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Em áudio desesperado, filha diz que pai está com coronavírus na Papuda

Notícia chegou após Auritinha da Silva ficar duas semanas sem ouvir a voz do pai ou ter informação sobre o estado de saúde dele

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Área da Papuda
1 de 1 Área da Papuda - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Em áudio enviado a Andrea Haas, mulher de Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, a filha de um preso do Centro de Detenção Provisória (CDP), localizado no Complexo Penitenciário da Papuda, demonstra desespero ao saber que o pai foi diagnosticado com o novo coronavírus. Floriano Ribeiro da Silva, 75 anos, é da mesma ala onde Pizzolato cumpriu pena.

A notícia chegou para a moradora de Ceilândia após ela ficar duas semanas sem ouvir a voz do pai ou ter qualquer informação sobre o estado de saúde dele. Ao Metrópoles, Auritinha Nunes da Silva, 46, conta que a família está muito preocupada. Temendo a Covid-19, os filhos do interno já tentavam, na Justiça, a liberação do idoso. Deficiente visual, além de ser do grupo de risco, Floriano enfrenta problemas de hipertensão, teve pneumonia e estava com a imunidade baixa devido a uma gripe.

Confira o áudio

Auritinha explica que, há 15 dias, recebeu uma ligação do presídio de poucos minutos. Segundo ela, o servidor apenas informou que Floriano testou positivo para o novo coronavírus, foi isolado com outros detentos, também diagnosticados com a doença, e, até aquele momento, não precisava ser entubado.

“Me passaram um e-mail. A promessa era de que poderíamos nos corresponder por lá. No entanto, o endereço simplesmente não funciona. Ninguém responde e, muitas vezes, a mensagem acaba voltando. Estamos batalhando há meses para tirá-lo daquele lugar. Já colecionamos quatro pedidos negados, mas não vamos desistir. Ontem (quinta) mesmo, o nosso advogado entrou com outro pedido de extrema urgência”, contou a filha do idoso.

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“A nossa preocupação é porque conhecemos a real situação do presídio. É precária. Da última vez que tivemos contato, em uma ligação que durou exatamente um minuto e meio, meu pai já estava com sintomas de gripe. Ele nos pediu para enviar paracetamol, mas o presídio não aceitou o medicamento. Também sempre reclamava de dores no peito. Já procuramos os direitos humanos e a Justiça, sabemos que até medicação que eles fornecem é vencida. Meu pai precisa sair de lá”, disse, emocionada.

A mulher relata que o sentimento é de desespero. Ela não consegue dormir à noite e teme o pior. Na representação enviada à Justiça, o advogado do caso, Valdivino Clarindo Lima, ressalta que o interno precisa ter o contato com a família, “até porque a situação poderá ser fatal diante da idade e da existência de doença crônica”.

Angústia generalizada

O sentimento de Auritinha é compartilhado por outros familiares de presos da Papuda. “A sensação é de que estou cumprindo a pena junto com ele. Não consigo comer, dormir ou ter qualquer notícia. Não posso olhar nos olhos e saber se ele está bem, ouvir a voz. Isso está me matando a cada dia.” O relato é de uma mãe que tem o filho encarcerado no Complexo Penitenciário da Papuda. Sob a condição de não se identificar, a mulher revelou que está há dois meses sem qualquer contato com o rapaz.

Ela chegou a contratar um advogado na esperança de obter informações. As notícias, no entanto, só vão chegar no final do mês, única data em que o defensor conseguiu agendar a videoconferência. A falta de comunicação fez um grupo de mulheres se reunir em frente ao Palácio do Buriti nessa quinta-feira (07/05). Com faixas que exibiam pedido de socorro, elas cobraram do governo uma solução.

Em uma ata entregue aos representantes do gabinete do governador Ibaneis Rocha (MDB), as famílias elencaram sugestões de medidas que podem ser adotadas na Papuda. Entre elas, liberação da videoconferência com o advogado e ao menos um familiar; permissão de ligações para que os internos entrem em contato com as famílias; transparência nas informações; e envio de correspondências com agilidade.

Os parentes solicitaram, ainda, liberação dos internos com progressão até dezembro; transparência com relação ao andamento do Hospital de Campanha; boletins diários com os nomes dos internos, blocos, alas e celas dos infectados; e liberação daqueles que têm direto ao trabalho externo para passar a quarentena ao lado dos familiares. O grupo também foi atendido por representantes da Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe).

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359 casos

As visitas na Papuda estão suspensas desde 12 de março, pouco depois de o DF registrar o primeiro caso da doença. O complexo já ultrapassou todas as regiões do Distrito Federal e se tornou uma das principais preocupações do governador Ibaneis Rocha (MDB) no enfrentamento à Covid-19.

Levantamento divulgado pela Sesipe, nessa quinta-feira (07/05), informa que, até agora, são 359 infectados pelo novo coronavírus no complexo. Do total de pacientes, 101 são policiais penais e 258, detentos. São 39 agentes e 68 presos recuperados.

O governador Ibaneis Rocha disse ao Metrópoles, na manhã desta sexta-feira (08/05), que a expansão da doença no sistema prisional estaria estabilizada. “Isso se deu em função do isolamento, dos novos blocos e de transferência dos infectados para uma área reservada somente aos doentes.”

O outro lado

Procurada pelo Metrópoles, a Sesipe informou que passou a disponibilizar, desde o final do mês passado, mais um canal para troca de mensagens entre familiares e internos durante o período de suspensão de visitas em decorrência da Covid-19. “As mensagens também podem ser enviadas por meio do site da Sesipe, no link do cadastro de visitantes”, diz a nota.

A subsecretaria acrescentou que reeducandos em quarentena ou contaminados pela Covid-19 também estão contemplados com a medida. “Independentemente das mensagens, informações do estado de saúde de cada interno estão sendo repassadas às famílias por meio das equipes das unidades prisionais”, destacou.

A Sesipe pontuou, ainda, que as ligações telefônicas continuam a ser permitidas aos internos idosos, alocados no Bloco 5 do Centro de Detenção Provisória, que cumprem pena na Ala de Tratamento (ATP) na Penitenciária Feminina do Distrito Federal (PFDF), bem como aos custodiados em hospitais.

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