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“Ainda não estou acreditando”, diz viúva de professor morto por aluno

Daiane Alves, 31 anos, definiu o marido, Júlio Cesar Barroso, 41, como pai, marido e profissional exemplar. Ele também deixa dois filhos

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Homenagem a professor executado
1 de 1 Homenagem a professor executado - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Esposa do professor e coordenador do Colégio Estadual Céu Azul, Júlio Cesar Barroso de Souza, 41 anos, a técnica em enfermagem Daiane Alves, 31, não se conforma com o assassinato do marido.

“Ainda não é possível acreditar no que aconteceu. A ficha não caiu. Estávamos juntos há 15 anos e eramos casados há oito. Vai me fazer muita falta”, comentou a viúva ao Metrópoles na manhã desta quarta-feira (01/05/2019).

“Júlio era um pai, marido e professor exemplar. Temos um casal de filhos pequenos, de 3 e 6 anos, e eles estão muito tristes. Provavelmente não compreenderam que nunca mais vão ver o pai. O que sinto agora é dor. Vamos seguir a vida. Vou trabalhar para cuidar dos meus filhos, que é o que ele também faria”, lamentou.

O coordenador foi executado a tiros, na tarde de terça-feira (30/04/2019), dentro da sala de professores da escola. O adolescente de 17 anos apontado como autor dos disparos foi apreendido por policiais do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) de Valparaíso (GO), por volta das 12h30 de quarta-feira (01/05/2019), no Pedregal (GO), no terreno da casa de uma conhecida da família dele.

A própria mãe levou a polícia ao local. O jovem estava escondido em cima de uma árvore. A informação foi confirmada pelo delegado responsável pela investigação, Rafael Abrão. O menor foi conduzido até o Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) do Céu Azul.

O velório de Júlio Cesar está previsto para começar às 19h desta quarta-feira (01/05/2019), na Capela Divino Espírito Santo, em Santa Maria, e durar a noite toda. O sepultamento vai ocorrer às 8h desta quinta (02/05/2019), no Cemitério de Brazlândia.

Homenagem
Um dia depois do assassinato, professores se reuniram em frente ao colégio para prestar homenagens à vítima e pedir mais segurança nas instituições de ensino da região. Muito emocionados e vestidos de preto, em sinal de luto, lembraram os últimos momentos do colega e o terror que passaram na tarde de terça-feira (30/04/2019).

A professora de artes visuais Maria Florência Benitez, 57, disse que foi uma das primeiras a ver o coordenador caído no chão, ensanguentado. “Estava entrando em sala para começar uma aula quando ouvi quatro disparos. Vi de longe o pé dele e achei que ele ainda estava vivo. Saí correndo e, ao entrar na sala dos professores, o Júlio estava agonizando”, contou.

A educadora disse que ficou ao lado do colega, segurou a mão dele e pediu para que não se mexesse. “A cena ficará marcada para sempre na minha cabeça. O Júlio Cesar era um professor íntegro, sereno. Muito querido e reservado. Perdemos um grande companheiro”, destacou.

A coordenadora pedagógica Aline Arantes, 37, trabalhava lado a lado com a vítima. “Um cara tranquilo que jamais levantou a voz para alguém. Uma excelente pessoa. Ficamos muito surpresos. O aluno tinha um perfil intimidador, mas nunca pensamos que isso poderia acontecer aqui. Estamos muito abalados”, pontuou.

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Aline clama por segurança. “Se tivéssemos [segurança], isso não teria ocorrido. Um aluno jamais pode entrar em uma escola armado. Queremos respeito. Temos medo. Nos sentimos ameaçados a todo momento. Até mesmo por isso não levamos em consideração o fato de o aluno ter sido ríspido com o Júlio. Isso nunca tinha ocorrido aqui. Temos uma clientela difícil, mas não imaginaríamos que chegaria a esse ponto”, salientou.

A professora Simonilva Alves Soares, 46, dá aula em outro município goiano, mas já ocupou o cargo de tutora, em 2018, no Colégio Estadual Céu Azul. “Eu ficava responsável por fazer os relatórios com as demandas, além de mediar os conflitos e solucionar os problemas na escola. O Júlio assumiu o meu lugar em agosto do ano passado, quando não aguentei e pedi para sair”, disse.

