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Playboy golpista que deixou rastro de fraude no DF também atacou em SP

Marlon Gonzalez Motta, 23 anos, enganou investidores na capital paulista e faturou R$ 440 mil em uma falsa transação envolvendo bitcoins

atualizado

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1 de 1 - Foto: Reprodução

O rastro de golpes milionários deixado pelo estelionatário Marlon Gonzalez, 23 anos, não se restringiu apenas ao Distrito Federal. As falcatruas investigadas em cinco inquéritos instaurados pela Polícia Civil envolvendo estelionato, associação criminosa, denunciação caluniosa, falsa comunicação de crime e adulteração de seguro também foram praticadas em São Paulo.

Um investidor paulista caiu na lábia do jovem e perdeu R$ 440 mil em uma transação envolvendo bitcoins, uma moeda digital. O caso está sob investigação na Polícia Civil do estado.

A vítima, o empresário Neheru Sant Anna de Oliveira, 50 anos, conheceu Marlon em julho deste ano, por intermédio de outros operadores que desejavam apostar no dinheiro virtual. As conversas teriam durado cerca de um mês, eram marcadas e, depois, sempre remarcadas. “Falei com diversas pessoas ligadas ao Marlon, que não sei se usavam nomes falsos. Falei com homens que se identificaram como João e Guilherme, por exemplo, e ambos sempre mantinham contato com o Marlon por telefone”, explicou.

Sant Anna explicou que após muito tempo de conversa, foi marcada uma reunião em uma cafeteria de São Paulo para que, enfim, a transação se concretizasse. O empresário encontrou-se com prepostos enviados por Marlon a fim de participar do processo de transferência do dinheiro, cerca de R$ 440 mil. Em troca, Gonzalez deveria transferir bitcoins para a carteira do comprador.

“Ele usou uma série de técnicas para cometer esse golpe. A primeira delas foi se manter à distância e deixar transparecer que o negócio seria lícito. Em seguida, usou contas bancárias em nome de laranjas para receber o dinheiro e depois transferi-lo da forma mais rápida possível”, contou a vítima.

No momento em que o dinheiro do empresário caiu nas contas, ele cobrou a transferência das moedas digitais. No entanto, Marlon utilizou a mesma desculpa quando aplicou o golpe em investidores chineses, que resultou prejuízo estimado em R$ 600 mil.

“Ele falou que o dinheiro não havia sido compensado e não poderia repassar as bitcoins. Ele me enrolou por dois dias até eu não ter mais condições de reverter a transferência bancária. O dinheiro já havia desaparecido. Depois disso, o emissário dele fugiu durante a madrugada após deixar o hotel onde estava hospedado. Cheguei a ir atrás dele, mas o check-out já havia sido feito”, disse.

Os golpes

As delitos cometidos por Marlon foram revelados em três reportagens publicadas pelo Metrópoles nos dias 25, 26 e 31 de agosto. O estelionatário viaja o mundo em jatos particulares, hospeda-se em hotéis luxuosos e chegou a gastar R$ 100 mil em uma balada. No entanto, por trás da ostentação está um rastro de golpes que ultrapassa a casa dos R$ 3 milhões, segundo apuração da polícia.

Fingindo ser um megainvestidor, Marlon usa a lábia para convencer operadores financeiros a pagarem fortunas em transações envolvendo moedas virtuais. Ele entrou no radar da 17ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Norte) quando um amigo do falsário começou a ser investigado por usar a identidade funcional de outra pessoa. Entre os documentos apreendidos com o suspeito, os policiais encontraram papéis com o timbre da empresa M3 Private, de propriedade de Marlon.

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A fim de tentar passar uma impressão de investidor bem-sucedido, o falsário usa as redes sociais para simular uma vida de sucesso, com carros esportivos de luxo e viagens a locais paradisíacos. Contudo, depois de aplicar cada golpe, ele desativa os perfis e viaja para países na Europa, Caribe e Ásia.

 

Os brasilienses que caíram na armadilha de Marlon passaram a monitorar os passos do jovem e descobriram que, no início de agosto, foi a vez de investidores paulistas serem enganados. Eles esperavam comprar grandes quantidades de bitcoins – uma das modalidades de moeda digital –, mas amargaram prejuízos que chegariam a R$ 880 mil.

Marlon teria usado o mesmo modus operandi utilizado para lesar investidores chineses e brasileiros que perderam R$ 600 mil em uma transação feita em Hong Kong: o jovem simulava a transferência das moedas digitais após a fortuna entrar em contas de laranjas.

Festas e iate

Após conseguir lesar os paulistas no início do mês, em 15 de agosto, Marlon contratou 14 modelos brasilienses e cariocas, pagando cachês de R$ 2 mil mais passagens aéreas e hospedagem. Ao todo, 15 quartos foram reservados no Hotel Windsor Leme, na Avenida Atlântica, Zona Sul do Rio de Janeiro.

