciário e trabalhamos em conjunto. Nas operações, também contamos com a colaboração da Polícia Civil de outros estados”, destacou o delegado Maurílio Coelho.

Segurança máxima

Em entrevista ao Metrópoles, o diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Fabiano Bordignon, refutou as críticas feitas pelas autoridades do governo e afirmou que os presídios federais são uma das soluções para diminuir o poder das organizações criminosas.

Delegado da Polícia Federal, Bordignon ressalta que os presídios federais existem desde 2006 e que não houve impacto no aumento da criminalidade nas cidades em que são instalados. Segundo ele, as regiões onde os complexos foram construídos registraram redução no número de homicídios.

“Eu tenho certeza que já existiam organizações criminosas no DF antes de outubro do ano passado, quando a penitenciária federal foi inaugurada. Brasília tem as melhores polícias do país. Aqui tem as sedes das polícias Rodoviária e Federal. Também conta com a PCDF, que é considerada a melhor do país. O nível de segurança em Brasília, se comparado a outras unidades da Federação, é maior”, disse.

“Não podemos responsabilizar os presos do sistema federal por qualquer crime que ocorra no DF. O PCC já existia em Brasília antes da transferência do Marcola, por exemplo”, pontuou o delegado. A construção de presídios federais é um investimento estratégico, principalmente no combate ao crime organizado, segundo Bordignon. “As visitas são feitas por meio de parlatório [sistema com interfone, em que preso e visitante ficam separados por vidros]. Todas as conversas são gravadas e analisadas. Isso reduziu a zero as tentativas de entrada de celulares no presídio”, contou.

Ainda de acordo com o Depen, as transferências dos presos são feitas de forma planejada. No fim do ano passado, dois internos que cumpriam pena na Papuda foram transferidos para a Penitenciária Federal de Mossoró. Eles são acusados de ameaçar uma juíza do DF de morte. “O objetivo é enfraquecer essas lideranças e deixá-las longe de suas bases. Esses presos do DF jamais serão trazidos para cá”, frisou.

Outro ponto preocupante, de acordo com o delegado federal, é a aproximação de habitações no perímetro das unidades prisionais. “Aquela região da Fazenda da Papuda era para ser destinada às unidades prisionais, mas cada vez mais têm empreendimentos no local. Esse é um dos pontos que o governo local precisa se atentar, por que a Papuda não vai sair dali, a penitenciária federal também não. A cidade é que precisa ter cuidado para não se aproximar tanto”, destacou.

Estrutura

O Presídio Federal de Brasília foi inaugurado em outubro de 2018. Os três primeiros detentos a ocuparem a penitenciária integram o PCC. O trio estava encarcerado em uma cadeia federal na cidade de Porto Velho, em Rondônia.

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Na unidade prisional, que fica no Complexo Penitenciário da Papuda, há circuito de câmeras com transmissões em tempo real, além de sensores de movimento e alarmes. Segundo o Depen, o sistema conta com equipamentos capazes de identificar drogas e explosivos nas roupas dos visitantes, detectores de metais e sensores de presença, entre outras tecnologias.

Cada preso fica em uma cela individual de 6 m² e tem direito a duas horas de banho de sol por dia. Advogados e amigos podem visitar os detentos no parlatório – os familiares têm acesso ao pátio. São proibidos televisores, rádios e qualquer outro tipo de comunicação externa.

Tais unidades cumprem determinações da Lei de Execução Penal (LEP) e começaram a ser construídas em 2006. Elas recebem detentos, condenados ou provisórios de alta periculosidade. O isolamento individual é destinado a líderes de organizações criminosas, presos com histórico de delitos violentos, responsáveis por fugas e rebeliões, réus colaboradores e delatores premiados.

Além da Penitenciária Federal de Brasília, existem outras quatro de segurança máxima no país: Catanduvas (PR), Mossoró (RN), Campo Grande (MS) e Porto Velho (RO).

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