Conforme relato da docente, a outra diretora costumava dizer que a escola era uma “bomba-relógio”. “O Júlio veio de Águas Lindas de Goiás para dar continuidade ao meu trabalho e, infelizmente, não teve a mesma sorte que eu, acabou falecendo aqui. A segurança sempre foi frágil”, contou.

O acusado do homicídio é um aluno do segundo ano do ensino médio. Ele entrou uniformizado, com um revólver na cintura, e executou a vítima a sangue frio.

No momento do crime, os estudantes saíam das salas para o intervalo. Houve pânico, corre-corre e gritaria. Muitos se esconderam dentro das salas de aula e chegaram a pensar que se tratava de um ataque como o de Suzano, em São Paulo. Outros deixaram o colégio pela porta principal, que fica ao lado de uma feira popular do município goiano, localizado a 35 km de Brasília.

Reprodução
Júlio Cesar, a vítima, era casado e deixa dois filhos, de 3 e 6 anos

 

Testemunhas contaram que o estudante teve uma discussão com uma professora na manhã de terça-feira (30/04/2019). Após saber que o garoto xingou a docente, o coordenador Júlio chamou a atenção do garoto – disse que ele seria transferido. O adolescente retrucou: “Isso não vai ficar assim. Você não sabe com quem está mexendo.”

Em seguida, deixou a escola. Voltou à tarde, armado. Como estava uniformizado, conseguiu entrar na instituição de ensino. Logo após, invadiu a sala dos professores e teve uma breve discussão com a vítima. Minutos depois, o estudante disparou contra o coordenador.

O delegado Rafael Abrão informou que, primeiro, o atirador acertou a cintura de Júlio César, pelas costas. A vítima correu e caiu. Em seguida, levou um tiro na cabeça quando já estava no chão. À curta distância. Outros dois disparos foram feitos, mas não teriam atingido o educador.

Matheus Garzon/Metrópoles
A comunidade escolar se comoveu com a tragédia

 

“Desespero”
Um aluno do sétimo ano do ensino médio disse que estava no galpão ao lado da sala dos docentes na hora. “Bateu o sinal para a troca de professores. Eu estava na aula de educação física e ouvi os tiros.” Ainda de acordo com o rapaz, foram momentos de desespero. “A princípio, achei que era brincadeira, mas, quando todos os professores correram para o galpão, vi que era sério”, relatou.

Outro estudante, do oitavo ano, diz ter visto o coordenador minutos antes do assassinato. “A gente estava na aula de matemática e ele passou para recolher nossos trabalhos. Gente boa, falava com todo mundo. Uma pena”, lamentou.

No momento do crime, ele estava no portão da escola. “Ninguém sabia direito o que aconteceu. Foi só uma correria. Os alunos não têm acesso ao portão de trás, então era muita gente para uma saída.”

Ao ouvir os disparos, uma estudante disse ter alertado a uma professora que ainda estava em sala de aula. A docente teria achado que se tratava de bombinha. Quando saiu, deu de cara com uma cena chocante. O professor estava caído no chão, ensanguentado. Socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ainda tentaram reanimá-lo, em vão.

Por meio de nota, a Secretaria de Educação de Goiás informou que “uma equipe composta por psicólogo, assistentes sociais e integrantes da Superintendência de Segurança Escolar prestará apoio à comunidade e à família da vítima”.

Preocupação em todo o país
O caso ocorre pouco mais de um mês após o massacre na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), quando dois ex-alunos assassinaram oito pessoas e se mataram em seguida.

Devido à tragédia, o Governo do Distrito Federal (GDF) decidiu, em 19 de março, reforçar a segurança nas escolas públicas, especialmente após uma série de ameças que unidades de ensino local passaram a receber.

Em reunião com os secretários de Educação, Rafael Parente, e de Segurança, Anderson Torres, e a comandante-geral da Polícia Militar, coronel Sheyla Sampaio, o governador Ibaneis Rocha (MDB) decidiu aumentar o contingente policial nas unidades de ensino.

Além disso, serão intensificadas as rondas das equipes da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) em torno dos colégios.

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