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Polícia vai a presídio ouvir pais de crianças torturadas por tios

O delegado responsável pelo caso informou ao Metrópoles que os agentes pretendem ir, ainda nesta sexta-feira (31/05/2019), às duas penitenciárias para realizar as oitivas dos tutores. Uma menina de 6 anos morreu ao ser espancada

atualizado

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Andre Borges/Esp. Metrópoles
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1 de 1 Planaltina4 - Foto: Andre Borges/Esp. Metrópoles

Os pais de Sabrina de Jesus Cabral, 6 anos, morta após ser torturada com um pedaço de ferro, e das outras três crianças agredidas pelos tios em Planaltina de Goiás (GO) serão ouvidos pela Polícia Civil de Goiás (PCGO), nesta sexta-feira (31/05/2019). De acordo com o delegado responsável pelo caso, coordenador do Grupo de Investigações de Homicídios (GIH) do município goiano, Antônio Humberto Costa, os agentes pretendem ir aos dois presídios para realizar as oitivas dos tutores dos quatro irmãos.

“Também vamos ouvir todos os vizinhos e oficiar o caso aos conselhos tutelares e [tomar] demais providências. Acreditamos que esse caso terá desdobramentos. A Polícia Civil está empenhada e cumprirá o seu papel”, esclareceu Humberto Costa. Os pais das quatro crianças, Silvoney de Jesus dos Santos e Daniela de Jesus Cabral, foram presos por tráfico de drogas pela 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho) em fevereiro deste ano e, desde então, cumprem penas no regime fechado em presídios do Distrito Federal. Por causa da situação, os tios – Bruno Deocleciano da Silva, 19 anos, e uma menor de 17 – passaram a cuidar dos menores de idade.

Caso bárbaro

Sabrina de Jesus Cabral, de 6 anos, foi espancada antes de falecer. Após apanhar, a menina teria sido deixada ao relento. O irmão, de 8, relatou que ela foi castigada com um vergalhão de ferro e um pedaço de madeira. Além de Sabrina, os tios maltratavam e agrediam outras três crianças: um menino de 8 anos, uma menina de 4 e outra, de 1. Elas apresentavam sinais de violência que, segundo o delegado do caso, indicam prática de tortura.

O episódio trágico ocorreu no Setor Aeroporto, em Planaltina de Goiás, cidade no Entorno do Distrito Federal, a 65 quilômetros de Brasília. O maior de idade foi indiciado por tortura e homicídio qualificado. Já a adolescente, de 17 anos, responderá por ato infracional análogo aos delitos cometidos pelo namorado.

“Através da coloração das lesões, é possível ter uma ideia de quando elas foram praticadas. Isso é uma característica de tortura”, apontou Antônio Humberto. “Nós, que estamos acostumados a trabalhar com violência, achamos esse caso particularmente chocante. Uma violência absurda. Um fato animalesco. Uma selvageria sem precedentes”, completou.

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Antônio Humberto Costa, delegado do Grupo de Investigações de Homicídios (GIH) de Planaltina de Goiás

 

Um vizinho que chegou ao local na tentativa de socorrer Sabrina expôs que a menina tinha espuma branca na boca e reclamava de dores no peito.

Tortura

O delegado garantiu que os agressores não demonstraram arrependimento no momento do depoimento. De acordo com a tia, Sabrina tentou se esconder debaixo da mesa e, mesmo assim, foi agredida com chutes na cabeça.

Outra menina, de 4 anos, estava internada no Hospital Santa Rita de Cássia, mas foi transferida nessa quinta (30/05/2019) para o Hospital Regional de Planaltina (HRP). Ela apresenta lesões antigas, como marcas de ferro de passar roupa e duas fraturas no braço. Os conselheiros tutelares contaram que as crianças comeram de forma desesperada ao chegar ao centro de saúde.

As outras duas vítimas foram encaminhadas para um abrigo no município do Entorno após receberem alta médica. Segundo o vice-presidente do Conselho Tutelar, Antônio Freire, o corpo de Sabrina já foi liberado do Instituto de Medicina Legal (IML), mas ainda não há confirmação sobre o velório e sepultamento.

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Agressões constantes

De acordo com vizinhos e policiais ouvidos pela reportagem do Metrópoles, os atos de violência contra as crianças eram recorrentes. O pedreiro Antônio Jares, 33 anos, contou que o último episódio presenciado por ele ocorreu na noite de terça-feira (28/05/2019).

“Por volta de meia-noite, eu abro a janela e vejo a tia arrastando a menina pelos cabelos aqui na rua. Era um relacionamento conturbado. Escutávamos brigas todos os dias.”

Ainda segundo o vizinho, o casal circulava com as crianças no bairro, a cerca de cinco meses.

“Nós já havíamos denunciado outras vezes. A polícia vinha, eles não abriam a porta, e as autoridades iam embora. Ouvíamos os meninos chorando. Eles passavam o dia fora e deixavam as crianças chorando em casa, sem comida. Era um casal intimidador. Tínhamos medo de virar alvo e ficávamos neutros. Nessa quarta, a minha esposa resolveu chamar o conselho [Conselho Tutelar], e foi quando recebemos a informação da morte de uma das crianças”, comentou.

A diarista Maria Josué, 56, é vizinha do casal e mora na casa onde as crianças pediram comida na manhã dessa quarta-feira (29/05/2019). “Nós sempre dávamos. Às vezes, ouvia as crianças gritando e perguntava o que estava acontecendo, mas eles diziam que não era nada. Nesse dia, ele se arretou, ficou com raiva e fez o que fez”, observou.

Ela comentou ainda que tinha um bom convívio com Bruno. “Ele vinha aqui e conversávamos. As crianças deles também brincavam com as minhas. Nunca havíamos visto marcas. Eles andavam sempre limpos, calçados e vestidos. Estou chocada”, apontou Maria.

Vídeo feito por policial na hora da ocorrência:

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