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Com rotina de magnata, estelionatário deixa rastro de golpes no DF

Marlon Gonzalez Motta viaja o mundo em jatos particulares, hospeda-se em hotéis de luxo e chega a gastar R$ 100 mil em uma balada

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1 de 1 - Foto: Reprodução

Com rotina digna de um grande milionário, o brasiliense Marlon Gonzalez Motta, 23 anos, viaja o mundo em jatos particulares, hospeda-se em hotéis luxuosos e chega a gastar R$ 100 mil em uma balada. No entanto, por trás da ostentação está um rastro de golpes que ultrapassa a casa dos R$ 3 milhões. Fingindo ser megainvestidor, o estelionatário usa a lábia para convencer operadores financeiros a pagarem fortunas em transações envolvendo moedas virtuais.

O golpista responde a cinco inquéritos na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), por crimes como estelionato, associação criminosa, denunciação caluniosa, falsa comunicação de crime e fraude a seguro. Ele entrou no radar da 17ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Norte) quando um amigo do falsário começou a ser investigado por usar a identidade funcional de outra pessoa. Entre os documentos apreendidos com o suspeito, os policiais encontraram papéis com o timbre da empresa M3 Private, de propriedade de Marlon.

A partir daí, os investigadores descobriram um esquema montado para cooptar as vítimas. A fim de tentar passar uma impressão de investidor bem-sucedido, o falsário usa as redes sociais para simular uma vida de sucesso, com carros esportivos de luxo e viagens a locais paradisíacos. Contudo, depois de aplicar cada golpe, ele desativa os perfis e viaja para países na Europa, Caribe e Ásia.

De acordo com as investigações, o primeiro desfalque ocorreu em abril e teve como alvo a chinesa Dsundc Limited, que atua na compra e venda de moedas digitais. Baseada em Hong Kong, ela amargou um prejuízo de R$ 600 mil. Um dos sócios da empresa é Alexandre Dantas, brasileiro radicado nos Estados Unidos que conheceu Marlon por meio de um amigo em comum morador do Distrito Federal.

Os dois fecharam um negócio no qual o brasiliense prometeu vender uma grande quantidade de bitcoins. No entanto, segundo Dantas, o autor armou um esquema com comparsas e abriu contas bancárias de fachada em nome de empresas chinesas. Para simular legalidade, chegou a enviar um representante a Hong Kong com a missão de concluir pessoalmente a transação.

Como parte do acordo, a Dsundc transferiu US$ 150 mil. Depois disso, ainda conforme o relato da vítima, Marlon enviou uma mensagem por WhatsApp dizendo que o dinheiro não havia entrado na conta dele. A partir daí, parou de atender as ligações e não repassou as moedas digitas. O representante chegou a ser preso no país asiático, mas foi liberado após a polícia local descobrir que ele também havia sido enganado e não fazia ideia do golpe.

Desmascarado

Ainda em abril, de acordo com a PCDF, Marlon foi reconhecido por credores e tentou negociar valores decorrentes de outros golpes. Ele chegou a assinar uma confissão de dívida e entregou as chaves de uma Mercedes avaliada em R$ 200 mil, além de um jet ski e um cheque nominal no valor de R$ 40 milhões. Tudo foi levado à 17ª DP e apreendido pelos policiais.

Após entregar o veículo, o estelionatário acionou a seguradora e conseguiu receber a quantia de R$ 214 mil. Ainda segundo a Polícia Civil, Marlon também teria aplicado um golpe na concessionária em que adquiriu a Mercedes. Ele fez negócio envolvendo um outro automóvel, o qual estava com uma série de restrições, apreendido no depósito do Departamento de Trânsito (Detran). O lojista ficou com um prejuízo de R$ 10 mil, uma vez que pagou os débitos pensando poder revender o carro.

Os investigadores também identificaram que o cheque de R$ 40 milhões era falso. Acuado após ser desmascarado, Marlon deixou o Brasil e viajou para a Suíça, onde se hospedou em um dos hotéis mais sofisticados do país. Vídeos e fotos publicadas em seu perfil nas redes sociais mostram o brasiliense desfrutando do lugar.

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Onda de golpes

Ao Metrópoles, Alexandre Dantas afirmou que começou a investigar o brasiliense por conta própria. Ele disse ter encontrado uma série de pessoas enganadas por Marlon Gonzalez, boa parte delas seriam amigos próximos que lhe repassaram grandes quantias com a promessa de alta rentabilidade.

Segundo o investidor, a procura por novas vítimas provocou um efeito cascata. “Além do nosso prejuízo, entramos em contato com várias pessoas no DF que perderam R$ 50 mil, R$ 100 mil e R$ 150 mil. O Marlon usava a proximidade com elas para convencê-las a investir”, disse.

As investigações mostram que o golpista utiliza dois modi operandi. O primeiro deles é a venda de uma espécie de robô, um software que analisa a bolsa de valores e escolhe o momento exato de investir ou vender ações. No entanto, o programa não funcionaria da forma prometida. Quem investiu no suposto sistema de inteligência artificial ficou no prejuízo.

Mercado financeiro

O segundo modo utilizado pelo estelionatário era transparecer ser um operador de sucesso no universo das moedas digitais. Ele captava investidores em festas frequentadas por jovens de alto poder aquisitivo que estão começando a atuar no mercado financeiro.

Duas vítimas revelaram ter perdido R$ 100 mil em uma transação de bitcoins que jamais ocorreu. “Marlon é uma espécie de sociopata, que acredita nas próprias mentiras e não mede esforços para passar por cima de qualquer pessoa, contanto que lucre com isso. Eu costumava andar e ir a festas com ele, que gastava R$ 100 mil na balada”, afirmou um rapaz que preferiu não se identificar.

De acordo com ele, o golpista comprava camarotes e convidava amigos e mulheres. Em um ambiente preparado para seduzir as vítimas, oferecia a possibilidade de negócios com retorno de até 7% do valor investido. “Marlon oferecia passagens e hospedagens nos resorts mais caros do país e, de fato, comprava os bilhetes. Ainda andava com milhares de reais espalhados na mala do carro. Cansei de ver ele pegar bolos de dinheiro, socar no bolso e ir para as festas”, contou.

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A reportagem entrou em contato com o delegado Sergio Bautzer, que investiga o caso. Sem entrar em detalhes, o policial explicou que, de fato, existem cinco inquéritos que apuram os crimes, mas todos já foram remetidos à Justiça e aguardam parecer do Ministério Público. “Fizemos toda a apuração, ouvimos vítimas e colhemos provas”, resumiu.

O Outro lado

Procurado pela reportagem, Marlon Gonzalez afirmou que seus advogados preparariam uma resposta sobre as acusações feitas pelas vítimas e as informações que fazem parte dos cinco inquéritos conduzidos pela Polícia Civil do DF. Até a última atualização deste texto, o documento não havia sido enviado. Assim que chegar, a resposta será acrescentada na matéria.

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