Cada diária no hotel de luxo da capital fluminense custa cerca de R$ 500 mais taxas. À noite, o estelionatário bancou uma noitada em um camarote na boate All Win, na Barra da Tijuca, com comida e bebida liberados para as garotas.

Na manhã seguinte, com uma equipe de filmagem e maquiadora contratadas por Marlon, todos embarcaram em um iate de 100 pés alugado por R$ 38 mil. “Nesse valor não estão inclusos os serviços de marinheiro e combustível. Para isso, é preciso pagar mais R$ 15 mil, totalizando R$ 53 mil”, contou uma funcionária da locadora de barcos em que o golpista contratou o serviço.

A mulher comentou, sem saber que estava falando com uma das vítimas do fraudador, que o valor foi pago à vista, em dinheiro vivo. Além de todo o aparato e equipamentos alugados, Marlon ainda teria contratado um grupo de seguranças armados que acompanharam as modelos durante os dias de filmagem.

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Gonzalez Group

Todas as modelos que participaram da sessão de fotos e filmagens a bordo do luxuoso iate trajavam maiôs pretos com o logotipo “Marlon Gonzalez Group”, espécie de empresa supostamente criada pelo estelionatário para oferecer serviços especializados em tecnologia e operação no mercado financeiro e de moedas digitais.

Em suas redes sociais, Marlon chegou a publicar a imagem do que seria um aparelho de telefone celular desenvolvido por ele, que custaria R$ 20 mil.

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Monitoramento

As redes sociais de Gonzalez permanecem monitoradas tanto pelas vítimas quanto por investigadores da 17ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Norte). O golpista responde a cinco inquéritos na Polícia Civil do Distrito Federa por crimes como estelionato, associação criminosa, denunciação caluniosa, falsa comunicação de crime e fraude a seguro.

Ele entrou no radar da Polícia Civil quando um falso advogado começou a ser investigado por usar a identidade funcional de outra pessoa. Entre os documentos apreendidos com o suspeito, os policiais encontraram papéis com o timbre da empresa M3 Private, de propriedade de Marlon.

A partir daí, os investigadores descobriram um esquema montado para cooptar as vítimas. A fim de tentar passar uma impressão de investidor bem-sucedido, o falsário usa as redes sociais para simular uma vida de sucesso, com carros esportivos de luxo e viagens a locais paradisíacos. Contudo, depois de aplicar cada golpe, ele desativa os perfis e viaja para países na Europa, Caribe e Ásia.

O primeiro golpe que Marlon aplicou e que a polícia começou a apurar ocorreu em abril e teve como alvo uma operadora chinesa que trabalha com a compra e venda de moedas digitais. Baseada em Hong Kong, a DSUNDC Limited amargou um prejuízo de R$ 600 mil.

Um dos sócios da empresa é o investidor Alexandre Dantas, brasileiro radicado há anos nos Estados Unidos. Dantas conheceu Marlon por meio de um amigo em comum que mora no DF, e ambos demonstraram interesse em fazer negócios nos quais Marlon prometia vender uma grande quantidade de bitcoins.

O golpista armou um esquema com comparsas, abriu contas bancárias de fachada em nome de empresas chinesas e conseguiu concluir uma transação na qual Dantas e seus sócios transferiram US$ 150 mil para uma das contas.

Em seguida, o dinheiro percorreu caminhos desconhecidos, e Marlon não atendeu mais as ligações. Para simular legalidade na transação, o estelionatário chegou a enviar um representante para Hong Kong com a missão de concluir pessoalmente a operação.

Logo após os chineses transferirem o dinheiro, Marlon avisou por WhatsApp que o valor não havia entrado na conta, e jamais repassou as moedas digitas. O representante do golpista chegou a ser preso no país asiático e foi liberado após a polícia local descobrir que ele também havia sido enganado e não fazia ideia de que Marlon planejara aplicar o golpe.

Sempre após enganar as vítimas, o falso investidor desativa as redes sociais e viaja para países na Europa, Caribe ou Ásia, onde passa temporadas torrando os valores que são fruto das fraudes.

A reportagem entrou em contato com o delegado Sergio Bautzer, que investiga o caso. Sem entrar em detalhes, Bautzer explicou que, de fato, existem cinco inquéritos que apuram os crimes, mas todos foram remetidos à Justiça e aguardam parecer do Ministério Público. “Fizemos toda a apuração, ouvimos vítimas e colhemos provas. Depois disso relatamos os IPs”, resumiu.

O outro lado

Procurado pela reportagem, Marlon Gonzalez afirmou que seus advogados preparariam uma resposta sobre as acusações feitas pelas vítimas e as informações que fazem parte dos cinco inquéritos conduzidos pela Polícia Civil do DF. Até a última atualização deste texto, o documento não havia sido enviado. Assim que chegar, a resposta será acrescentada nesta matéria.

 

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